Capítulo 52: Herdeiros.

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Diana


Olhei para onde Trevis estava, sentado em um canto do navio com uma expressão vazia, enquanto mantinha os olhos no mar. Umedeci os lábios com a língua, me preparando para a provável conversa que deveríamos ter. Ele não estava bem, isso estava muito claro. Mas se íamos enfrentar a rainha das rainhas, então tínhamos que estar todos bem.

Antes que eu fosse até ele, Kenji apareceu ao meu lado, se escorando no parapeito do navio e observando as águas que batiam contra o casco. Fiquei parada, aguardando que ele falasse o que tinha na cabeça.

—Então, princesa... —Ele olhou pra mim e então desviou os olhos. —Acho que como os únicos herdeiros vivos de todos os reinos, deveríamos conversar sobre como as coisas vão ficar no futuro.

—Está prevendo a morte da sua mãe? —Indaguei, vendo ele olhar pra mim e cerrar os olhos.

—Vocês por acaso tem a prevenção de mantê-la viva? —Retrucou, soltando uma risada fraca quando não respondi. —Pois é, foi o que eu imaginei. E por mais que a ideia não me agrade, evidentemente, precisamos falar sobre isso. Não quero cair em uma luta por uma coroa que vai envolver o mundo todo.

Olhei pra ele por alguns segundos, ponderando suas palavras. É óbvio que ele não parecia nem um pouco feliz com a hipótese da própria mãe morrer, mas parecia já estar aceitando o fato. Não tinha outra opção no final das contas. Ou a matava-mos, ou ela ia matar todos nós.

—Tudo bem. —Engoli o nó que se formou na minha garganta. —Não sei o que se passa na sua cabeça, Kenji. Mas acho que, se vamos governar os reinos, poderíamos dividir o território em duas partes igualmente. Ou... eu não sei. Você fica com as terras esquecidas que são do seu direito e eu com o continente.

—Você quer ser rainha? —Indagou, se virando pra mim e erguendo as sobrancelhas. —Você tem interesse e quer isso?

—Eu tenho, sim. Quero seguir o legado do meu pai. —Afirmei, vendo ele comprimir os lábios e assentir, antes de desviar os olhos.

—Não temos mais o que discutir nesse caso. Não tenho interesse algum em ser rei e passar o dia sentado em um trono idiota com uma coroa também idiota sobre a cabeça. Nesse caso, o mundo é seu, princesa. —Murmurou, me fazendo olhar pra ele sem piscar. —Quando tudo isso acabar, você será coroada rainha suprema. Não vai precisar se preocupar comigo, porque não tenho interesse algum nisso tudo. Ficarei longe da coroa e do seu caminho.

—Tem certeza disso? —Indaguei, vendo ele balançar a cabeça afirmativamente.

—Cedric provavelmente vai continuar no comando do Rainha Vermelha agora que sabe que era do seu pai. Axel e Kayla preferem o mar a terra firme. —Kenji engoliu com dificuldade e suspirou com os ombros caídos. —Eles serão as únicas coisas que vou ter de importante no mundo. Irei com eles pra onde for. Então sim, eu tenho absoluta certeza.

Kenji me olhou por um segundo todo, então virou as costas e foi embora, me deixando parada olhando para o ponto em que ele estava segundos atrás, absorvendo tudo que ele havia acabado de falar. Não sabia a importância de Cedric pra ele até esse momento. Mas agora acho que sei e a entendo.

[...]

Trevis estava se balançando na sua rede de dormir quando entrei no cômodo parcialmente escuro. Lyra estava procurando um canto silencioso do navio para ler e eu não queria atrapalha-la. Caminhei até nossa rede e me sentei, olhando para Trevis.

—Quer conversar sobre o que está acontecendo? —Questionei, vendo ele parar de balançar a rede e olhar pra mim com a testa franzida.

—Não tem nada acontecendo. —Ele voltou a fingir que eu não estava ali. Senti uma certa frustração, porque Trevis sempre foi a união do grupo e agora ele estava apagado e quieto.

—Por favor, Trevis. Não sei o que está rolando com você, mas quero saber porque me importo. Não quero que esse clima ruim entre todos nós continue, sendo que eu nem sei porque ele está presente. —Afirmei, vendo ele se sentar na rede e encarar o chão, como se estivesse pensando no que eu havia dito. Torci mentalmente para que ele se abrisse comigo e falasse qual o problema.

—Eu não tenho ninguém. —Falou baixinho, com os ombros encolhidos.

—O que?

—Você e Lyra tem uma a outra. Cedric tem o Kenji. Kayla tem o Axel. —Ele deu de ombros. —Mas eu não tenho absolutamente ninguém. Nunca tive e nem agora. Vocês tem alguém para quem correr quando tudo isso acabar. Eu não.

Olhei pra ele por longos segundos, finalmente entendendo qual era o problema. Trevis ficou assim depois que descobriu que Cedric tinha se envolvido com Kenji. Ele não estava chateado com a gente, estava se sentindo solitário. E as vezes, a solidão é o pior inimigo que podemos ter.

Fiquei de pé e caminhei até ele, me ajoelhando na frente da sua rede e o fazendo olhar pra mim. Não importava o que Trevis pensava, porque ele estava errado.

—Não é verdade. Você está enganado. —Afirmei, segurando o rosto dele. —Porque você tem a todos nós. Eu, Lyra, Cedric, Kayla e até mesmo o Kenji e o Axel. Qualquer um de nós sairia correndo atrás de você se soubéssemos que está em perigo. Você tem a todos nós, Trevis. Não ouse pensar o contrário. Quando tudo isso acabar, todos nós vamos estar lá com você. —Puxei ele pra um abraço, sentindo ele me envolver pela cintura e esconder o rosto nos meus cabelos. —Você nunca vai estar sozinho. Somos uma família. Onde um guardião estiver, os outros também estarão. Isso é uma promessa.


Continua...

Um Mundo de Sombras / Vol. 2जहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें