Capítulo XXXVI

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Baterias Não Têm Lugar Nos Dormitórios
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Já era a quarta vez que entrava numa cabine de banheiro, aos trancos e barrancos, e despejava pela boca o que já não tinha, direto à privada. A dor no estômago beirava o insuportável e nem a pura água o órgão rebelde aceitava mais de bom grado.

— Não... aguento... mais... – lamuriou, apoiando as mãos sobre o assento da privada enquanto o seu corpo era assolado por ânsias terríveis.

Havia posto para fora todo o café da manhã e depois, o que tentou comer de almoço. E por teimosia, não fora à enfermaria ao primeiro sinal de alerta, pois sabia o que seria especulado sobre a causa dos vômitos antes mesmo de um verdadeiro diagnóstico ser feito.

— Precisa de ajuda? – uma voz desconhecida indagou de dentro do banheiro.

Os barulhos seguintes das portas sendo abertas das cabines vazias afirmavam que alguém estava à sua procura.

Com muito esforço, tratou de trancar a porta da cabine que ocupava, sabendo que cedo ou tarde bateriam ali e talvez forçariam a entrada, mas seria como uma mensagem clara de que não queria ser perturbado por ninguém e que ninguém devesse lhe ver naquele estado humilhante.

Fingiria-se de cego, surdo e mudo enquanto permanecesse ajoelhado, quase abraçado à privada feito um bêbado que ultrapassou o limite do bom senso e agora jogava fora o restante de dignidade que ainda podia ter.

Mas o seu corpo – o estômago, mais precisamente – fez questão de responder a pergunta do outro com uma forte e barulhenta ânsia, que reforçava a ideia de que estava, no mínimo, terrivelmente doente.

— Dio, não é? Você não está bem? – indagou obviedades novamente, agora em frente à porta da cabine ocupada por Dio.

— Me... deixa... em paz... – conseguiu responder com o máximo de repulsa que conseguiu transmitir em sua voz.

— Sou eu, Polnareff – disse como se Dio fosse realmente se lembrar de alguém que sequer se importava. — Entreguei a chave do seu quarto, semanas atrás, está lembrado? – perguntou esperando que este detalhe fosse o suficiente para elucidar a sua mente e funcionou, pois Dio se lembrou do francês platinado.

O estômago deu uma breve trégua. Não parou de doer, mas as ânsias violentas foram amenizadas e Dio pôde respirar, pegar um pedaço do rolo de papel higiênico e se limpar. Sentou-se no chão e apoiou a testa nos braços. Queria morrer ali mesmo...

Ignorando o francês – que insistia em saber o que não devia ser de interesse dele –, Dio tentou se concentrar nas possíveis causas daquele inusitado mal-estar; como uma provável... intoxicação alimentar. É óbvio! Porém, nada do que comeu – ou o que tentou – fugia do cardápio usual. E caso tivesse sido de contaminação por manuseio negligenciado por parte da equipe do refeitório, outros alunos teriam apresentado sintomas similares, o que aparentemente não aconteceu.

Demorou para pensar em outra causa justificável, mas descartou o mais rápido possível aquela que insistia em perturbar a sua mente como uma goteira incessante de uma torneira quebrada, porque tinha a mais absoluta certeza de que Jonathan seria um alfa morto a essa hora caso tivessem se atado.

Da primeira vez quando, da parte do ômega, o cio ainda ditava as regras – sendo este um período extremamente perigoso –, o alfa lhe garantiu que não houvera o nó. E Dio atestava a afirmação como verdade. Afinal, ele mesmo saberia se tivesse acontecido... Entretanto, após Jonathan ter aprontado aquela festinha surpresa ridícula, Dio não se lembrava com exatidão dos momentos seguintes daquilo que poderia ser chamado de "o verdadeiro primeiro encontro".

Âmbar No Azul-Celeste [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora