A carta

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Capítulo Dois: A carta

Harry teve que levantar cedo pela manhã. Não que ele tenha dormido muito, afinal seu coração não deixava seu corpo descansar, batendo rápido demais para ser considerado saudável. Seus olhos pesados foram esfregados a noite inteira, ficando avermelhados e doloridos, o que garantiu um ar de deslocamento para o garoto. Era bom para corroborar sua história sofrida, pelo menos.  

Por outro lado, Tom Riddle dormira perfeitamente bem. Acordara cedo, dirigindo um mero olhar para Harry, sem aparentemente se importar com a aparência cansada do outro, e dizendo que ele se arrumasse pois iriam ao beco diagonal. Harry ficou feliz com a perspectiva de finalmente comprar as coisas de que iria precisar para voltar enfim para Hogwarts. Morar no orfanato era definitivamente melhor do que viver com seus tios, mas nada nem nenhum lugar substituiria o calor acolhedor da Escola de Magia e Bruxaria.

O garoto esperou calmamente na cama, olhando o quarto em que se encontrava atentamente. Era o mesmo que ele vira na lembrança de Dumbledore, com o mesmo armário de mogno escuro que pegara fogo, a mesma janela que refletia o tempo cinzento que se arrastava do lado de fora e a mesma desconfortável poltrona puída no canto. 

Sua mente ainda estava ocupada demais em tentar processar tudo o que acontecera. Vez ou outra o garoto pensava claramente estar num sonho ou pesadelo, e algumas vezes, sua mente flertava até com a ideia de que ele fora morto muito tempo atrás na floresta proibida e que — de alguma forma — Merlin lhe considerara indigno de ir para o céu. Assim, na sua cabeça era claro que o mestre dos magos havia colocado-o num sofrimento eterno, onde teria que aturar Tom Riddle por um longo, longo tempo. Claro que na impossibilidade de descobrir se vivia uma realidade ou uma ilusão, apenas aceitara que era aquilo que tinha no momento e tentava não surtar muito. 

O barulho da porta se abrindo interrompeu os pensamentos do garoto. Após um banho quente que cumpriu sua função de relaxar todos os músculos tensos e vestir roupas emprestadas de não se sabe onde, Harry e Tom saíram do orfanato, com a devida liberação da senhora Cole, e seguiram ao beco diagonal. 

Se o moreno de óculos esperava um Tom Riddle animado e conversativo, ele se enganou. Os garotos mal trocaram sequer uma palavra no trajeto e Harry não pôde deixar de lembrar de Dumbledore dizendo que o outro era polidamente agradável. 

"Sinceramente, ele não parece muito agradável para mim.", Pensou, imaginando como todos em Hogwarts caíram no encanto daquele garoto quieto ao seu lado. 

A voz de Tom só pôde realmente ser ouvida quando chegaram enfim ao banco Gringotes, após passar pelo caldeirão furado e percorrer parte do Beco diagonal preso em pensamentos. Ele não teve escolha além de dirigir a palavra ao duende que os atendeu. 

—Harry Smith. — A voz grave do garoto respondeu, quando o duende questionou o que eles queriam ali e quem eram.

—As chaves! — Inquiriu.

—Acesso ao banco de Hogwarts. — Tom respondeu calmamente. — Primeira vez. 

E nesse momento o olhar do duende pousou em Harry. Um sorriso assustador despontou de seus lábios, rasgando a pele feia e enrugada e fazendo calafrios percorrerem toda a extensão da espinha do garoto. 

—Harry, então. Smith? Interessante, muito interessante. Não imaginei que fosse encontrar alguém tão simplório por aqui. — O sorriso assustador ainda estava bem presente enquanto dizia isso.

Tom pareceu genuinamente curioso, perscrutando o rosto de Harry com o olhar e, quando aparentemente não conseguiu captar nada, se dirigiu direto ao duende:

—O que seria interessante?

—Nada que um bruxo como você entenderia, não é, senhor Smith? — O duende olhou para harry, mas o garoto apenas se manteve em silêncio, forçando uma careta confusa no rosto, o que não fora difícil já que ele estava realmente se sentindo assim. Seria possível que a magia dos duendes reconhecessem que ele não pertencia àquela época? E se ele contasse algo para alguém? Pela visão periférica percebeu o olhar irritado do garoto ao seu lado, antes do duende prosseguir: 

Pela primeira vez...Où les histoires vivent. Découvrez maintenant