Capítulo XLVIII

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Como Nos Velhos Tempos
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A manhã – que, mais tarde, marcaria a morte de Senhor Joestar – começara com o sol tímido entre as nuvens, mas logo se tornara nublada e cinzenta. Quando saiu da mansão às pressas, à tarde, Dio não imaginava se deparar com a desolação que fora submetido estando bem no meio de Londres, como se fosse novamente um desconhecido.

Puxou o capuz da blusa da qual vestia, sobre a cabeça, escondendo o cabelo loiro e o rosto para evitar ser reconhecido: bastava olhar para qualquer banca de jornal que houvesse na esquina para ver o próprio rosto estampado nas primeiras páginas dos jornais e revistas à venda, anunciando a promiscuidade de um líder inconsequente da maior banda conhecida do mundo, porque esse era o tipo de coisa que girava a economia, ultimamente.

O dia ficaria ainda mais carrancudo após aquela conversa mental com Jonathan, fazendo o ômega se sentir derrotado. Dissera exatamente o que JoJo desejava ouvir, embora não acreditasse muito naquela baboseira motivacional, ainda assim o fez acreditando que teria uma nova chance de se reaproximar dele. Mas, como resultado, o alfa dissera com todas as letras como lhe enxergava. E Dio não podia discordar – tiraria apenas a expressão "esforço" da sentença, já que ele mesmo não precisava se esforçar para ser desagradável quando queria ser.

E apesar de Jonathan ter se provado – a todo momento – que não era como os demais alfas que Dio encontrara na vida, o ômega era impelido a não mudar completamente a opinião sobre a classe. Afinal de contas, ele nunca esperou nada de bom do próprio pai; não se surpreendeu com a postura autoritária de Senhor Joestar para com os filhos; e imaginava que algo semelhante seria visto em Jonathan a qualquer momento... foi então que o episódio do hospital, a descrença do alfa quanto a sua força de vontade para controlar o próprio vício, comprovara o seu argumento e o de Enrico Pucci, que também sempre buzinava em seu ouvido sobre a suposta dominação que Jonathan sutilmente exercia sobre si.

E agora, o que queria fazer era testar a eficiência e extensão ou duração do comando de voz incutido em seus ouvidos pelo alfa. Pelo menos era nisso em que pensara ao praticamente fugir daquela casa.

Com o pouco dinheiro que tinha, Dio conseguiu contatar Enrico por telefone de um hotel e em menos de duas horas estava sobrevoando o país, a caminho de Munique.

— Não sabe o quanto fiquei preocupado com você – dizia Enrico, ocupando a poltrona de frente para onde Dio se encontrava sentado, naquele luxuoso jatinho particular. Perla, silenciosa como sempre, permanecia sentada no outro lado da aeronave, apenas observando aquela conversa. — Por que não me ligou assim que saiu do hospital? As pessoas estavam especulando que você havia sido sequestrado e...

Dio estava cansado de ouvir aquela ladainha.

— Pode calar a boca por um minuto?! – retrucou com impaciência. — O pai de Jonathan acabou de morrer... não quero saber o que o mundo tem a dizer sobre mim.

O silêncio durou alguns minutos.

— Por que não está com ele? – Enrico ajeitou a própria gravata roxa-escura do terno azul-marinho bem alinhado.

Para Dio soou como uma provocação do seu agente e não gostou disso. Mas a pergunta queimava dentro do seu peito quando deixou que ela ecoasse em sua mente em busca de uma resposta... ou de uma desculpa qualquer para fingir que não dava importância alguma para aquilo. No entanto, não estava mais disposto a mentir para si mesmo.

Não estava com Jonathan, porque era um convarde.

O que sabia sobre "consolar alguém"? Nada!

E, embora tivesse a intenção de deixar Jonathan lidando com a questão do pai, sozinho – não se vendo como grande ajuda após descobrir que o velho morrera –, Dio se sentiu arrependido por ter ido embora sem dizer nada... e a dor que resvalava do peito dele para o seu, com o passar do tempo, só aumentou a certeza de que cometera o maior erro de sua vida saindo de perto dele; do seu alfa.

Âmbar No Azul-Celeste [✓]Where stories live. Discover now