Devaneio

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As vezes me pergunto se eu vou conseguir
Se sou capaz

Está sensação de impotência
Sempre me tira o chão
Não consigo andar com a cabeça nas nuvens
Muito menos com meus pés no chão
Acho que estou mais para o inverso disto

Contando nos dedos
Quantos anos permanecerei viva
Até desistir
Até não conseguir resistir

Fases da lua
Um inconstante asteróide
Eu uma inconstante alma
Cansada

Minha mente está nublada
Afogando em uma fumaça negra que não me permite pensar
Presa em areia movediça

Eu não conseguirei
Repito isso muitas vezes
Esqueci como é tentar

Respirar dói
Falar é cansativo
Observar é tedioso

Em telas e retratos
Pincéis sem cor
Quadros em negro profundo vazio
Não posso recomeçar

Concluo que será minha despedida
Salto entre lacunas largas
Posso cair a qualquer segundo
Lutando para sair
Não
Eu apenas deitei no chão desta jaula a algum tempo

Perdendo controle
Minha mente e corpo não são meus
Isso me assusta
Não me liberta

Construí castelinho no fundo do mar
Já me acostumei a está pressão por aqui
Aos tubarões famintos que me rondam
Uma isca fácil

Serei fisgada a qualquer segundo

Solta no mar
Demônios e corais dançam na visão
Os anjos estão muito acima para poderem nós ver

Compreendi sobre o conjunto de estrelas
Compreendi que nunca seram nada além de pontos brilhantes de falsas esperanças
Elas também estão muito distantes para ver a escuridão de pessoas que vivem nesta terra

Pérolas
Somos pérolas tiradas do casulo de nossas conchas confortáveis
Sendo balancadas em pescoços alheios
Vítimas de nosso destino traçado

Contragosto
Odeio estar viva
Amo estar viva
Não sei mais o que pensar
Sinto cordas puxando meus membros
Estam me pondo para ensaiar
As cortinas se abrem
Estou sorrindo
Chorando
Amando
Odiando

E quando se fecham
Meu corpo não se move
Largado no breu
Solidão em brasa

Lutas internas
Batalhas sangrentas
Consigo contar
Quantas guerras estamos ganhando
E não preciso de meus dedos para isso

Humanidade decadente
Esquecemos sobre a alma
Vivemos com os neurônios de um robô programado

Veias e artérias entupidas
Sofás com a marca de nossos corpos exaustos por puro e simplesmente nenhum motivo

Somos a nova era
Estamos mais próximos do fim do que a anterior
Sortudos ou azarados?
Isso vai depender do ponto de vista daqueles que ainda se importam com a vida que receberam

Não sei em que lado me encontro.

— Saturna
M.B.

Angústia & PoesiaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora