Capítulo XLVII

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Pessoas Magoam Pessoas
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     Jonathan não tinha intenção de trocar olhares com Dio na cozinha, mesmo porque, duvidava de que Noriaki tivesse êxito em trazê-lo para o chá, mas foi mais forte que ele.

A sua preocupação momentânea se misturou subitamente com uma espécie de fascínio relutante, no entanto, conseguiu fechar os olhos por um segundo e encobrir a dor. Foi como fugiu daquele olhar do ômega, tão carregado de súplica, enquanto agradecia os empregados pelo serviço.

Se convenceu de que este seu ato falho serviu somente como confirmação do estado quase deprimente que o ômega se encontrava após a breve discussão que tiveram mais cedo, além da persistência do silêncio que Jonathan perpetuava, não permitindo que nenhum pensamento do ômega – ou mesmo o seu – resvalasse de uma mente para outra, por receio.

Receio de se agarrar à crença de que, no fundo, Dio lhe amava embora não soubesse demonstrar o mínimo de afeto sem estar no cio, mas Jonathan já não estava mais tão inclinado a aceitar essa situação.

E ainda que não tivesse 100% de domínio da arte do bloqueio mental, o alfa continuava a ignorar aqueles pensamentos que penetravam em sua mente vindos do ômega.

Antes fosse esse, porém, o seu maior problema.

Jonathan sabia que só estava se enganando de novo, porque não queria mais sentir a dor insuportável em seu peito com a lembrança da traição de Dio; ainda podia sentir o cheiro dele em Enrico, quando o encontrara no hospital. Queria tanto esmurrar a cara daquele maldito agente da banda... Contudo, se conteve, pois não agiria feito um animal irracional e sabia que, com Enrico, haveria outras maneiras de se lidar.

Agora, era Dio quem recebia doses generosas do próprio veneno de acordo com o tratamento exclusivo que gostava de proporcionar ao alfa; o desprezo e a indiferença.

A raiva de Jonathan se tornara tamanha que ele mesmo mal podia esperar para ver o ômega se arrastando a seus pés, pedindo perdão. E não, não havia prazer algum em se sentir daquele jeito, de ter tais pensamentos tão vingativos. Nunca fora assim. Mas Dio passara de todos os limites dessa vez e trouxera à tona uma persona que Jonathan não gostava de ver em si mesmo.

Entretanto, conseguiu se segurar, manter-se distante, diante de um ômega que claramente sofria com a solidão que Jonathan estendia entre os dois. Porque, o que ele lhe fez passar, não havia sequer comparação. Fora pior que qualquer resposta atravessada ou a rejeição após o coito.

Jonathan respirou profundamente ao sair da cozinha, com a dignidade minimamente restaurada. Subiu as escadas, segurando a bandeja com as duas mãos, concentrado demais em não deixar aquele jogo de chá feito de porcelana se espatifar no chão, para ninguém descobrir o quanto toda aquela situação com Dio verdadeiramente o afetava.

E seguiu para o quarto do patriarca, onde pôde observar Jotaro no meio da porta, como se esperando apenas a sua chegada.

O Joestar caçula, no entanto, franziu ainda mais a testa – como se fosse possível – quando Jonathan se aproximou, fazendo o alfa mais velho acreditar que havia alguma coisa grotesca no meio do rosto.

— Por favor – disse Jonathan com desistência —, não diz que tem um pedaço de bolo na minha cara... – Aproveitou o espelho pendurado na parede, acima de um móvel meramente decorativo no corredor, para se olhar. E nada encontrou.

Não aguentaria de vergonha se toda aquela mistura de emoções estampada na cara do ômega não fosse nada além de uma gargalhada contida porque o idiota do alfa ainda não sabia comer sem se sujar.

Âmbar No Azul-Celeste [✓]Where stories live. Discover now