Capítulo VII

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Um Mal-Entendido
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     Jonathan nem percebeu o tempo passar.

Havia acompanhado Jotaro até o pátio, mais o ouvindo falar do que participando da conversa e o mundo ao seu redor parecia, de repente, letárgico, mais do que antes. Os pássaros sobrevoaram o campus de uma árvore para outra e Jonathan teve certeza que aquelas pequenas aves, por um minuto interminável, congelaram em pleno ar.

O peso que a mão de Jotaro fez sobre o seu ombro foi desconfortante, muito mais forte do que normalmente seria. Assustou-se com o rosto preocupado do irmão surgir na sua frente, que lhe chamava, embora não ouvisse mais a voz dele.

O mundo perdia os sons que reverberavam no dia após dia – os ruídos e seus cantos –, se tornando abafado e silencioso e, de repente, fosco e sem luz, pois perdeu-se também a paisagem daquele entardecer de domingo.

Quando acordou, Jonathan voltou a ver o mundo como ele deveria ser, porém, não reconheceu o teto do seu quarto. Sabia que ele era azul e não branco. E aquela divisória não existia. Saberia se fosse sua. Ao menos, não deveria estar ali. A não ser que estivesse sonhando de novo. Mas não se lembrava de quando voltara para o seu quarto e ido dormir. E por quanto tempo dormiu? Não havia janelas ali. Se conseguisse ver além daquela cortina da divisória, saberia se era dia ou noite. Contudo, as pálpebras voltaram a pesar sobre os seus olhos, sentindo-se cansado demais para tentar se levantar daquela cama. Onde quer que estivesse, permaneceria, afinal, não estava com pressa para solucionar esse problema.

Então, foi como um piscar de olhos, apenas.

Passos, cadeira sendo arrastada e falatório que pareciam zumbidos o despertaram de um sono sem sonho. Desta vez, Jonathan notou uma diferença gritante; não havia mais a divisória com a cortina ao redo de sua cama, mas uma mulher vestida de jaleco branco se aproximou assim que ele pensou em chamá-la.

— Olá, Jonathan Joestar, como se sente hoje? – disse ela, com uma voz jovial e tranquila.

Jonathan se sentia ainda bastante sonolento e demorou para falar, em parte também era a surpresa por ela o conhecer pelo nome e sobrenome enquanto ele mesmo estava perdido na ignorância em relação a todo o resto.

— O-o que aconteceu? – A sua voz estava embargada e a garganta seca. Eram sinais claros de que estava dormindo por muito tempo, embora não fizesse ideia do quanto.

Olhou para os lados e avistou outros deitados em leitos, com bolsas de soro penduradas em suportes, assim como ele mesmo tinha a sua própria, e um ou outro desses enfermos era visitado por pessoas de uniforme azul escuro.

A moça de cabelos longos, dourados e de grandes olhos azuis procurou uma prancheta com o prontuário na grade da cama de Jonathan que, àquela altura, compreendia que estava no hospital ainda que não soubesse o motivo da sua estadia. Por isso, ele aguardou pacientemente pela avaliação da doutora e pela informação que ela lhe passaria.

Entretanto, se pegou curioso quanto a idade dela, supondo que ela fora designada para tratá-lo. A doutora era muito mais jovem a passo que se via com muito mais frequência homens velhos usando esses mesmos jalecos brancos. Essa mudança agradou-lhe profundamente. E, percebeu tardiamente que ela falava sobre a sua internação.

— ... e ingerir, mesmo nessa quantidade, poderia levá-lo a óbito. Você... está disposto a me contar por que tomou tantos comprimidos? – A doutora abraçou a prancheta, direcionando o seu olhar preocupado e acolhedor para o paciente.

Neste momento, Jonathan se deu conta do mal-entendido: Jotaro não tinha como saber que ele já havia tomado dois calmantes alfa após a reação ao feromônio invasor. E Jonathan tomou o que ele ofereceu, acreditando que o efeito dos que tomara já havia passado, principalmente diante de sua raiva aflorada, àquela vontade crescente de quebrar a cara dos alfas nos chuveiros que falavam obscenidades sobre o... seu... ômega.

Âmbar No Azul-Celeste [✓]Where stories live. Discover now