Capítulo XXXI

75 5 43
                                    

━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━
Pondo Pingos Nos "Is"
━━━━━━━━━━

—— Um apartamento? – Jonathan repetiu com medo de ter entendido errado, mas Dio também não facilitou para que a sua compreensão ou digestão do assunto fosse mais branda.

Jonathan ainda estava completamente atordoado com a reaproximação do ômega; o beijo parecia algo irreal, embora o tivesse sentindo em todas as camadas inimagináveis da percepção humana, e estavam de mãos dadas, outra situação impensável.

E agora, Dio estava propondo... que morassem juntos?

Jonathan teve medo de estar apenas sonhando acordado; aquele sonho mais vívido de sua vida e que não desfrutaria disso além do seu mundo onírico.

— Simplório demais? – Dio usou de retórica, com evidente ironia. — Se é assim, ficarei na mansão, então... por mim, tudo bem.

Jonathan balançou a cabeça para reorganizar os pensamentos.

— Calma... você quer que moremos... juntos? – Para Jonathan, era inacreditável dizer aquilo em voz alta.

Dio franziu a testa, se mostrando aborrecido com a desatenção do parceiro vinculado. Mas ele pareceu ponderar a melhor maneira de abordar o assunto, antes de dar mais um susto no alfa.

Não que Jonathan estivesse achando a ideia de morar juntos ruim. Na verdade, parecia uma realização de um sonho inalcançável. O problema era que tudo isso estava acontecendo de repente. Jonathan não se esquecera das palavras vis, gélidas e cortantes que recebera do ômega na última vez em que estiveram sob o mesmo teto.

Quer reparar o seu erro? Então, se mata, porque não preciso de você!

Elas ainda o feriam, e muito.

— É o meu último ano na Alnino – Dio explicou como se conversasse com uma criança que aprendera a falar recentemente. — Não poderei usufruir das acomodações do campus depois de me formar. E tudo que aconteceu ultimamente me impediu de procurar um lugar decente pra morar. Inclusive, se eu não tivesse sido "despertado"... – Ele fez as aspas com os dedos da mão livre enquanto revirava os olhos. — Odeio essa palavra, por acaso eu era a "Bela Adormecida"? – Usou de retórica novamente com humor.

Jonathan segurou um risinho culposo e Dio continuou em seguida à explicação, mas com seriedade:

— Provavelmente eu estaria com minha banda completa, gravando um LP, talvez já estivéssemos fazendo shows por aí e eu teria um canto só meu pra chamar de "lar doce lar", além dos bolsos cheios da grana e nenhuma preocupação na cabeça. Entende que, depois que você apareceu e fez o que fez, toda essa minha trajetória foi amassada como uma folha de papel usada e jogada no lixo?

Claro que Jonathan entendia, pois era como ele mesmo enxergava a virada de pernas para o ar que a sua própria vida dera após aquele ocorrido no dormitório. Nada do que planejara fora seguido à risca e não por escolha, por isso, compadecia da frustração que Dio demonstrava ao encarar a nova realidade.

Porém, estava mais do que claro que nenhum dos dois tivera o intuito de engatilhar o cio do outro, portanto, Jonathan não concordava que os dois tivessem que carregar essa culpa, embora Dio não a demonstrara por ter engatilhado o seu cio.

Por fim, suspirou pesadamente e deu um leve aperto na mão dele entrelaçada na sua.

— Eu estava no meu quarto com o violão, replicando uma melodia que não saía da minha cabeça. Você entregava panfletos procurando um guitarrista... Nenhum de nós tinha a intenção de mudar nossos planos. Culpar um ao outro por tudo ter acontecido... não vai reverter este fato: a natureza escolheu por nós, sem que pudéssemos evitar e agora somos compatíveis, despertos. – Fez uma breve pausa e acariciou a mão do ômega, que ainda permanecia junto a sua, com o polegar. — No que me culpo foi de não ter ido ao seu encontro, desde o início. – Desta vez, olhou diretamente nos olhos de Dio. — Fiquei tão assustado com a ideia de ter encontrado um parceiro desperto que... tive uma overdose de calmantes alfa e parei no hospital, internado por três dias. – Fez uma nova pausa para espiar a rua e saber em que ponto estavam próximos da universidade, sendo uma maneira de fugir da sensação de insignificância que sentira ao contar aquilo em voz alta. Voltou a olhar para Dio quando reuniu coragem para prosseguir. — Não sofri com o cio como eu sei que sofreu. Acredite, disso sim eu me culpo... pois se estivéssemos juntos, desde o início... talvez, você me odiaria se nos marcássemos do mesmo jeito, mas... não teria passado pelo que passou nas mãos daquele... lixo de alfa.

Âmbar No Azul-Celeste [✓]Where stories live. Discover now