Capítulo LVI - 2009

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Reconciliação
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Dio não sabia até aquele momento que podia ser verborrágico mesmo se dado conta do que estava prestes a contar.

As memórias de vinte anos atrás simplesmente vieram à tona: fevereiro, à noite, um dia após o acidente, cinco meses de gravidez.

Foi quando o pesadelo aconteceu.

Dio ainda se sentia confuso quando acordara no hospital, mas assim que sentira a voz – um tanto abafada – de Jonathan rondar a sua consciência, não tivera medo. Repousara a mão sobre a própria barriga visivelmente avantajada, lembrou-se, e soubera ali, por pura suposição, que todos estavam bem, o cinto salvara suas vidas: seu companheiro predestinado e o fruto dessa união.

Não vou conseguir, Dio...

A voz do alfa parecera fraca demais.

Na cama, Dio procurara por Jonathan pelo quarto, que não tinha mais ninguém ali além dele mesmo. A porta ao lado se encontrava aberta, bem escancarada. E de onde estava, dava apenas para ver o vai e vem de gente pelo corredor e que nunca parava sequer para olhar o paciente preocupado com o seu amado alfa.

O que quer dizer com isso, JoJo? – dissera em voz alta, lembrou-se, remexendo-se na cama e sentindo todos os músculos e os seus ossos doloridos embora estivera continuadamente medicado conforme o soro continuava conectado às costas da mão esquerda.

Me prometa, Dio, que... ficará firme e cuidará de nosso filho...

A boca de Dio secou assim como secara daquela vez ao se lembrar daquele pedido.

Engolira em seco.

Por alguma razão, o elo consciente que existia em decorrência da marca, a cada minuto, se tornava frágil, como uma corda que perdia os fios ao ceder por uma força maior. Lembrou-se do desespero nascendo dentro de si por não saber o que estava acontecendo e como poderia impedir que tudo aquilo pudesse acontecer.

Se pudesse evitar, não precisaria fazer qualquer promessa idiota...

Dio... Me perdoa... por favor...

NÃO! Gritara mentalmente ao visualizar a corda que ligava a sua mente ao de Jonathan se partir fio a fio com rapidez. Incontrolável, e o pior de tudo, inevitável.

Seja forte... por vocês... dois... que amo... muito...

Fora como um apertar de um interruptor.

Não houvera aviso prévio ou uma mera despedida adequada, mesmo que sequer uma despedida fosse o seu desejo. A sensação de desamparo num misto de calafrios tomara conta de seu corpo.

Dio se encontrava mais uma vez sozinho. Não como da vez que Jonathan blindara a própria mente para que o ômega não pudesse vasculhá-la. Sentira-se como se o chão que o sustentava até o momento tivesse simplesmente desaparecido debaixo dos seus pés, como quando recebera a notícia da morte de seu progenitor e tivera que enfrentar o mundo que oprimia os omegas sem família e que costumavam andar fora da linha absolutamente sozinho.

A princípio, percebera a movimentação mais acelerada dos funcionários do hospital para um lado do corredor. E então, depois de um minuto ou dois, mesmo sendo incapaz de acreditar que todos aqueles anos que passara ao lado daquele alfa – sem mencionar os anos ruins – tinham finalmente chegados ao fim daquela maneira abrupta e cruel, Dio finalmente compreendeu o que acontecera.

E por mais sedado que estivesse, desconfiava que pudesse existir um remédio que amortecesse a dor que o atingira a alma, como o caminhão que os pegara em cheio na noite do acidente.

Âmbar No Azul-Celeste [✓]Where stories live. Discover now