Capítulo IV

128 25 0
                                    

━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━
Dar O Braço A Torcer
━━━━━━━━━━

     Dio parecia de ressaca, bebia a água que Erina lhe conseguiu como se estivesse no deserto há tempos.

Caminhavam pela rua, àquela altura, longe do campus, para onde a beta indicara como sendo o ponto do tal cara que vendia inibidores mais fortes.

Precisou dar o braço a torcer; teve medo de sair do quarto, ser abordado e inspecionado por algum chato de galochas da universidade, além de advertido apenas pela sua cara exaustiva que, claramente, dizia "estou no cio" para quem quisesse ver, ou ser expulso ao ser identificado como o ômega que entrara no dormitório alfa incitar a ereção alheia.

Nem em seus piores atos de rebeldia seria uma boa ideia se expor dessa maneira. Era mais fácil tacar pó de mico nos uniformes dos alfas do time de futebol, pela proibição da participação de um ômega no campeonato. Ou quando ele e Vanilla explodiram o armário de um inspetor, acusado de roubar dinheiro das alunas betas, descobrindo que o tarado-psicopata não roubava apenas a grana.

Isso tudo era fichinha perto do que era lidar com o ciclone turbulento de sensações que acometia o seu corpo por causa daquele feromônio que o arrebatou. Não esperava que acontecesse desse jeito. Pois nunca sentiu-se assim em todos esses anos.

Na adolescência, quando entrara no período fértil pela primeira vez, escondera-se de seu pai – e praticamente do mundo – com medo do que poderia lhe acontecer. Apesar de assustado e sem qualquer conhecimento de causa, Dio seguira a sua intuição sobre o que fazer para se aliviar daquela explosão hormonal. E acabava se divertindo ao se conhecer e descobrir como gostava de se tocar... Até a chegada de Enrico, seu novo vizinho.

O garoto era o completo oposto de Dio; muito mais calmo, de fala mansa e sorriso fácil. Cativara Dio em pouquíssimo tempo. E Enrico se tornara o seu refúgio quando Dário, bêbado e violento, transformava a sua vida num completo inferno, principalmente quando questionava sobre os seus cios.

Por que esse merda quer saber disso? – Dio resmungara para Enrico, sem conseguir evitar as lágrimas que rolaram sem controle em seu rosto, ainda que os seus olhos de cor âmbar irradiavam o puro ódio que sentia pelo progenitor.

Vendo o recente amigo abraçando as próprias pernas, sentado no chão do esconderijo que, juntos, reivindicaram, Enrico se sentara ao seu lado.

Não deixe ele saber quando você estiver assim, ele é um alfa, se achará no direito de ter com você antes de qualquer outro que você venha querer como companheiro.

As palavras de Enrico o acertaram como um soco inesperado na boca do estômago. Aquilo era um pesadelo. Pensar na possibilidade de ser tocado por aquele homem, deixava Dio em completo desespero. Antes de deixar o medo lhe dominar, porém, virara-se para Enrico com chamas nos olhos.

Eu mato esse lixo antes! – O garoto parecia rosnar.

Quero te ajudar. – A tranquilidade de Enrico o desconcertara.

Dio abrira a boca para dizer alguma coisa, protestar ou planejar o que eles poderiam fazer, mas nada saíra de lá.

Contudo, Enrico havia se aproximado demais de seu rosto para, sem aviso, depositar aquilo que seria o primeiro beijo de ambos. Um selinho, que durara um milésimo de segundo, que fizera os seus corações retumbarem em seus ouvidos.

Dera o braço a torcer, precisava da companhia de Enrico mais do que imaginara. Surpreendera-se que o seu cio engatilhava o do garoto e, com isso, passaram a se aliviar juntos; experimentando, explorando e se descobrindo mais naquela relação jovial e proibida.

Âmbar No Azul-Celeste [✓]Where stories live. Discover now