Capítulo 22- Mercê dela e da floresta

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A divergência entre a camada exterior e a mais interna onde estava presente meu inconsciente refletia-se nos olhos negros de Jhon. A felicidade presente neles fora o suficiente para fazer com que meu peito inchasse sem que ao menos ouvesse ar. O momento congelava-se em si próprio; o sorriso preguiçoso que surgia em seus lábios e o corar de sua pele perante a luz foi meramente interrompido por uma ruiva que rugia de seus ombros. Novamente, a mesma explosão de antes tomava minha veias.  Contraditória.  Sentimentos de alegria pura foram expostos e domados pela raiva contida.

A ruiva deixou que uma de suas mãos acariciassem os ombros de Jhon e seus lábios vermelhos tomados por gloss em excesso fossem em direção ao lóbulo de sua orelha. O sorriso de escárnio e presunção repousara em sua faceta enquanto seus olhos azuis perspicazes recaiam sob mim ao ponto de ve-los piscar em complicidade, como se guardassemos em conjunto um terrível segredo.

O rosto de Jhon contorceu-se em exasperação quando fui tomada de seus braços pelas mãos frias e insensíveis da mulher que sorria.

-Minha sobrinha linda! Vem para o colo da titia...-o odor de seu perfume doce impregnou minhas narinas ao ponto de incomoda-las, sua voz terrivelmente sedutora agarrava meus ouvidos como a música mais tenebrosa já composta. O fato de suas unhas vermelhas marcarem meus braços não me encomodava o suficiente, tal como vê-la arrastar-me para dentro da varanda enquanto todos pareciam fazer o caminho contrário.

O sol estava se pondo mas sua luz era o suficiente para que pudesse precensiar o olhar abrasador de Christopher, acompanhado de uma linda mulher, a caminho do carro. Estava cheio. Cheio de ameaças e promessas obscuras. Mas com um mero piscar, desapareciam.

-Eu vou cuidar muito bem de você!-sussurou com alegria fingida, observando enquanto todos se despediam. Meu coração batia aceleradamente, avisando-me dos perigos que me assolavam, embora, secretos e oblíquos. Um último olhar neles, foi o suficiente para que desaparecessem em meio a floresta em seus carros. Deixando-me a mercê dela e da floresta.

-Bom Megan, você é uma garota esperta e sabe se comportar...-comentou enquanto seus passos nos direcionavam para a grandiosa casa que se erguia sob meus olhos. A madeira e o toque rústico presente não passavam despercebidos, como também, a presença constante empreguinada nas paredes que denunciavam ele. Sua rifle disposto perto da porta da varanda, alto o suficiente para que fosse impossível alcançar, a escada que mergulhava em um cronologia intensa de retratos de todas as épocas, desde que era jovem até os dias atuais. Seu cheiro amadeirado no ar e suas botinas sob a escuridão do encosto da porta sujos de lama recente-Você conhece as regras...-continuava, levando-me pelas sombras do quadros até estarmos no segundo andar, por corredores que poderiam sussurrar histórias felizes se os precionasse. Como a presença clara da tinta descascadas sob os desenhos abstratos e rabiscados, confusos e interressante o suficiente para que denunciassem a criação de seu autor, uma criança.

-Jantar às 20 horas; não saia do quarto ou haverá consequências; Não faça barulho, não quero que ele saiba que há uma criança aqui...-enumerava, enquanto colocava meu pequeno corpo ao chão e agarrava com afinco a maçaneta da porta-Você sabe se cuidar e nós duas sabemos que o melhor e se fazer é não comentar sobre o meu amigo que irá chegar...Nós sabemos como seu pai é ciumento e não gosta de estranhos perto de você e Antônio...Bom Antônio...me ama...-sorriu satisfeita com sua própria colocação deixando que a madeira da porta separasse nossas realidades em um rompante.

A mera luz que mergulhava o corredor já não mais banhava o quarto escuro. A aura do pôr do Sol ilustrava as janelas permitindo que a escuridão não me abraçasse. O silêncio pernicioso da floresta e da própria casa insudercia meus ouvidos apavorados em busca de socorro. Mas eu era apenas o vislumbre ou a sombra deste corpo. E como tal, me comportava como um reflexo preso no espelho.

De volta à CabanaWhere stories live. Discover now