Capítulo Um - Peguei, Tá Com Você

233 11 20
                                    

Lexi corria desesperadamente por uma enorme casa abandonada, estava escuro, o que tornava a procura por uma saída uma tarefa quase impossível. A única fonte de iluminação daquele lugar aterrorizante — extremamente precária, para dizer o mínimo — era um basculante no alto da parede lateral, quase chegando ao teto, completamente fora do alcance da jovem mulher.

O desespero começou a atingi-la, como golpes de uma faca afiada, lhe tirando as forças e até mesmo o ar. Não havia como escapar, Lexi estava presa ali com ele para sempre. Trevor jamais a deixaria partir, ela jamais veria Mia e sua mãe novamente. "O destino quer que fiquemos juntos, Lex", era o que ele sempre repetia.

O som de passos se aproximando fez a respiração dela ficar ainda mais irregular, não havia mais para onde correr e nem onde se esconder, ela estava em um beco sem saída. E Jay Halstead não iria derrubar a porta e salvá-la daquele tormento dessa vez.

Trevor se aproximou com um sorriso predatório no rosto, parecendo se deliciar com aquela perseguição. Talvez ele realmente fosse um animal que apreciava a sensação de subjugar sua presa, de se sentir mais poderoso, mais forte. A lâmina da faca em sua mão brilhou quando o feixe de luz a atingiu, e mesmo sabendo que ele não a mataria, Lexi chorou em pânico.

Naquele momento, ela pensou que a morte era melhor do que viver naquela prisão.

— Por favor... — sussurrou Lexi, com a voz embargada, sentindo todo o corpo tremer quando Trevor aproximou o rosto da curva do seu pescoço e inspirou, se inebriando com o cheiro dela, o cheiro de seu medo.

— Peguei, tá com você. — Trevor riu baixo, puxando Lexi para si e a levando para a escuridão junto com ele.

***

Lexi acordou com o corpo encharcado de suor e a respiração ofegante, olhou tão rápido ao redor, que sentiu que poderia deslocar o pescoço. Todo o seu corpo tremia, as lágrimas escorriam por seu rosto descontroladamente. Ela agarrou os fios do cabelo loiro e os puxou pela raiz, fechando os olhos com força e murmurando para si mesma que aquilo não era real, que Trevor não poderia machucá-la nunca mais, pois ele estava morto.

Aos poucos, seu ataque de pânico foi melhorando, sua respiração se normalizando. Lexi abriu os olhos, sentindo o aperto no peito passar ao constatar que estava em sua cama, em segurança, que tudo não passou de um pesadelo terrível. Mas a sensação de que o fantasma de Trevor sempre estaria preso a ela, não passou. Era como se Lexi o carregasse para todos os lugares, junto com seus medos e traumas. Aquilo era real. E talvez fosse durar para sempre

Respirando fundo, Lexi sentou na cama e tocou na tela do celular, vendo que já passava das três da manhã. Com um bocejo, passou as palmas das mãos no rosto, acordar naquele horário, após os pesadelos, havia virado uma rotina. Uma rotina que a atormentava.

Lexi abriu a gaveta da mesa de cabeceira e pegou a cópia da foto tirada no Halloween de 1999. Se a Lexi daquela época soubesse que o garoto sorridente ao seu lado se tornaria um monstro de filmes de terror, não o abraçaria com tanta força e muito menos se sentiria segura ao seu lado.

Por alguns segundos, se questionou o motivo de ainda guardar aquele pedaço de papel. Mas percebeu que não queria pensar, apenas precisava beber um copo d'água enquanto observava o céu noturno de Chicago.

***

Chicago, Illinois
2 meses depois

— É sempre o mesmo pesadelo? — indagou o Doutor Daniel Charles, fitando Lexi por cima dos óculos.

Há dois meses, ela havia concordado em procurar o psiquiatra, quase totalmente por influência de sua irmã, Mia, do tenente Matt Casey e do detetive Jay Halstead. Isso sem contar as inúmeras indiretas de Adam Ruzek, seu cunhado, muitas delas em que o policial recebeu a resposta pronta "como se você mesmo não precisasse de terapia, Ruz".

Além Da Liberdade {ONE CHICAGO - LIVRO DOIS}Onde histórias criam vida. Descubra agora