Além Da Liberdade {ONE CHICAGO - LIVRO DOIS}

Capítulo Trinta e Dois - Entre

Nova Orleans, Louisiana
28 de Dezembro de 2000
19 anos antes

Eric e Jade Gerard estavam comendo cupcakes na cozinha quando ouviram uma movimentação estranha e vozes altas vindo da sala de estar. Houve uma troca de olhares confusa entre os irmãos, que estavam acostumados a passar as tardes na casa de seus tios Emily e Louis Gerard, e nunca presenciaram qualquer tipo de confusão. 

— Onde você vai? — A pequena Jade, de apenas oito anos, sussurrou quando o irmão levantou da mesa.

Eric, por sua vez, levou o indicador aos lábios, pedindo que ela ficasse em silêncio, e caminhou na ponta dos pés até o corredor que ligava os cômodos. 

Conforme se aproximava da sala, as vozes ficaram mais altas e urgentes, e Eric reconheceu uma delas como a de Emily. Confuso, encostou na parede e olhou para a sala discretamente, constatando uma situação que parecia, no mínimo, alarmante.

Até mesmo para uma criança de dez anos. 

Emily, claramente transtornada, andava de um lado para o outro com as mãos no cabelo. Perto da porta de entrada estava parado um rapaz de mais ou menos quinze anos, com os punhos cerrados e manchados de vermelho. 

Eric engoliu em seco e prendeu um pouco a respiração, sentindo o medo crescer com o desenrolar da situação a qual ele certamente não deveria presenciar, mas sua curiosidade era mais forte do que seu senso comum. Era como se seus pés estivessem colados ao chão, impedindo-o de se mexer.     

— O que quer que eu faça, Trevor?! — Emily esbravejou com a voz um tanto embargada, parecendo estar lutando contra o choro há muito, muito tempo. 

— Eu só preciso de dinheiro — Trevor fungou e passou as costas da mão direita na testa, secando um pouco o suor que havia se acumulado ali. — Só isso. E eu prometo que desapareço da sua vida de uma vez por todas. 

— Você sabe que posso te ajudar de outras formas, que podemos consertar as coisas juntos… — Emily começou, mas logo foi cortada pelo garoto.

— Eu escuto vozes o tempo todo, mama, e elas não são minhas.  

Lágrimas grossas e insistentes se juntaram ao suor que molhava o rosto de Trevor. Seus lábios tremiam, indicando que ele lutava arduamente contra o choro compulsivo.

— Como podemos consertar isso?

— Com tudo que te ensinei durante esses anos.

Emily se aproximou, esticando os braços em direção a ele, mas Trevor se afastou.

— Quer que eu te dê dinheiro para você se tornar um foragido?

A mulher soltou o ar pesadamente, observando Trevor, o menino que ela havia acolhido como filho, a quem deu todo o amor que tinha. O amor que pensou que nunca conseguiria oferecer a ninguém. 

— O que aconteceu com o meu menino? — Seus olhos marejaram e Emily comprimiu os lábios com força, tentando ao máximo controlar os soluços. 

— Seu menino morreu há muito tempo atrás, mama.

O tremor nas mãos de Trevor aumentou e sua respiração ficou mais ofegante. Como se já não bastasse toda aquela confusão, agora estava tendo um ataque de pânico.

— Todos me enxotaram como lixo, eu apenas abracei a escuridão na qual fui colocado. Foi bem mais fácil do que lutar contra ela.

Para um adolescente de quinze anos, dizer aquilo apenas o deixava ainda mais assustador e sombrio. Mais imerso na escuridão que parecia muito com uma velha amiga.