Capítulo Trinta - Um Sinal Do Universo

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Covington, Louisiana
10 de Janeiro de 1985
34 anos antes

— Emily!

Apesar do barulho alto da tempestade que caía e o rádio tocando "Ain't No Sunshine", de Bill Withers, a jovem Emily ouviu seu nome ser chamado. Uma, duas, três vezes, seguido por batidas desesperadas em sua porta dos fundos.

— Emily, por favor!

Preocupada com o que poderia estar acontecendo, Emily abaixou o volume do rádio e largou seu uniforme branco recém passado em cima do sofá enquanto tentava ouvir melhor.

— Emily, é um caso de vida ou morte!

Conforme andava a passos largos em direção aos fundos da casa, Emily reconheceu a voz de Sara Price, sua vizinha.

— Um segundo! — exclamou, abrindo a porta em um rompante e sendo paralisada com a cena com a qual se deparou.

— Precisamos de ajuda. — Sara tremia de frio, o cabelo ruivo estava colado em seu rosto e pescoço, e ela estava amparando Lea Martin, sua melhor amiga. — A bolsa estourou, ela está dando a luz.

— Jesus Cristo! — Sem pensar duas vezes, Emily ajudou as duas a entrar e fechou a porta com o pé. — Por aqui.

Lea arfou, mas conseguiu caminhar até a sala, onde foi deitada no sofá.

— Sara, vá até o banheiro. Pegue toalhas e meu kit de primeiros socorros. Não é o ideal, mas é o que temos — Emily pensou rápido, sabia que não chegaria com Lea à tempo em um hospital. Não com aquela chuva e sem um carro. Faria o parto ali mesmo, como havia feito diversas vezes no hospital. — Como estão as contrações?

— Mais regulares e fortes... — A frase foi interrompida quando Lea gritou.

Mais uma contração. O bebê estava chegando.

— Certo, vou levantar seu vestido, tudo bem?

Lea assentiu e fechou os olhos enquanto tentava controlar a respiração.

Emily levantou o vestido da menina e retirou sua calcinha com a agilidade de quem estava acostumada a atender casos de emergência.

— Você tem dilatação. Seu bebê deve chegar em breve.

Sara entrou na sala e entregou à Emily tudo que havia sido pedido, recebendo um meneio de cabeça em agradecimento.

Lea sentiu mais uma contração. A dor dilaceradora a fez gritar e fincar as unhas no tecido do sofá.

— Eu estou aqui, Lea. Está tudo bem. — Sara correu para abaixar ao lado da amiga, segurando em sua mão para tranquilizá-la. — Vai dar tudo certo.

Lágrimas rolaram pelo rosto de Lea, se misturando ao suor e à chuva que pegou até chegar ali.

— Lea, preciso que você empurre o mais forte que conseguir, ok? — Emily arrumou as toalhas e se posicionou da melhor forma que conseguiu, afastando as pernas de Lea. — Agora, empurre.

A adolescente gritou ao unir todas as suas forças em um empurrão — e mais outros empurrões que se seguiram —, mas sua dor só parecia aumentar e não havia qualquer indício que o bebê iria nascer.

— Eu não consigo... — A voz de Lea saiu baixa e fraca, seu peito descia e subia de forma ofegante e ela piscou lentamente algumas vezes.

— Consegue sim, você é forte — Sara afirmou categoricamente, entrelaçando os dedos aos dela.

Além Da Liberdade {ONE CHICAGO - LIVRO DOIS}Onde histórias criam vida. Descubra agora