Capítulo 13- Recuar para atacar

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Os azulejos manchados e desgastados com o tempo foram os únicos a notar minhas últimas lágrimas derramadas e não pretendia traze-las a tona tão cedo novamente. Junto com a torrente de água morna que levara toda a sujeira de meu corpo e o sangue de meus recém machucados, pude reorganizar todos os meus sentimentos e condensa-los em uma caixa fortificada. Esfreguei veemente o pescoço por onde a língua de Jhon traçara um circuito e me certifique de que não restasse nenhum DNA de sua parte.

O calor aqueceu minhas entranhas e aborreceu o espelho embutido no armário. Minha pele avermelhava protestava pelos longos minutos ao qual deixei em contato com a água quente enquanto revisava meu próximo passos, como em um jogo de xadrez, recuar para atacar.

Uma vez, quando criança e o solstício de verão tornara os dias mais longos e as noites mais curtas, enquanto o Sol de um rigoroso começo de verão, onde familiares se juntavam para excursar para os limites interioranos da capital, minha mãe, América para os dias de raiva, me forçara a estudar manuis de grossas páginas de como sobreviver a um possível sequestro e/ou cárcere privado.

Entre acampamentos, aulas de sobrevivência, equipes de escoteiros, auto-defesa e estratégia, quaisquer outros cursos que uma mãe rigorosa exigia, eu fazia apenas para agrada-la e no fim da noite, quando a madrugada dava início aos seus pesadelos e não deixava que dormisse em meio ao pânico e crises de choro, olhar para mim parecia trazer fantasma do passado para o presente. E assim se consumiu toda a minha infância até que tivesse idade suficiente para desistir em agrada-la.
Thomaz foi a única escapatória para encontrar uma vida normal...E meu pai a amava demais para machuca-la quebrando todo esse círculo vicioso.

"Você nunca será uma vítima como eu! Você é uma sobrevivente..." essa era a desculpa que acostumada dar quando saia de uma de suas explosões ao surtar. Trancava todas portas e nos encondiamos até que meu pai chegasse e nos encontrasse para tentar acalma-la. O porão silencioso e seguro da minha casa de esquina. As vezes passavamos horas até que Benjamin chegasse da faculdade ao qual ministrava aulas de biológia geral. Então se passava semanas ao qual minha mãe se mantinha sobrea e sem pesadelos e no entanto as recaídas eram as piores, onde me olhar parecia demais e a pior delas foi quanto tentara contar meus cabelos, ela os odiava, sua cor, o tom que contrastava com minha pele, quase tanto quanto odiava Virgin River, uma pacata cidadezinha do interior...que de pacata não tinha nada.

Contudo, a experiência de passar todaa as minhas férias consumida por livros me ensinou que, de acordo com o manual, estabelecer uma relação segura com seus sequestradores de modo a ganhar sua confiança se mostra vital em todos os casos, enquanto julga que será conivente com as regras. "Como sobreviver a um sequestro", me ensinara a não só odiar minha mãe mas seria o passe de volta para casa.

Duas batidas soaram e a voz do ruivo perpetuou por todo o banheiro nebuloso, cercado por calor e vapor-Está tudo bem aí, Megan?-questionou-Já terminou?Preciso lhe entregar as roupas limpas...

Querer encara-lo não poderia ser tão difícil quanto estava sendo. A tensão adivinda de sua voz se intaurou novamente entre os tecidos de minha pele e poros, contudo, apenas, desliguei o chuveiro que trazia a névoa presente e me forcei a enrolar-me a uma toalha e caminhar para abrir as portas para o inferno.

Eu estava viva e teria de me contentar com isso.

O homem abriu a porta puxando meus braços para que o acompanhassem. Tive de segurar mais firme contra o tecido que enrolava meu corpo para que não escapasse. Adentramos a terceira porta em relação ao corredor e as janelas que delimitavam seu final, o perfume amadeirado e cítrico impegnou minhas narinas dando palco para um quarto. O seu quarto.

-Fique a vontade...-caminhou em direção a uma das pequenas janelas que iluminavam o quarto e alertavam sobre o começo do fim do dia. Seu olhar gélido passeou pela grande floresta que cercava o local, analizando qualquer possível ameaça que pudesse surgir pelas copas das grande árvores que rugiam e protestavam contra os ventos fortes da noite. Fechou as persianas velhas com brutalidade e derramou sobre a imensa cama o molho de roupas xadrez. Seu olhar passeou pelo meu e de alguma forma pensei que parecia frágil demais por estar semi-nua e molhada e ele percebeu-Bom...-pigarreou-Vou sair para que tenha mais privacidade...-comentou caminhando sobre as tábuas de madeira que rangiam ao seu percurso-Não se acostume...

A porta ecoou por duas vezes e o quarto de alguma maneira parecia triplicar-se o tamanho. Solitário e sombrio, tal como seu proprietário. Estava mais escuro pelas cortinas que banhavam as janelas e caminhei até o abjudor prostado ao lado de um criado-mudo perto da mobília, a primeira vista, confortável. O típico tom da madeira gasta ganhava todo o cenário das paredes vazias. E duas poltronas espaçosas davam acesso a uma pequena lareira que se perdia entre a penumbra, quase impossibilitada de se ser percebida.

Um tapete com cabeça de urso estava mergulhado entre a área mais escura do quarto tomado por sombras advindas do abjur acesso e memórias sobre a conversa de mais cedo voltaram para me assombrar. Eles eram caçadores, no entanto, se negavam a caçar apenas animais...

Minhas mãos tremeram diante das possibilidades. Eu era não mais que, somente, uma de várias vítimas que haviam feito. E o choque se apossou por todo meu corpo atrofiado.

-Acabou?Posso entrar?-questionou e rapidamente deixei a toalhar cair sobre o assoalho e vesti a calças jeans de horas atrás, não estava limpa
mas era a única peça que me serviria. Antes que eu pudesse colocar a camisa de flanela xadrez, possívelmente de Christpher, o mesmo adentrou o quarto, testando meus reflexos rápidos ao cobrir meus seios.

O espelho na quina entre a parede e a janela me permitiu visualiza-lo caminhando em minha direção-Eu ainda não acabei...-ousei pronunciar as palavras a muito tempo esquecidas por minha cordas vocais.

Seu olhar gélido brilhava perante a escuridão do ambiente e antes que pudesse prever seus passos, o mesmo percorreu o olhar sobre minha costa livre e alguns dos meus machucados espalhados pelo corpo, encostou as mãos sobre ela em uma carícia, até que tocassem a pequena constelação de pintas que haviam.

A margem de um sorriso banhou seu lábios, mas foi tão rápido que não pude ter a certeza pela falta de iluminação. Ele pegou a camisa posta sobre cama e ordenou, tomando a minha frente-Erga os braços!

O tom ríspido não premitia discussões e o tremor se apossou por meu corpo, mas acatei as suas ordens. Deixei de me esconder e estiquei para logo receber a camisa de botões sob meu tronco. Ele curvou-se atento e começou a abotoar, de cima para baixo, até que a camisa estivesse fechada e aquecendo meu corpo.

Retirou meu cabelos presos pelo tecido e pegou sobre uma pequena instante ao lado, repleta de utensílios masculinos, um pente de madeira. Antes que pudesse protestar abrindo minha boca, ele separou as mechas e começou a desembaraça-las.

O som do pente sobre meu cabelo foi tudo o que ouvimos durante um período. A floresta além, começassava a despertar os primeiros sons noturnos, sendo abraçada pela noite estrelada, podia imaginar, pela falta de civilização por perto.

A semelhança horripilante entre minha aparência e de meu sequestrador, refletida pelo espelho, me fez sair de meus devaneios.

-Está com fome?-questionou irrompendo o silêncio quando concordei-Jhon está preparando o jantar... Está com dor?-relaxou quando neguei com a cabeça, eles apenas ardiam.

Suas mãos agarraram as minhas após o término e caminhamos para o primeiro andar, onde o cheiro da comida empregnava todo o ambiente. Meu estômago reclamou quando Christopher me fez esperar na sala enquanto caminhava para a cozinha.

O som da geladeira abrindo ressou pela ambiente, enquanto o borburinho do cozimento dos alimentos seguiam pelos cômodos debaixo.

O ruivo voltou enlaçando nossas mãos e caminhamso para a varada da frente onde ele sentou-se em uma cadeira de balanço rústica. Tentei me desvenciliar de seu toque para me sentar na outra, já que, não poderia discordar com a companhia que teria sob as estrelas do céus. Mas, o aperto não se afrouxou e ele me sentou em suas pernas.

Conforme a cadeira balançava e o cansaço se apossava, tive que manter cada grão de energia exacassa para me manter sóbria. O som de uma lata abrindo me fez acordar e piscar os olhos com força diante da hipnose sonolenta em que me encaminhava.

As mãos dele começaram a passear sobre meus cabelos ruivos, puxando-me para trás para deitar sobre seu peito. E embora quisesse fugir de seu toque, resolvi guardar a energia para amanhã ou depois de jantar.

A cadeira continuava sua dança e as mãos de Christopher a acaríciar-Você gosta de histórias para dormir?-susurrou quando senti seus lábios repousarem em minha testa.

E isso foi tudo o que me prestei a ouvir, antes que um barulho de freio de carro preenchesse o silêncio entre o tráfego pela cabana e a floresta, enquanto sentia o corpo de Christopher se tencionar, apertando o seu ao meu, possessivamente.

De volta à CabanaWhere stories live. Discover now