O vazio de sua casa

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No vazio da casa
Teus passos ecoam
Vibrante sensação
Tuas sombras ressoam

Pelos comodos velhos e teias de aranha
Tu observas a nuance no ar
Um mero fio prestes a estourar

Nas paredes pesam quadros
Vermelhos e azuis, demarcados em seus girassóis
Com teu perfume agora podre

No vazio da casa
Teu fantasma assombra
Cada partícula minha abluida no escuro
Vigilante de seus resquícios

Sua alma me achou como casa
Fez morada e não partiu
Limpando os móveis estilhaçados ao chão
Da tormenta que nos levou ao fim

E no ponteiro do relógio
Enforca-se minutos e horas
Em decomposição a meu espírito

Quando poeira levanta na alvorada
Vejo sua silhueta andar pela cidade
A minha cidade tão vasta, tão vazia

No silêncio espia as janelas
E durante eclipses limpa calçada
No vazio da casa
No vazio de sua casa
No vazio de sua casa em minha tão vasta cidade

E se trovejo sob teu telhado
Teu chão sequer treme na ira de meus demônios
Pois vazia é sua casa

E este lugar que ocupa
Em minha tão vasta cidade
Se arraigou na terra firme, prendeu meu coração frágil

Hoje sangue em minhas veias
São os rios de sua casa vazia
Sua casa que abriga o breu, o véu, meu eu

E nos tambores que toca
Estremece toda minha tão pouca cidade
Quando as trombetas anunciam a nova chegada
Pois tua casa vazia aperta

Tão firme contra tormenta
Está casa vazia se acalenta
Sozinha na manhã que ostenta

Pois tua tão vazia casa
Abrigando teu tão pouco espírito
Atrocida minha tão frágil cidade
No alvorecer desta maldição.

— Saturna
M.B

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