Terceiro Vagão

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Capítulo três: terceiro vagão.

O máximo que Harry poderia dizer da semana era que fora extremamente tediosa. Apesar da pequena vitória que sentiu ter tido com Tom Riddle, o segundo não se aproximou mais do que casualmente do garoto. Incrivelmente, os responsáveis por não deixar que ele morresse de tédio foram as crianças órfãs que enchiam-no de perguntas, carinhos e vontades de ouvir histórias. Harry vez ou outra via seu companheiro de escola balançando a cabeça, julgando sua proximidade nítida com os pequenos.

Ele não podia, entretanto, dizer que todo o orfanato era incrível. Haviam alguns garotos de sua idade que vez ou outra agiam de forma discriminatória consigo, fosse por andar com Riddle e — consequentemente — ser "mais uma aberração" ou por ser popular entre as crianças menores. 

"Que ótimo que os caterrentos arrumaram um pai... ou devo dizer uma mãe?", Riam-se eles para logo após ficarem vermelhos de fúria com a completa falta de reação de Harry. Ora, o menino aguentara Duda e seus capangas por tempo o suficiente para aprender a não ligar para ofensas bobas, além de que estava mais próximo dos vinte do que dos quinze. Tinha que demonstrar sua diferença de maturidade.

Se por um lado dividir o quarto com Tom lhe rendia algumas ofensas, por outro era simplesmente incrível. Os órfãos mais velhos tinham o péssimo hábito de agredir os outros, mas Harry estava completamente isento de receber socos e chutes porque a fama de Tom circundava ele como um manto protetor, mesmo a distância. Chegava a ser irônico para o moreno pensar que estava sendo protegido pelo futuro Lorde das Trevas, ainda que inconscientemente. 

Foi só na quinta feira que obteve finalmente uma notícia interessante. 

Era cedo de manhã quando a senhora Cole bateu na porta do quarto, enfiando a cabeçorra gordinha por entre uma fresta e dizendo em baixo e bom som, porém sem sua habitual voz ácida:

—Smith, um homem em nome da sua escola veio lhe ver. 

Harry trocou-se rápido, assim que o olhar de Cole foi substituído novamente pela porta fechada, tirando os pijamas pela cabeça e enfiando-se em roupas pretas e levemente gastas que recebera. Prendeu a varinha no cós da calça e cobriu-a com a barra da blusa só por precaução — caso algo desse muito errado  — e, saindo do quarto, encontrou a matrona o esperando pacientemente demais. Pôs-se a seguir ela pelos corredores de mogno escuro. 

A maioria dos órfãos, inclusive seu colega de quarto, repousavam naquela manhã fria, logo, o caminho foi feito em total silêncio. Harry teve o tempo necessário para pensar, e sua cabeça corria eventualmente para como ele lidaria com um Dumbledore jovem e vivaz na sua frente depois de tanto tempo sem ver os familiares oclinhos de meia lua e os olhos azulados do diretor.

Infelizmente para Harry, o homem que estava deliberadamente parado na salinha de reuniões, vestindo um terno muito bem passado e ajustado, não era bem quem ele estava esperando. 

—Senhor Smith, — o homem se pronunciou ao ver o rosto amarrotado e levemente decepcionado do garoto. — Como está? 

Harry percebeu a Senhora Cole saindo pela porta sorrateiramente, deixando os dois sozinhos no espaço. O moreno não lembrava de tê-la visto agir com tanta polidez anteriormente, nem mesmo frente a autoridades policiais. Mas, de fato, conseguia sentir a aura importante que o homem engravatado impunha no pequeno espaço. 

—Vou bem, senhor. —Harry sentou-se na cadeira de madeira, de frente para mesa bambeante, tentando esconder seu desânimo pungente enquanto via o homem estranho sentar-se na cadeira mais confortável do outro lado. — Imagino que esteja aqui para falar da escola?

—Sim, sim, é claro. Mas não só isso. —O homem balançou a mão, trancando audivelmente a porta. — Aqui, aqui está sua carta. Eu imagino que saiba como o sistema da escola funciona e que já tenha comprado tudo. O menino Tom Riddle deve ter se encarregado disso, não?

Pela primeira vez...Where stories live. Discover now