Engrenagem

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É desgastante
Viver é desgastante
O mundo é desgastante
Mais ainda as pessoas que nele vivem

Cansada de como as engrenagens funcionam
Estou vendo todas as ferrugens daqui
Como todos os outros

Tentei me mover
Tentei limpa-las
Me impediram com amarras
Palavras cruéis que ecoam neste fino véu

Jogada sobre os espinhos
Decidi seguir meu caminho
Covarde
Eu não vou negar
Estarei esperando por alguém que tenha coragem que não tive

Contemplem os céus
Um dia não veremos mais as estrelas
Estaremos focados no brilho artificial

Olhos não terão cor
O sangue não será mais vermelho
De certo nosso suor não será mais sagrado

Estamos todos errados
Vivo numa inconstante nebulosa negra
Oxigénio se parece mais com veneno
Estou lutando
Estou perdendo
Rastejando
E quando imóvel ficar

Ainda perguntaram de quem foi a culpa?

Pois então culpem a todos
A mim
A toda esperança ilusória
Recobrem seus sentidos
Consumimos mas não sentimos

Estamos abaixo ou a cima da terra?
Sete palmos a cima ou a baixo?

Contém seus segredos
Durmam com os gritos
Sei que não pregam seus olhos aflitos
Estam ouvindo
Cada pedido de socorro escondido

E não se movem
Imóveis
Móveis de uma casa em ruínas
Raízes assassinas
Buscam veneno ao invés de seu adubo
Eu não as culpo

Entre a cruz e a espada
Também escolheria a lâmina
Com a promessa de um fim.

— Saturna
M.B

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