Capítulo 23: Trevas e destruição.

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Lyra

Eu e Diana levantamos antes do sol nascer. Saímos da cidade e do reino com a certeza de encontraríamos algo no horizonte. Pegamos uma carona na primeira parte da viagem ao litoral. A outra parte, foi uma longa caminhada floresta a dentro, usando um mapa que a senhora havia dado a Diana, antes de partirmos. Poderíamos acabar parando em um lugar totalmente errado, já que não era certo que nos acharíamos apenas com um pedaço de papel e algumas instruções. Mas era muito melhor que nada.

A neve fofa afundava a cada passo que dávamos, deixando nossas pegadas pelo chão. Os galhos escondidos embaixo dela estalavam, deixando claro nossa movimentação em toda aquela floresta congelada. As roupas de couro nos mantinham quentes, por mais que o ar frio fosse sentido com frequência por nossos corpos.

Diana estava com a mão agarrada a minha, enquanto eu analisava o mapa e tentava me encontrar no meio da toda aquela neve e árvores. Não havia muito a se fazer quando você não tinha um ponto de referência.

—Tem uma vila aqui. —Diana apontou para uma parte do mapa, com os dedos um pouco trêmulos por conta do frio. —Quer dizer, existia antes da rainha suprema. Era pequena demais para aparecer no mapa. Não tenho certeza se ainda está de pé.

—Podemos ir até lá. —Afirmei, vendo ela concordar com a cabeça, com os lábios trêmulos e o rosto um pouco pálido demais, o que deixava as sardas ainda mais evidentes. —Talvez alguém saiba algo.

—Se ela ainda existir. —Diana retrucou, se encolhendo. —A rainha pode ter destruído todas as pequenas vilas por aí.

—Não acho que ela perderia tempo fazendo algo assim. Quer dizer... —Tentei soar positiva, mas parei ao ver os lábios de Diana pressionados em negação, como se ela não esperasse nada além do pior daquela mulher. Bem, eu não julgava. Também não esperava nada além de trevas e destruição vindo dela.

Diana ficou em silêncio, se obrigando a pegar a frente e mostrar o caminho que a vila ficava. Não ousei perguntar mais nada. Havia uma pequena parte de Diana que se quebrava a cada parte do caminho, quanto mais o seu reino se mostrava mais fraco e mais destruído pela Rainha das Rainhas. Eu a ajudaria a colocar tudo de pé novamente.

[...]

A vila, por mais que Diana achasse que não, ainda estava de pé. Silenciosa e mais vazia do que antes talvez, mas de pé. Algumas pequenas casas de pedra se erguiam entre as florestas congeladas e a neve. A rua de pedra, sem qualquer movimento, era estranhamente desconfortável. Provavelmente acharíamos que não havia ninguém ali, se não fosse pela fumaça que saia das chaminés das casas, demonstrando que ainda existia pessoas ali.

Diana se encaminhou até uma pequena construção, que parecia um bar. Não pensei que aquilo poderia ser uma boa ou má ideia. Mas não iria discutir naquele momento. Estava com frio demais pra continuar ali fora, no meio de toda aquela neve.

Caminhamos em silêncio até lá. Entrando no bar e encontrando ele parcialmente vazio. Havia apenas quatro pessoas lá dentro, contando com a mulher do outro lado do balcão, servindo bebida para os três homens sentados em uma mesa.

Diana se dirigiu até o balcão, deslizando até estar sobre o banquinho. Me sentei ao lado dela, pressionando meus lábios trêmulos pelo frio, antes de ver a mulher de pele negra e olhos claros se aproximar e parar na nossa frente, do outro lado do balcão de madeira negra.

—Vocês trabalham pra rainha? —Indagou, segurando com firmeza uma garrafa vazia.

—Parecemos guardas? —Indaguei, erguendo os olhos até ela, observando seus olhos se cerrarem. —Não, não trabalhamos pra ela. Estamos só de passagem.

—O que querem por aqui? —Ela deslizou dois copos vazios pra nós duas, antes de enche-lo com algo que eu não fazia ideia do que era. —Só dois tipos de pessoas passam por aqui hoje em dia.

—Quais? —Diana questionou, sem erguer os olhos pra ela.

—Guardas da rainha ou pessoas que estão fugindo dela. —A mulher se escorou no balcão, soltando uma respiração pesada. —Se não são guardas, então estão fugindo dela.

—Não estamos fugindo dela também. —Afirmei, virando o líquido do copo na boca, fazendo uma careta ao sentir o líquido descer queimando na minha garganta. —Estamos procurando uma coisa.

—Que coisa? —Ela indagou, parecendo curiosa. Uma cadeira se arrastou pelo chão e eu pude ver, pelo reflexo das garrafas atrás da mulher, que um dos três homens havia ficado de pé.

—Uma pessoa, na verdade. Ronny, conselheiro real do Reino Lunar. —Diana erguer os olhos pra mulher, que a encarou, juntando as sobrancelhas.

Não achava que qualquer um ali a reconheceria. Diana estava com os cabelos presos e com a touca do casaco sobre ele. Tudo que eles podiam ver ela sua pele pálida do rosto. E também, Diana estava morta para todos eles. E não era uma boa ideia que a rainha sequer sonhasse que ela está viva.

—O que querem com ele? —Uma voz masculina falou atrás de nós. Virei o rosto e o encarei por cima do ombro, vendo que era o homem que havia ficado de pé, enquanto os outros dois ainda estavam sentados.

—Ouvimos algumas histórias. Viemos saber se era verdade e talvez... oferecer ajuda. —Afirmei, mordendo meu lábio inferior com força, vendo o homem colocar a mão no cabo da espada. —Não trabalhamos pra rainha.

—Como vamos saber? —Ele arqueou as sobrancelhas, com um ar cético. Deslizei pelo banquinho, ficando de pé e puxando a touca da minha cabeça, deixando que ele me visse além do rosto.

—Já ouviu falar do grupo de rebeldes? —Indaguei, observando Diana ficar de pé também, enquanto o homem nos analisava, assentindo com a cabeça. —Está olhando pra ele agora. Ou, parte dele. —Abri um sorriso fraco, olhando de relance pra Diana. —Falamos com Susan no castelo. Ela nos contou sobre ele e sobre o... exército.

O homem parou, se virando para os olhos dois, como se estivessem conversando mentalmente sobre o que fazer com nós duas. Então ele se voltou pra mim de novo, lançando um olhar ainda desconfiado.

—Levamos vocês até ele. —Afirmou, me fazendo soltar um suspiro de alívio. —Mas com uma condição.



Continua...

Um Mundo de Sombras / Vol. 2Where stories live. Discover now