➹Capítulo vinte➷

410 39 10
                                    

𝘿𝙤𝙫𝙚 𝙋𝙊𝙑

Massageei minhas têmporas sentindo a dor fina da cabeça se alastrar pelo resto do local. Suspirei cansada, sentindo a dor se intensificar, arrastei a cadeira para o lado, mexendo na minha bolsa até encontrar o remédio para passar aquela dor infernal. Peguei um comprimido, peguei a garrafinha de água sobre a mesa, tomando o remédio em um gole.

Aquela discussão com a Alexia a uma semana atrás, me deixou em um estado deplorável. Suas ameaças repetiam em minha mente constantemente, sem fim. Não conseguia passar uma noite sequer longe do meu filho, precisava dele comigo e sobre minha supervisão para ter uma boa hora de sono. Lógico que nada daquilo passou despercebido pelos meus pais e muito menos pelo meu filho, que sabia a verdade sobre sua outra mãe, não quis colocá-lo contra ela, porém sabia que merecia saber sobre a mãe dele.

— Droga… — xinguei baixo, amassando a folha e jogando no cesto de lixo.

Encostei minhas costas no estofado fofo da cadeira, deixei minhas mãos cair sobre meu colo, meu olhar foi para a cicatriz que se formava no meu pulso, meus pensamentos foram para aquele dia. Balancei a cabeça sutilmente, foquei meu olhar na folha cheia de palavras chaves em uma pura desorganização, suspirei fundo e comecei a arrumar em ordem.

Estava corrigindo uma matéria para ser postada pela a revista, uma matéria completa enaltecendo o trabalho da D.C Books e seu ótimo gesto de solidariedade ao patrocinar uma escritora anônima. Escrever aquelas palavras e ser a ganhadora, é estranhamente confortável. Portanto, de longe parecia engraçado. A ganhadora do patrocínio escrevendo uma matéria de palavras de exaltação para a editora em que está fazendo parte. O que pensariam se soubessem que eu estou fazendo isso? Achariam que escrevi aquilo pensando que estou bajulando para ganhar tratamento diferenciado?

Afastei aqueles pensamentos, escrevendo a última linha da matéria, não colocaria que aquelas palavras fossem minhas, apenas colocaria que foram palavras ditas por um dos nossos jornalistas. Não me arriscaria de alguém da empresa chegar até minha identidade verdadeira, algo dentro de mim pedia para manter o anonimato por um tempo. Não sei nada sobre os donos da D.C…

Juntei aquele monte de folhas, recolhendo meus pertences e jogando dentro da minha bolsa sem me importar com a bagunça. Ficar presa naquela sala, estava me enlouquecendo e piorando minha dor de cabeça. Sai da minha sala, fechando a porta indo na direção da minha secretária, passei a documentação pedindo restrição total para não colocar meu nome na matéria, e dei alguns direcionamentos para repassar para o chefe depois.

Ao terminar, caminhei entre os gabinetes dos roteiristas da revista, o barulho irritante das teclas sendo digitadas e apagadas com brutalidade, me fez fechar os olhos rapidamente com dor. Parecia uma missão impossível passar por todo aquele barulho e chegar finalmente no elevador, e por sorte estava vazio.

Só preciso de ar fresco…

[...]

A brisa fresca envolveu meu corpo, bagunçando meu cabelo, senti os pelos do meu braço se arrepiar com aquele contato do vento. Respirei fundo sentindo o cheirinho da grama recém cortada e o cheiro das diversas flores que ali se encontram, misturando-se em um único aroma. Era disso que eu estava precisando. Vim para o parque, fazia meus pensamentos fluírem e deixava uma tela em branco em minha mente, como se eu não fosse capaz de pensar em mais nada. Tomei um gole do milkshake de frutas vermelhas e baunilha, sentindo uma explosão de sabores na minha boca.

Soltei um gemido baixo em pura satisfação, abrindo dois botões da camisa social, as mangas arreganhadas até meus cotovelos, estava livre do blazer que faz parte do meu uniforme. Meus olhos começaram a vagar pelo ambiente, capturando a felicidade de algumas pessoas ali presentes e o que fazia. Uma risada próxima de mim me fez congelar, meu coração disparou rapidamente com aquele som adorável de ser ouvido, comecei a procurar a dona daquela voz. Senti a pontada de esperança e de entusiasmo indo embora aos poucos, dei-me por vencida. Nunca conseguiria achar a pessoa em um ambiente com milhares de pessoas, transitando de um lado para outro.

𝐋𝐨𝐯𝐞 𝐒𝐡𝐨𝐭 - Dofia (Concluída)Where stories live. Discover now