Verso

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Verso

Este que me afoga e revolta
Me aborta e adota
Me executa em teus finais sem rima
Me irrita em teu suar amargo
Que me deixa olvida de teu paladar

Este que me acalenta
Que me joga do penhasco
Amortece minha queda
Me dá assas e as queima

Este que termina sem fim
Que recomeça sem terminar
Que sufoca e aperta
Que liberta e congela
Que me induz e conduz

Este que me contorce no horizonte
Me derrama em tâmaras
Me serve
Me descarta
Se utiliza

Este que já estás cansado de minha alma
Que padece sobre o vazio deste fim
Que já não encontra esperança no reflexo de minhas lágrimas
Já não se alimenta de minha dor

Este que a cada entorpecimento
Tão profundo e intenso
Desfaz de mim num ciclo extenso
Desfazendo meus nós
Atando feridas

Este anjo que me acolhe em suas asas
Me lança aos mesmos demônios que me protege as madrugadas

Este que tanto se altera
E me adúltera

Hoje marca em meu corpo
As palavras que não saem
As palavras que engole

Este tão amargo
Este meu vício eterno
Que pouco posso me alimentar

Hoje respondeu meu verso
Tão incompleto
Hoje para não ser poeta, me deixas em abstinência

— Saturna
M.B

Angústia & PoesiaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora