Maré

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Estou flutuando
Sobre um oceano escuro
Suas ondas não se movem
Suas cores não se alteram
O sol não chega até meu corpo frio

A maré salgada está penetrando por meus porus
Minha pele está secando
Eu pisco por debaixo d'água
Sentindo meu peito afundar

Minha mente está um caos pacífico
Entende?

Estou tremendo sobre a superfície

Não é nada que já não tenha passado
Nada que não tenha esperado
Ainda sim estou aqui
Repousada na areia
Completamente imóvel

Eu voltei aquele ciclo
Era questão de tempo
Que eu caísse aqui de novo

Cansei de tentar nomear
Meus sentimentos
Cansei da ansiedade, distimia, Nilismo ou seja mais o que quiser listar

Eu estou cansada já faz um longo tempo
Me obrigando a esquecer os dias anteriores
Para tentar viver os próximos
Não tem dado certo

Todas as saídas que invento
Não me levam a lugar nenhum
Eu continuo presa
Sabe?

Correndo por milhas
Mas eu estive parada todo este tempo

Debaixo de uma tempestade de granizo
Eu podia não estar chorando
Talvez as nuvens acima fizessem isso por mim
Acertando raios congelantes
Que travam meus musculos
Me fazem uma mera estátua

Subindo as escadas
Eu ainda olhei para baixo

Estão dizendo que tudo tem algum sentido
Que lá na frente você entenderá
Que nada é para sempre
Nem mesmo a dor

Mas o que alguém como eu faz?
Quando nada destas coisas importam
Já se sentiu tão exausto ao ponto de que não importa se está feliz ou não
Ainda quer apenas deixar de existir?

Eu me sinto assim a vida toda
Pense sobre seus primeiros anos de vida
Eu devia estar brincando e sorrindo
Mas eu ficava no sofá assistindo chaves
Filosofando sozinha
Como tudo aquilo era ridículo e inultiu

Indo dormir com as dúvidas insistentes
Por que existimos?
Não posso morrer?
O que é a vida afinal?

Eu poderia estar no topo
Poderia ter um amor avassalador
Uma família perfeita com todos seus defeitos
Poderia estar num jatinho
Ou poderia estar aqui
Na minha cama
Na parte periférica da cidade como estou

Eu ainda iria me fazer as mesmas perguntas
Já tive a impressão de que eu e a vida
Somos estranhas
Eu não tenho um lar
Talvez esse seja o erro

Todos me fazem ter a vontade de desaparecer
Eu odeio pessoas
Odeio elas e seus sentimentos complexos
Sua solidão e suas companhias
Suas maneiras de conduzirem suas vidas
Odeio a forma como se importam demais
Como expressão demais
Como em tudo é sempre demais

Eu sou vazia
Como um copo rachado que vaza toda água que tentam colocar
Minhas pupilas não se movem a horas
Minhas mãos estão frias e doendo
Mas de que isso importa?

Eu quis chorar
Mas como sempre não consegui
Eu sempre tenho que me forçar a isso
A sentir

Eu sou uma obsessiva pelo amor
É minha doença
Tentando achar algo que supra meu vazio
Eu já tentei me encontrar
Ser minha própria metade da laranja
Mas eu odeio estar sozinha
Por que eu não sou nada além de construções feitas por outras pessoas

Uma sem identidade desprezível
Algumas vezes eu sinto uma explosão em meu peito
Como se um deslizamento de desprezo para com minha própria existência
Afogasse meu espírito

Consegue sentir?
Essas ondas de energia além de seu corpo?
Parece que estou dispersa o tempo inteiro
Me sinto como se eu fosse tudo
Conseqüentemente, sinto nada.

A estação do inverno
Reside em mim
Sempre a mesma neve fria mortífera
Paralisando meu corpo
Me fazendo tremer
Tirando meus sentidos

Me sinto tonta o tempo inteiro
Estou tentando manter o controle
Não escutei o que me disseram segundos atrás

Compreendi que sou carcaça
Fora de casa
Ou talvez apenas
Sem um morador
Estou incompleta

Mesmo se estivesse completa
Ainda estaria me queixando
Faz parte da minha natureza
Sempre me achar desprezível
Sempre procurar motivos
Sempre tentar entender os outros como se fosse um alienígena idiota

Eu sou humana
Ainda sim parece que poderia ser apenas um cadáver ambulante
A falta de vida em mim

Estou viva, não estou?
Morte tem que ser diferente disso
Ou o que seria tudo isso?

Eu estou realmente muito cansada.

— Saturna
M.B

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