Capítulo VI

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A Única Coisa Que Não Aconteceu
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     Dio não voltou para o dormitório como de costume, não tinha cabeça para deitar-se na cama e dormir, muito menos para planejar o inferno que aquele tal de Fuga merecia. Precisava beber antes de tudo, se intoxicar até esquecer de si mesmo e só acordar, de repente, na cama de algum desconhecido, pois isso fazia parte da fantasia, de se desprender da lógica e do seguro para cair de cabeça no arriscado e perigoso.

Essa "aventura" planejada tirava Dio dos eixos por tempo suficiente para não deixar-se enlouquecer, principalmente agora, diante da sua mais nova realidade que ele recusava com todas as forças que sabia existir em si.

Foi de pub a pub gastar os seus trocados em cervejas e roubar de quem estava bêbado demais para notar a falta, pretendendo encontrar Vanilla por aí e saber onde passaria à noite, mas isso não aconteceu.

E só parou com o roteiro caótico num bar irlandês quase vazio – embora pouquíssimos soubessem de um bar infiltrado no meio de Londres como um espião – quando encontrou o único cabeludo, aparentemente sozinho, e que lhe parecia bastante familiar no balcão.

Tentou ser sutil na aproximação, exceto que as suas pernas não estavam colaborando muito. Dio precisou se segurar no banco ao lado daquele da cabeleireira arroxeada e cheia de cachos, para se equilibrar, o que chamou a atenção dele.

Riu soprado como quem ganha um peixe dourado como prêmio.

— De todas as pessoas que eu esperava... não foi em você que pensei – disse para Kars, que apenas bebericou do chopp e virou-se de frente para Dio.

Ele sorria e estranhamente cativava Dio a sorrir também.

— Também não posso dizer que é um prazer encontrá-lo aqui, Dio – ele respondeu e, então, bebeu mais um gole do chopp, depositou o copo no balcão quando sentiu-se satisfeito e depois, limpou a espuma do lábio superior com a língua.

Dio sentiu sede ao observá-lo; molhou os lábios por reflexo e procurou nos bolsos da calça algum trocado que pudesse pagar-lhe uma dose. Mas, quando se deu conta, o garçom entregou-lhe um copo cheio do mesmo chopp que Kars degustava.

Assistiu ao rival de banda erguer o próprio copo num brinde por aquela "trégua", a qual Dio não recusaria. Segurou o copo e tomou dois goles bem servidos.

— Está tentando se desculpar, querido Kars? – disse assim que limpou a boca com a manga da blusa.

Kars franziu a testa por um momento, mas logo riu com deboche assim que deduziu sobre o que Dio se referia.

— Nunca vai esquecer, né? – A mão dele se aproximou de seu rosto com lentidão, mas fez um leve afago sobre a sua bochecha, seguindo até o queixo para segurá-lo com a ponta do polegar. — Não pensei que a minha falta te afetasse tanto...

Dio sorriu com aquele gesto e, então, gargalhou como quem ouve uma bela piada. Kars apenas arqueou a sobrancelha, afastando a mão do rosto do outro, voltando a segurar o copo no balcão.

— É cômico vê-lo achar que se trata de algo sem qualquer importância e não da humilhação que você fez a minha banda passar. – Sorveu de mais um gole.

Dio estava bêbado o suficiente para não se lembrar mais de como chegou ali, então, quando Kars suspirou alto demais, ou foi perto demais, já não sabia discernir, mas o fez arrepiar a nuca enquanto tomava o seu chopp.

— Vamos relembrar; fui muito paciente – Kars, a essa altura, sussurrava ao pé do seu ouvido. — Fiz o que você queria e cheguei ao meu limite. Não vou pedir desculpas por algo que você causou. – Dio não parecia surpreso quando sentiu Kars afundar o próprio rosto em seu pescoço e aspirar profundamente como quem precisasse de ar, soltando um suspiro acompanhado de um gemido rouco e baixo. A voz dele já não era mais a mesma, soava cada vez mais sensualmente grave. — Talvez, você é quem devesse se ajoelhar... perante mim... e implorar...

Âmbar No Azul-Celeste [✓]Waar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu