Capítulo 25- Inferno

688 81 12
                                    

O gosto amargo de meus dedos à boca estava fazendo com que meu esôfago e estômago protestassem conta a fúria destina as cutículas que estava devorando. O suor frio corria pelas minhas costas deslizando facilmente pelo vão entre a pele lisa. Meu pés estavam dolorido com quão estavam sendo lixados pela madeira velha da cabana. Meus olhos frequentemente buscavam respostas pelas janelas empoeiradas enquanto me preparava para que a qualquer momento um monstro pudesse sair pelo grandioso bosque misterioso.

-Por que parece que você viu um fantasma e que ele vai sair por entre aquelas árvores em um instante?-questionou Christopher da cozinha, sem levantar os olhos de algum livro de autoajuda que estava devorando. Sua testa estava franzida como se a interpretação do texto não fizesse o menor sentido. E talvez realmente não fizesse.

-Só estou entediada...-murmurei tentando conter os impulsos frenéticos do meu corpo em estado de alerta. Meus pensamentos vazavam pelos poros causando uma irritação frequente na pele pálida. E mesmo que, já tivesse tomado banho por longos minutos, o comichão invisível lavava  pequenas porções como lava quente de um vulcão recém dispertado.

Conseguia sentir as faíscas que permaneceram e rondavam meu corpo como correntes elétricas pós contato com Thomaz, eternas, gravadas como tatuagens velhas. Ainda, mesmo que já tivessem se passado horas após o contato e o sol estivesse quase encerrando seu expediente, o seu cheiro inebriava e entorpecida meus sentidos enquanto um grito selvagem, repleto de necessidade rugia, engasgado em minha garganta. Necessidade de correr, fugir, matar e me esconder.

-Você deveria ir ajudar Antônio e Jhon com a caminhonete...-o tom de ordem com que sua voz grave viajava entre a cozinha e a pequena sala pitoresca, arrepiando os pelos da minha nuca. E mesmo que a distância, sentia sua presença a centimentos do meu corpo apenas coberto por grandes tecidos de flanela xadrez e uma camiseta que chegava aos joelhos branca.

Seus olhos palidos e sem vida encontraram os meus à distância, como um tsunami capaz de causar o maior desastre já existente, enquanto os cantos  de seus olhos se enrrugavam brevemente em desconfiança com cada tique nervoso que meu corpo estava expelindo. Murmurei um "ok" mas duvidava que tivesse escutado. Meus ouvidos abafados  por ruídos agudos e intermináveis não permitiram captar qualquer resposta do homem que permanecia inabalável em seu momento de lazer no canto mais iluminado de uma cabana escura e fria.

Meus pés se arrastaram em protesto contra a terra úmida de sereno, levando-me contra gosto a dois enormes homens que pareciam entretidos com o início de uma completa lavagem no veículo sujo de poeira e lama das estradas da floresta. Ganhei um olhar furtivo de Antônio antes que me aproximasse completamente, enquanto Jhon parecia inteiramente mergulhado com seu afazeres. Um momento ou dois se arrastou lentamente antes que ambos cessassem as atividades para corar minha pele com tamanha atenção que desnudava minha alma.

-Eu posso ajudar...?-murmurei rouca completamente intimidada. Estava completamente vulnerável e não consegui mascarar. A presença de Thomaz, mesmo que por um milésimos de segundos, havia derrubado todo uma parede fortificada que contrui para meus captores. O conhecimento de que não estava mais sozinha nesta cidade me colocava ao limite dos nervos, e mesmo que, separado por apenas alguma horas, sua aparição deixara marcar permanentes que não sairiam tão cedo. Christopher poderia perceber. Sentia seus olhos queimarem minhas costas enquanto oferecia minha ajuda aos homens à frente-Com a lavagem da caminhonete...-cuspi as palavras que se entalavam em minhas entranhas.

Outro momento que parecia tão longo como o esticar de um caramelo perpassou. Contudo, Jhon esticara um balde em minhas mãos contendo um líquido espumoso e sem que percebesse já estava esfregando o longo corpo metálico do veículo. Encontrei os olhos verdes de Antônio por um segundo antes que o mesmo desviasse, inundando a caminhonete com milhares de gotas de água. O moreno dava sua melhor atenção aos lugares onde uma camada expessa de barraco havia contaminado como uma mancha obscura.

De volta à CabanaWhere stories live. Discover now