Capítulo XXX

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Marca De Nascença
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     Foi como um soco no estômago, porém, a sua mente fora o alvo principal, irradiando uma dor aguda que indicava que, a qualquer momento, o seu corpo expeliria tudo o que tivesse dentro, sem esquecer das próprias tripas. E a náusea que sentiu em seguida era a mesma de um golpe incapacitante.

Dio se apoiou em seus joelhos e cuspiu na calçada. Tentava recuperar o fôlego. Os pensamentos de Jonathan mesclados aos seus embaralharam até mesmo a sua percepção da realidade.

Mal sabia se estava apenas vasculhando a mente do alfa ou se havia praticamente teletransportado a própria consciência para o corpo do outro. O que, por si só, já seria uma tremenda loucura!

Por essa razão, Dio queria saber se isso, fosse qual fosse a explicação científica, acontecia com todos os casais marcados – apesar de nunca ter ouvido relatos similares ao que se passava com Jonathan – ou se era algo excepcional.

O que Jonathan tinha de diferente que causava essas experiências e sensações tão intensas?

Desculpa, Dio, dizia Jonathan por pensamentos, sentindo-se terrivelmente culpado. Nada disso era direcionado a você, me perdoe por ter te causado algum mal, por favor.

Não faça mais isso, sua voz alfa me machuca!, respondeu, irritadiço, contudo, antes que pudesse perceber, todo o mal-estar que sentia simplesmente desapareceu, como se o tivessem tirado com a mão.

Dio se recompôs, limpando a boca na manga da blusa e olhou ao redor – mas sem de fato ver – em busca de algum curioso em quem pudesse extravasar toda a sua raiva... ou essa ainda seria a raiva de Jonathan?

Berrou ante a dúvida, sem ligar para quem o testemunhasse em seu protesto.

WRYYY! Perdi o direito de ter a minha própria fúria!? Porra!

— He... he... – A risada de uma voz pigarreada surgiu atrás de Dio. — Gritar não vai resolver o problema, meu jovem...

Dio se voltou para trás e se deparou com uma senhora de cabelos grisalhos, de boca desdentada, abanando a mão direita à frente do corpo e usando roupas desbotadas sobre um xale feito de tricô.

O mais jovem, por sua vez, não queria admitir que fora pego desprevenido ao não perceber a chegada da velha, além de notar tardiamente que ela escondia alguma coisa com o braço esquerdo por dentro do xale.

— Não se intrometa! – ele respondeu de maneira ríspida, ainda influenciado pelo susto, imaginando que a velha senhora fosse apenas mais uma vítima da crise econômica que assolava o país e viu nele uma oportunidade de mendigar. Ou de roubá-lo.

Aquele pensamento antecipado deixou uma risada soprada escapar de seus lábios, Dio esperava que ela ao menos tentasse assaltá-lo... já que nada neste mundo o faria se arrepender se a velha o atacasse primeiro, podendo alegar legítima defesa para quem o visse.

Mas a mendiga apontou para além de Dio e disse:

— Acho que eles estão te procurando... é melhor fugir, não é?

Franziu a testa, descrente com aquela tentativa cretina da mulher de enganá-lo com um truque tão idiota; dizendo que alguém supostamente estaria atrás de si para, ao se virar, levar uma pancada na cabeça com a arma que, certamente, ela escondia dentro do xale.

Sem paciência e completamente ofendido por aquela patética – e até então suposta – tentativa de assalto, Dio a puxou pelo braço, do qual ela mantinha sob o xale, com a intenção de impedi-la de usar qualquer coisa que estivesse escondendo por debaixo. Mas, para a sua total surpresa, descobriu que a mão esquerda da velha estava apenas enfaixada.

Âmbar No Azul-Celeste [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora