MORDE E ASSOPRA

VINTE E DOIS

22. Engolindo sapos

x x x

Para a minha sorte, encontrar roupas pretas no meu armário não foi uma tarefa difícil.

Mesmo sem entender qual a necessidade desse pedido específico de Aidan, coloco uma blusa preta do Metallica e um short jeans.

Pronto, este é o melhor que eu posso fazer acordando tão cedo em um domingo.

Bocejo bem alto enquanto estou na porta de casa esperando por ele, começando a me arrepender de ter ficado até as altas horas da madrugada explicando tudo que aconteceu para as meninas.

Pelo menos saber da história na íntegra fez elas se acalmarem e se tornarem um pouquinho toleráveis com a ideia de começar a tê-lo por perto.

Apesar de sentir que ainda se preocupavam comigo, não havia muito o que se fazer.

Eu também custei a aceitar quando Aidan disse que nos havíamos tornado amigos — ou uma relação simbiótica muito próxima disso — sem nem ao menos perceber. Para mim esse fato era inconcebível até ontem à noite, quando vi tudo que ele era capaz de fazer se eu precisasse, sem ter segundas intenções por trás.

Não fazia mais sentido rejeitar essa situação e conclui que aceitar essa amizade seria a forma de simplificar as coisas e talvez tornar tudo mais claro.

No entanto o tiro saiu pela culatra: Eu claramente não conhecia todos os aspectos de Aidan e depois da nossa conversa e do jeito como ele foi embora, com aquela despedida, as dúvidas aumentaram e eu me vi mais perdida do que antes.

Descobrir essas novas camadas sobre ele não me assusta, apesar de tudo.

De alguma maneira inconsciente e sem explicação me vejo mais compelida e interessada a ficar por perto e descobrir o que Aidan Rael esconde por baixo da faixada de Galã Indiferente. Mesmo que isso seja um risco para mim.

Como Alice sabiamente aconselhou ontem, era melhor não ficar pensando muito no que significava a nossa relação ou tentando dar sentido para tudo. "Deixa as coisas seguirem seu curso natural", disse ela.

E por mais que seja um bom conselho, não sei se existe nada de natural ou normal entre Aidan e eu.

Somos as duas pessoas mais improváveis, opostas e divergentes que existem. Me parece que somos a receita perfeita para o desastre... Mas que por algum motivo deu certo.

Pelo menos por enquanto.

E falando do diabo...

Observo a Land Rover preta parar na porta da minha casa. Os vidros escuros deslizam para baixo e sou brindada com o belo sorriso do motorista.

Maldito sorriso que sempre me esquecer todos os motivos para não querer levar isso aqui adiante.

Aidan Rael olha para mim por baixo dos óculos de sol e diz:

— Bom dia — Seu olhar me analisa brevemente da cabeça aos pés. — Então a banda do dia é Metallica?

— Parece que sim...

Abro a porta e sento no banco do passageiro, bocejando de novo. Meus olhos ainda pesam com o tanto de sono que eu sinto.

— Caiu da cama, anjo?

— Sim, para acordar tão cedo como vocês pediu, foi basicamente isso.

Aidan assente.

— É, deu para perceber pela sua cara amassada. Tá com a marca do lençol na bochecha...