Capítulo 67: Caverna.

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Dois meses depois...

Encarei a sala circular que pertencia aos guardiões, naquela caverna escondida onde Alex vivia. Os símbolos dos quatro elementos estavam gravados no chão pela própria magia das safiras. Me lembro de quando ouvi a história sobre os conjuradores pela primeira vez, quando Cedric, Trevis, Lyra e Diana apareceram na minha porta. Daquela vez, me senti presa em algo muito maior do que eu. Sentia que era uma intrusa. Mas agora entendo o que sou de verdade e o que nós quatro somos para o mundo.

—Podemos transformar vocês em guardiões de novo. —Comentei, vendo os olhos de Miriam se voltarem para mim e ela sorrir. —Eles decidiram que vão deixar as safiras comigo, apesar de poderem pegar elas quando quiserem. Mas sabe, poderíamos mesmo fazer isso e deixá-las com vocês.

—Acho que não. Vocês quatro se provarão conjuradores de bom coração. Vão saber cuidar das safiras muito bem. —Ela suspirou, caminhando por aquele círculo que formava os poderes no chão. —Além do mais, tenho a sensação que os guardiões foram de alguma forma amaldiçoados por aquele primeiro conjurador que se voltou para o mal. Perdemos uma de nós na nossa primeira batalha. E agora, isso se repetiu. Realmente não estou interessada em provar meu ponto.

—Entendo o que quer dizer. —Balancei a cabeça, sentindo uma pontada dentro de mim pela lembrança de Lyra. —Como a rainha está?

—Ela vai ficar bem. Tem muita coisa a se fazer por todos as cortes. —Miriam indicou a escadaria. —Como você está?

—Ah... —Sorri, balançando a cabeça em negação. —Estou bem. Axel e eu temos alguns planos em mente.

—Não pretendem ficar aqui, não é?

—Esse lugar... esses reinos nunca foram a minha casa. —Abri um sorriso, sentindo uma sensação de conforto. —Vamos construir nosso próprio lar juntos, em um lugar só nosso. Mas antes... acho que teremos um longo tempo no mar com os outros.

Os olhos violeta dela se iluminaram e seu sorriso cresceu.

—Espero que seja feliz, Kayla. Espero que todos vocês consigam ser felizes.

[...]

Observei os navios que estavam atracados no porto da Cidade das Estrelas, balançando a cabeça negativamente ao ver Vlad enchendo a cara em um dos bares que ficava ali. Havia sido uma luta decidir com quem ele iria, já que Henry e Cedric estavam jogando ele um para o outro. No final das contas, Vlad mesmo escolheu, decidindo que queria ficar com Henry, o que o deixou frustado e irritado.

—Por um segundo eu pensei que ele fosse te escolher. —Trevis comentou, olhando para Cedric com um sorriso pequeno.

—Eu também. —Ele riu, balançando a cabeça negativamente. —Ele não é uma má pessoa, só está bêbado cada segundo do dia.

—Axel vai ficar assim com alguns anos, Kay. Não prefere se livrar dele, não? —Kenji indagou, fazendo Axel revirar os olhos e soltar uma risada.

—Pelo menos eu não fico bêbado com um único copo de rum. —Retrucou, dando uma cotovelada nele. —E agora vai virar um pirata.

—E o que uma coisa tem a ver com a outra? Cedric também não bebe e é o capitão do navio. —Kenji afirmou, apontando para Cedric, que fez uma careta ao olhar para o Rainha Vermelha, que o aguardava para sair em alto mar.

—Isso sequer é revelante. —Trevis rebateu. —Estou pensando mesmo que vocês três no mesmo navio vão acabar se matando.

—Por que faríamos algo assim? —Axel se virou para Trevis, fazendo o conjurador se encolher um pouco.

—É meio óbvio, não é? —Trevis deu de ombros, antes de toda nossa atenção ser voltada para a carruagem real que parou perto de nós, cercada de guardas.

Ficamos em silêncio, observando um dos guardas abrir a porta, permitindo que Diana descesse da carruagem. Seus olhos frios observaram todo porto, antes de encarar todos nós de uma forma ansiosa. Ela esfregou as mãos, umedecendo os lábios com a língua.

—Vim me despedir de vocês. Alex me avisou que iriam hoje. —Afirmou, fazendo todos soltarem a respiração. Nos últimos dias tudo que ela fez foi evitar todo mundo, principalmente os dois amigos. Ninguém tentou força-la a falar ou a demonstrar nada, sabíamos que tudo que precisava era ficar em silêncio e sozinha pelo tempo que quisesse.

—Sei que é uma pergunta idiota, mas não quer vir com a gente? —Cedric indagou, apontando para o Rainha Vermelha. —Tem bastante espaço no navio.

—Ah, não. —Ela riu fraco, balançando a cabeça negativamente. —Vou sentir falta de vocês, mas o povo precisa de mim. Venham me visitar.

—Nos viremos sempre, é uma promessa. —Trevis se aproximou dela, a olhando por alguns segundos antes de abraçá-la. Cedric se afastou de Kenji para abraçá-la também.

Quando se afastaram, ela olhou para Kenji e sorriu de leve, antes de olhar para Axel e eu. Trocamos um aceno de cabeça, antes da mesma permitir que todos nós embarcássemos no navio de Cedric. Ficamos encarando o porto enquanto o navio se afastava da terra firme, vendo Diana caminhar até a beira da água e acenar, enquanto desaparecia aos poucos no horizonte.

—Tudo bem. —Cedric se virou pra mim, abrindo um sorriso e erguendo as sobrancelhas. —Pra onde você deseja ir agora?

Olhei para Axel, tentando saber se nossa ideia inicial ainda estava de pé. Ele sorriu pra mim, parecendo tão ansioso quanto eu para começarmos o que tanto queríamos. Era tudo que eu precisava naquele momento.

—Eu mostro o caminho. —Afirmei, encarando o horizonte azul.



Continua...

Um Mundo de Sombras / Vol. 2Where stories live. Discover now