Capítulo XLV - 1985

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Deixe Que Eu Lide Com A Dor
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Passaram mais um dia no hospital diante do quadro clínico de Dio.

Jonathan chegou a questionar a razão de postergarem a alta do seu parceiro ao médico que anunciou a permanência dele na internação, mesmo quando o ômega já não apresentava qualquer problema aparente.

— Estamos avaliando o perfil psicológico de todos os pacientes que tiveram casos de overdose – o médico respondeu em inglês, carregado no sotaque austríaco —, um profissional da área irá atendê-lo assim que possível.

E tiveram de esperar pela chegada do psicólogo.

E assim que a avaliação terminou, após uma hora inteira de conversa cansativa, o doutor assinou a alta de Dio e finalmente o liberou, e logo, eles partiram daquele hospital com as roupas enviadas por Enrico, deixando os dois mais à paisana.

De fato, ainda via-se repórteres na frente do hospital, dos quais Jonathan e Dio tiveram êxito em escapar sem chamarem a atenção, caminhando o mais próximo que conseguiram de duas senhoras baixinhas como se fossem os acompanhantes delas, dispersando a "camuflagem" quando chegaram à rua, conseguindo um táxi que os tirou logo dali.

Jonathan tinha a intenção de ir direto ao aeroporto e conseguir passagens para Londres, mas ele achou melhor se hospedarem num hotel para que Dio pudesse comer alguma coisa decente e para que ambos pudessem descansar.

Afinal, ainda sentia as suas costas travadas por ter passado horas dormindo de qualquer jeito na poltrona. E arrotava sem parar – não de maneira prazeirosa – a comida fornecida aos pacientes que Dio se recusou a comer no hospital.

E embora falar mal da comida tivesse sido um bom pretexto para que os dois voltassem a se falar, o alfa percebeu o quanto sequer queria conversar além do necessário com o ômega. O que não era um bom sinal.

No hotel – por insistência de Dio, acabaram se instalando em um cinco estrelas e Jonathan pôde usar o nome e endereço do agente Pucci para cobrança como vingança –, e após o check in, pegaram o elevador em completo silêncio.

Jonathan pôde sentir o desconforto como um manto pesado, posto sobre os próprios ombros, dificultando àquela simples viagem de elevador. Dio também permanecia calado e só respondia de maneira pontual com acenos de cabeça ou resmungos quando perguntado.

Ele usava uma blusa de frio com capuz, da cor preta, calça jeans e tênis. Jonathan não usava nada muito diferente disso, mas só acrescentou a blusa de capuz dada por Enrico para que ninguém o reconhecesse, contudo, mal podia esperar para mandar incinerarem aquela blusa só pelo fato de ter sido entregue em nome de Pucci.

Evitou de olhar muito tempo para Dio, ao seu lado, não por orgulho, mas porque não queria, mais uma vez, afirmar o quanto estava machucado por dentro por causa daquele ômega e por conta de seus atos.

Dio simplesmente poderia dar um fim definitivo nessa história, mas ele continuava nessa tortura infernal e tornando cada vez mais a relação insustentável. E por quê?

Como se o pensamento tivesse sido captado pelo ômega, Jonathan o ouviu falar assim que a porta do elevador se abriu:

— Farei a cirurgia se é isso que quer. – A voz dele soou como dobradiças enferrujadas, e manteve a cabeça baixa para não mostrar o quanto se sentia patético por aquela situação.

Âmbar No Azul-Celeste [✓]Where stories live. Discover now