Por Detrás do Túnel Verdejante

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Capítulo 27: Por detrás do túnel verdejante

Toda vez que sentia aqueles lábios doces entre os seus dentes, ouvia aqueles gemidos contidos e observava os olhos assustados por ter avançado mais um sinal… todas as vezes que via aquelas orbes esmeralda repletas de desejo e vontade explícitos, era como se um pedaço de sua alma se partisse e voasse livremente, afagando cada cantinho de Harry antes de voltar para seu corpo em completo deleite.

Estava ficando louco? Talvez. Mas ele, ao mesmo tempo que temia, adorava todas as novas sensações que o moreno provocava em si.

No fundo da mente, um medo irracional o dominava incontáveis vezes. Sempre naquela longa semana em que roubava um beijo, um afagar ou uma mão no lugar certo na hora errada… todas as vezes, era como se o gelado de seu coração ficasse um pouco mais quente.

Os sonserinos já estavam percebendo, e Abraxas não estava muito contente por tê-lo tão animado e leve pelos cantos. Mas Tom não podia ligar menos. Ele continuava sendo o tirano que deveria ser com eles, e evitava o cuidado excessivo com Harry perto dos outros. Infelizmente, para qualquer serpente mais ardilosa, seu olhar, mesmo que apenas ligeiramente preocupado, já o entregava.

Todavia, de uma maneira carente para além do natural, ele não queria saber de Abraxas, de sua casa, das pessoas idiotas que o seguiam. Ele queria saber de voltar para o quarto na noite fria, e dormir enroscando seus pés gelados no quente corpo magricela de Harry. Mergulhar seu nariz por entre os revoltosos cabelos, e fazer uma piada idiota quando o outro acordasse.

Tom havia se tornado uma piada.

Trabalhara tanto para criar toda aquela base, para conseguir fortalecer seus alicerces em poder, ódio, manipulação e força de vontade. Trabalhara tanto! Foram tantos dias investidos com reuniões, cartas e discussões. Ganhara respeito dos alunos, professores, diretores, dos pais dos colegas… de todos! Foram anos colocando pedra em cima de pedra para finalmente ter seu castelo só para si.

Porém, em algum momento idiota de fraqueza, ele abriu a porta para espiar os arredores e um serzinho irritante se bandeou para dentro, mal pedindo licença.
E agora podia enfrentar sua ruína por detrás do túnel verdejante do olhar alheio.

Que idiota!

Os comensais da morte estavam ali, parados, o chamando pelo nome que escolhera… não era mais Tom Riddle. Era Lorde Voldemort! E o gosto que tinha de ouvir aquilo, o sabor da língua estalando, e do arrepio que percorria a espinha pelo nome amaldiçoado…! Ah, nada, nada se comparava àquilo…

Nada…

Quase nada.

Beijar Harry enquanto ele ofegava abaixo de si era quase tão doce… quase.

Não sabia distinguir seus sentimentos por Harry. Não sentia que estava apaixonado por ele, apesar de todo o misto de sensações das quais não estava acostumado. Mas havia um fascínio, um inegável fascínio, que o fazia querer voltar para perto sempre. O outro havia se tornado quase um porto, quando Tom estava excessivamente irritado ou cansado, ele só ia até Harry para rir de suas idiotices e esquecer de todos os problemas a sua volta momentaneamente. Óbvio, o garoto de óculos não sabia de seus planos e o sonserino tinha certeza que assim que os contasse aquele tempo gostoso entre os dois acabaria… mas ele não tinha qualquer pressa para exibir suas conquistas. Não para Harry, pelo menos.

Ah, Harry.

Se ele soubesse o monstro que dormia ao seu lado. Um monstro em construção, mas ainda assim um monstro. Um monstro que queria ser um monstro, que almejava o poder acima de tudo e de todos. Que tinha tanto ódio dentro de si que sonhava apenas em esbanja-lo em qualquer um que ousasse se meter em seus caminhos.

Pela primeira vez...Where stories live. Discover now