Capítulo 16- O fruto de nossa redenção

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O barulho dos meus passos refletiam na solo coberto por folhas secas e escurecidas pelo tempo em decomposição. A floresta negra e coberta por névoa não tinha sua beleza exposta, apenas sua faceta nua e de pura crueldade. Um sensação me guiava para o coração do enorme bosque, a cabana. Conseguia sentir o retumbar frenético passar por entre a madeira velha e as janelas condensadas pelo vapor. Não conseguia desviar meus passos ou gritar por ajuda, eu simplismente aceitava o fato de ser uma mera marionete em seu jogo. Uma voz terrível e arcaica sussurava pelas copas das árvores e o ventos fortes despertavam e uiavavam em meus ouvidos.

"Chapeuzinho vermelho" murmurava em comprimento fúnebre "Oh! Como ele a desejou! Com todas as forças que fizeram todos os meus pelos se arrepiarem!" Meus olhos se perdiam na imensidão escura e acinzentada dos céus à procura do tormento que berrava distorcido entre os bosques.
Meus olhos se fecharam e minha mente alertava constantemente do perigo em que estava presenciando, mas era apenas um sonho, não?

"Não, doce menina. Você gosta de histórias de terror?" questionou em um susurro íntimo, como se estivesse preste a contar um tenebroso segredo "Neste conto, sem nenhuma possibilidade de final feliz, o lobo-mau ama a chapeuzinho vermelho, terrível, oras!" grunhia contando com uma felicidade presente no tom usado por suas palavras irônicas "Eu ainda me lembro de como foi saborear sua alma pura, céus! Como um homem com um passado terrível e duas mulheres podem fazer uma alma tão intocada?" questionou-se a si própria enquanto meu corpo tremia pelo frio, em busca de qualquer presença humana para socorre-la de meu estado atônito e em choque. Onde estavam Christian e Jhon?

"Já está se cansando de minha história, garotinha?" perguntou perversa "Mas eu nem comecei a melhor parte!" confessou "Este homem sempre fora uma incognata para mim, criança. Frio para aquilo que deveria ser feito! Sua alma era destroçada desde muito pequeno. Confesso que, para te-lo em minhas mãos até atravessei um alma tão perturbada quanto para sua realidade e bom, hoje são melhores amigos que compartilham segredos perversos" gabou-se "Para tê-lo fiz coisas que não me arrependo, chapeuzinho, mas destruir em pedaços seu coração tirando a coisa que mais amava na vida, foi a melhor delas com todas a certeza! E bastou meses longe de sua presença que acabou por acreditar em lendas e vir me fazer um pedido!" anúnciou entretida em sua própria história "Eu sempre soube que ele seria perfeito, e é claro, eu concedi um de seus desejos: duas crianças com a mesma alma, de duas mulheres diferentes. Eu ainda me lembro do seu gosto mas você é dele agora..."

-Q-quem é você?-ousei questionar com dificuldade segurando as lágrimas de terror que banhavam meus olhos, com temor do invisível.

"Já lhe foi contada esta história, querida! Pergunte à seu pai, ele se lembra bem...."

Sua voz dissoadiu por toda a floresta, sucumbindo ao nada em meio ao meu coração retumbante. O barulho reberava e tampava meus ouvidos com seu eco sendo acompanhado pela floresta até que...

Acordei em busca de ar, para o espesso e denso da cabana preencher meus pulmões queimando. Suor escorria por minha pele e o escuro, apenas iluminado pela luz da Lua, acalmou minha mente. Apenas um pesadelo. Um terrível. Minha garganta queimava em sede e a respiração pesada do ruivo ao chão me protegia do que poderia estar a espreita lá fora. O medo evaporava aos poucos, quando pisei sorrateramente para fora dos lençóis confortáveis e vislumbrei o grandioso corpo ao chão na pubumbra que banhava o quarto. Caminhei na ponta dos pés, abrindo a porta minimamente para que meu corpo pudesse passar, mergulhando no corredor em direção as escadas.

A cozinha me recebeu com seu ar gélido adentrando por uma fresta das janelas abertas e a luz da geladeira me iluminou quando me estiquei para pegar uma garrafa d'água. Virei-a a boca antes que pudesse me engasgar com a presença sorrateira do homem me encarando com os olhos mergulhados em trevas.

-Que susto, Jhon!-anunciei pasma por alguns segundos, com a respiração e o coração frenéticos novamente-O que você está fazendo no escuro desse jeito?-questionei fechando o eletrodoméstico me sentindo insegura com sua presença misteriosa. Afastei-me alguns passos em direção a pia. O homem apenas tornou um gole daquilo que estava bebendo e repousou o copo vazio no balcão que separava os cômodos-Bom, eu já vou indo...-anunciei caminhando em direção as escadas, mas ao passar por ele senti suas mãos puxarem meus cotovelos-O que está fazendo?-sussurrei fechando os olhos ao sentir sua respiração pairar em meu pescoço-Não faça nada que se arrependa...-murmurei em um fio de voz sem coragem para enfrenta-lo.

Jhon me virou agarrando-me em um abraço apertado-Eu não estou sabendo lidar com toda essa porra...-confessou me confundindo-Apenas...-se afastou retomando a linha de raciocínio-Vocês são tão iguais e diferentes ao mesmo tempo, eu estou impressionado...-comentou pegando uma de minhas tranças com sua mão grossa.

-Igual a quem?-questionei perdida em seus olhos negros como a noite que reluziam o brilho dos meus em reflexo.

-Megan...-sussurou meu nome-Apenas fique com Christopher e deixe-o ama-la, ele está destruido e as vezes acho que ele não possuí coração...-sorriu entristecido-Mas agora não tenho tanta certeza deste fato...

-Por quê está me falando isso? E por quê acharia que sou capaz de aceitar e viver com o fato que vocês me sequestraram...-argumentei franzindo o cenho, sentindo minha bochecha se queimar em fúria.

-Porque, Megan, você já nos amou um dia...-forçou sua testa contra a minha fechando seus olhos, parecendo apreciar o momento-E foi tão bom ser amado....Na minha vida eu não tive muitas pessoas que me amaram com tanta pureza e doçura. Que apenas me ama e não pedia nada em troca ou me trairia pelas costas ao final...Você foi a melhor coisa que aconteceu para nós...-susurrou em um lamúrio doloroso quando sua respiração se misturava junto a minha.

-Eu não estou entendendo, Jhon...-confessei vendo o homem se afastar abrindo os olhos lentamente e pude visualiza-los encharcados de lágrimas.

-Você não precisa entender nada agora, ainda está muito cedo...-categorizou soltando a mecha que ainda prendia entre os dedos-Apenas aceite que é o fruto de nossa redenção; a única coisa que protejeremos para permanecer intacta e pura o quanto pudermos. Nada acontece por acaso Megan e você nos encontrar, não foi uma delas...-comentou caminhando em direção a escadas e subindo sem olhar para trás. Deixando-me a mercê da sombria cabana anoitecida e de pensamentos conflituosos.

Caminhei em direção ao sofá de estampas quadriculadas, deitando-me observando seus encontros e desencontros pela costura envelhecia, até acabar adormecendo, sem me permitir conferir se a porta estava realmente trancada, mas no fundo sabendo que não iria longe o suficiente.

Nunca seria longe o sufiente para eles...

De volta à CabanaWhere stories live. Discover now