Prólogo.

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Reino Oceânico, Cidade do Sol

O mundo está um caos completo. Mas ele sempre esteve, principalmente quando você é apenas um órfão. E quando se vive nas ruas, você se agarra a primeira oportunidade que surge de fugir dela. Eu agarrei a minha.

Enfiei o livro dentro da mochila, correndo para a janela aberta. Ergui minha perna, passando pelo suporte até ficar pendurado do lado de fora da casa, no terceiro andar. Me segurei nas grades que subiam pela parede, para as plantas trepadeiras e desci até o chão.

—Pegou o livro? —Lyra questionou ansiosa, e eu assenti com a cabeça. Caminhamos para a saída do beco, virando na rua e dando de cara com vários guardas.

—Merda! —Resmunguei, girando nos calcanhares e começando a correr para a outra rua. Os guardas começaram a correr atrás de nós, gritando e atirando flechas em nossa direção. Viramos uma rua, deslizando no chão lamacento. Peguei o arco, puxando uma flecha, mirando e atirando para trás, acertando um dos guardas na testa.

Viramos em outra rua, enquanto a lama saltava por nossas roupas. O som da minha respiração alta se sobressaiu, enquanto a dos gritos dos guardas ia ficando cada vez mais baixa. Cortamos para outra rua e depois outra. Até finalmente entrarmos em galpão vazio e o atravessarmos rapidamente, saindo em uma rua e então nós se escondendo em um beco.

Colei minhas costas na parede gelada, enquanto ouvia os gritos dos guardas ao longe. Tentei regular minha respiração, sentindo a chuva cair sobre mim.

—A uns metros a esquerda. —A voz de Diana surgiu sussurrada, enquanto eu curvava meu corpo ao lado da parede, olhando para a rua a minha esquerda. O beco em que estavámos era estreito, fedia podridão e estava virado em um lamaçal, por conta da chuva que não parava de cair sobre nossas cabeças.

—O que eles estão fazendo? —Trevis indagou, parecendo ansioso.

—Estão parados olhando alguma coisa no final da rua. —Afirmei, sabendo que, na verdade, eles deveriam estar atrás de nos. Olhei fixamente pra lá, vendo dois guardas invernais se afastando de onde estávamos. Sem pensar duas vezes fiz um sinal para os outros e sai para a rua, sentindo a chuva cair sobre minhas cabeças.

A cidade ao nosso redor estava silenciosa e vazia. Era sempre assim agora. Não só aqui, mas em todas as cidades do continente. Todos os reinos. A Rainha das Rainhas conseguiu o que queria, um mundo inteiro para si.

—Cedric? —Lyra chamou, quando paramos atrás de uma carroça e vimos o que estavá acontecendo. Eles estavam agarrando uma garotinha pelo braço e a arrastando pela rua.

—Você roubou isso? —O guarda rosnou, balançando um saquinho de moedas, a medida que levava ela pra uma rua mais vazia. Começamos a segui-los na mesma hora.

—N... não. Eu ga... ganhei trabalhando. —Gaguejou, com uma voz de choro.

—Mentirosa! —Outro guarda rosnou, empurrando-a para o chão. Ela caiu sobre a lama suja que ensopava o chão, soltando um choramingo de dor. Olhei para meus amigos, puxando a espada que estava na minha cintura. Diana puxou a dela, enquanto Trevis e Lyra puxavam seus arcos. Eram apenas dois guardas contra nós quatro. Mas teríamos que ser rápidos.

Comecei a caminhar pela rua em direção a eles, que discutiam o que fazer com a garotinha que ainda chorava. Apertei o cabo da espada, ouvindo o som dos meus passos pela lama.

—Ei, seus babacas! —Os guardas se viraram, puxando suas próprias espadas ao me verem. —Não acham que estão grandinhos demais pra aterrorizar crianças?

—Talvez queira ficar no lugar dela. —Um deles disse e então eles vieram pra cima de mim. Ergui a espada e deslizei para o lado, deixando que Lyra e Trevis atirassem duas flechas em um deles, o derrubando. Ataquei o que estava de pé, transferindo um golpe com minha espada e dando uma joelhada na sua barriga. Ele se curvou, com o impacto e eu bati o cabo da espada na sua cabeça, fazendo ele cair apagado na lama.

Encarei os dois guardas, me ajoelhando no chão e puxando a manga de jaqueta de um deles. Diana se aproximou e fez o mesmo com o outro. Ambos tinham marcas nos dois pulsos, como se tivessem sido acorrentados. Todos os guardas que enfrentávamos tinha isso. E só tinha uma explicação possível.

—Acho que isso é seu. —Lyra estendeu o saquinho para a garotinha, que estava de pé sobre a chuva, coberta de lama. Fiquei de pé ao lado de Diana, vendo-a encarar nos quatro.

—São vocês, não são? O grupo rebelde de quem todos estão falando. —Ela pegou o saquinho, se aproximando mais de nós. —Lutando contra a rainha suprema.

Trocamos olhares, abrindo sorrisos e negando com a cabeça.

—Grupo rebelde, é? —Diana estendeu um punhado de moedas pra ela, que estendeu a mão sorridente para receber. —Pode nos chamar de Guardiões.


Continua...

Um Mundo de Sombras / Vol. 2Where stories live. Discover now