Travessa do Tranco

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Capítulo 15: Travessa do tranco

—O que exatamente estamos fazendo aqui? 

—Fica quieto. — sussurrou o outro. — Sua voz estridente desse jeito vai chamar mais atenção do que o esperado. 

Pé ante pé iam pisando nos tortuosos tijolos de pedra que compunham o chão daquele beco. A iluminação, como Harry bem lembrava, era parça e — não tivesse Tom mandado ele usar uma capa com capuz — estaria muito destoante dos misteriosos transeuntes. 

—Tom. — Chiou ele, quando um homem barrigudo encarou seus olhos mais do que deveria. — Eu não gosto desse lugar! Tom… — lamuriou novamente, tentando chamar atenção do garoto que seguia na sua frente com uma pose tão altiva que parecia ser dono do lugar. 

—Mas que droga! Venha cá! — Riddle virou-se, puxando Harry pelo cangote e enfiando seu braço por sobre os ombros do outro. — Pronto, Smith. Não precisa mais ficar com medo. Agora vamos logo. 

—Eu não estou com medo. — reclamou em resposta. — É só que… esse lugar não me traz boas lembranças. 

E realmente não trazia. 

Harry visitara a Trevessa do Tranco apenas duas vezes e nenhuma das duas trouxe uma experiência agradável. Parar naquele lugar indigesto por azar e ver Malfoy mexendo no armário sumidouro, o que gerou a morte de Dumbledore, não eram memórias que ele gostava de colecionar. Jamais colocaria elas em sua penseira… se ainda tivesse uma.

Esperava que Tom fosse zombar de sua perturbação, mas o outro apenas continuou seguindo, o braço depositado perfeitamente em seus ombros, guiando-o pelo caminho estreito. Ele ia contornando pessoas, com a coluna bem reta e o nariz bem empinado, era como se houvesse um mapa mental daquelas vielas imundas cravejado em seu cérebro, que o fazia saber exatamente para onde seguir.

Não foi necessário muito tempo para Harry identificar a loja em que entravam, finalmente. 

Estava menor, bem mais compacta do que ele mesmo se lembrava, entretanto, aquelas máscaras apavorantes e todos aqueles vidrinhos arrolhados contendo venenos de altíssimo teor denunciavam a identidade do lugar. E não era como se conhecer a loja o fizesse gostar mais daquilo.

—Borgin e Burkes?! — Perguntou baixinho, o incômodo permeando sua voz. 

—Ora, para alguém do interior não acha que sabe demais, Smith? 

Tom empurrou seu corpo magricela para dentro do espaço confinado antes que ele pensasse em responder. Um sino soou com sua passagem e, menos de um minuto depois, um homem adunco com grandes entradas laterais apareceu, olhando curiosamente para Harry. 

—Borgin! — Tom falou, com um de seus sorrisos falsos cativantes. Abaixou o capuz que cobria parte do rosto, e Harry notou a expressão do senhor suavizar. — Há quanto tempo, não é?

—Riddle! — respondeu, e sua voz grave fez os pelos de Harry se arrepiarem como na primeira vez em que esteve ali. — Não achei que fosse o ver por aqui novamente depois d…

—Esqueça o passado, homem! — Interrompeu.

—O que aconteceu? — Harry venceu o desconforto e falou finalmente, curioso com o fato que teria afastado Tom da loja das trevas. 

O idoso riu nasalmente, remexendo alguns potes em cima de uma empoeirada bancada.

—Não sou dedo duro ou traíra. — Indicou ele. — Tom não parece querer falar disso, não é, garoto? Mas para ter tido coragem o suficiente para pisar aqui de novo… o que você quer de mim? 

Pela primeira vez...Where stories live. Discover now