QUARENTA E DOIS

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Solto um bocejo longo, apertando meu cardigã preto com mais força ao redor do corpo

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Solto um bocejo longo, apertando meu cardigã preto com mais força ao redor do corpo.

Ilha Bela acordou nublada e subitamente o termômetro baixou uns dez graus. Para nós, baianos acostumados com verão em todas as épocas do ano, qualquer mudança abrupta no tempo já é motivo para se agasalhar por inteiro.

Estou sentada na barraca montada perto do terreno do lado de fora do hotel, tomando meu segundo café do dia e aguardando por Diego.

Esperar por outras pessoas sempre me deixa com um mau humor generalizado e cada minuto que se passa, me sinto ficar mais rabugenta.

Eu odeio atrasos e o meu assistente resolveu ser impontual em seu primeiro dia — quando até me comprometi em acordar às seis da manhã, chegar aqui mais cedo e lhe ensinar sobre tudo o que precisa saber sobre o meu projeto. 

Diego finalmente cruza as portas duplas do salão com um sorrisão animado que não combina nada com meu atual estado de humor.

Seu cabelo úmido está penteado para trás com gel e a roupa perfeitamente engomada. Meu Deus, ele realmente se veste feito um playbozinho da capital.

Estremeço ao ter flashbacks traumáticos da minha época de estudante da federal, quando eu precisava conviver bastante com esse tipo de cara.

— Bom dia, chefe!

— Está atrasado — Eu respondo, seca.

Diego cai na cadeira ao meu lado, envenenando o ar ao meu redor com o cheiro da sua loção pós barba.

— Quinze minutos, Madá. Me dê um desconto, sou novo na cidade. Falando nisso, que lugarzinho adorável aqui, ein? Tem tudo que uma cidade grande precisa mantendo a essência de cidade pequena.

Olho para ele um pouco surpresa enquanto beberico do meu copo fumegante de café.

— É, eu descreveria Ilha Bela exatamente assim. Ela é mesmo adorável.

— E você escolheu se mudar para Salvador tendo essa pérola escondida aqui? Não pensa em voltar?

Esse é um tópico sensível no qual não gosto de pensar. Amo Ilha Bela com todo o meu coração, mas a minha vida é em Salvador.

Sem contar que as oportunidades de emprego lá são bem melhores.

Porém, agora eu tenho o Aidan aqui não faço ideia de como ficaremos quando eu tiver que deixar a cidade.

Fico de pé, quase pulando da cadeira.

— Vamos deixar de papo e ir trabalhar? Temos muito o que fazer hoje!

Diego se levanta, entendendo que não quero falar sobre o assunto.

— Sim, senhora. Por onde começamos?


MORDE E ASSOPRAWhere stories live. Discover now