Capítulo 12: Reino Lunar.

884 197 28
                                    

Kenji

Encarei a escotilha, vendo que nos aproximávamos do reino lunar, muito provavelmente, já que as terras estavam cobertas de neve e havia a silhueta de um castelo muito ao longe no horizonte, atrás da sombra de uma cidade.

Me voltei para frente, dando de cara com Trevis, se aproximando das grades da cela onde eu estava. Sorri internamente, sabendo que o garoto provavelmente era o único ali com quem eu poderia falar livremente.

—Olá, de novo. —Murmurei, abrindo um sorriso pra ele. Trevis hesitou por alguns segundos, mas acabou abrindo um sorriso pequeno.

Não importava se tinha a eternidade pela frente e era um guardião. Ainda era só uma criança de 13 anos, que viveu nas ruas e só tem um grupo de pessoas estranhas como família.

—Seus amigos deixaram você descer até aqui? —Indaguei, olhando na direção que as escadas ficavam, já que da última vez a princesa o puxou escada a cima, querendo o deixar longe de mim.

—Eles estão ocupados. —Ele se sentou, cruzando as penas e ficando bem na frente da cela. —Como a Kay está? Soube... soube de uma coisas ruins sobre a vida dela antes das ruas.

Meu sorriso morreu e eu engoli em seco, sabendo exatamente do que ele estava falando. Por alguns segundos, fiquei sem saber o que dizer.

—Não entendi. —Consegui dizer, passando a língua nos lábios, sentido eles subitamente secos. —O que sabe sobre a vida dela?

—O Lusion que Alex aprisionou nos contou sobre o padrasto dela e os irmãos. —Trevis esclareceu, parecendo sem jeito. Bom, aquilo fazia sentido. Kayla havia nos contato sobre o Lusion e tudo que os quatro haviam falado pra ela naquele fatídico dia. —É verdade? Digo... o que ele fazia com ela?

Encarei as correntes que prendiam meus pulsos, pressionando os lábios antes de assentir.

—É, cara, é verdade. O padrasto dela era um merda. A mãe era terrível e as únicas pessoas decentes que ela tinha na vida era os irmãos. Mas eles se foram. —Afirmei, erguendo os olhos para Trevis de novo, vendo ele engolir em seco e abaixar a cabeça. —Olha, é um assunto muito ruim. Não deveríamos falar sobre isso. Talvez algo mais animado, o que acha?

—Sinto falta dela. —Foi a resposta dele, o que me pegou totalmente de surpresa. —Não acho que ela seja um monstro pelo que fez. Acho que ela só não aguentou mais e explodiu, não é? Isso teria acontecido mais cedo ou mais tarde. —Ele engoliu em seco, me encarando. —Ou ela... ela já não estaria mais aqui. De qualquer forma, sinto muita falta dela. Sempre a vi como uma irmã mais velha.

—Ela também sente sua falta. E ela se preocupa muito com você Trevis. —Me coloquei de pé e me aproximei das grades, até me sentar na frente dele. —Não importa o que digam, ela se preocupa com você e com o Cedric.

—E por que ela está em alto mar, distante de tudo? —Indagou, franzindo a testa.

—Porque seus amigos ainda estão atrás dela, não estão? E ela não quer enfrentá-los, Trevis. Não quer machucar nenhum de vocês. —Olhei pra ele, soltando uma respiração pesada. —Você gostaria de ir vê-la?

Ele olhou pra mim e cerrou os olhos.

—Não vou libertar você. —Murmurou, me fazendo soltar uma risada.

—Garoto esperto. —Afirmei, vendo ele abrir um sorriso, abaixando a cabeça em um ato de vergonha.

—Trevis? —Nos dois olhamos para as escadas, vendo Cedric descendo as mesmas, com uma expressão confusa. —Tudo bem?

—Nos só estávamos conversando. —Trevis afirmou, se colocando de pé, enquanto eu tentava esconder o sorriso que estava nos meus lábios, voltando para o fundo da cela.

—Vai lá comer. Vamos desembarcar em breve. —Cedric murmurou, levando a mão a cabeça de Trevis e bagunçando os cabelos curtos dele. Observei o garoto subir as escadas e desaparecer, nos deixando sozinhos. —Está tentando comprar ele de alguma forma?

Soltei uma risada, observando ele abrir as grades e entrar, trazendo um prato de comida até mim.

—E o que eu poderia querer dele? —Indaguei, arqueando as sobrancelhas, enquanto pegava o prato das mãos dele, morrendo de fome e sentindo minha barriga roncar ao sentir o cheiro delicioso da comida.

—Não sei. Talvez usando a Kay para fazê-lo o soltar. —Deu de ombros, se escorando nas grades, sem fazer menção de sair dali. Encarei a comida, mordendo o lábio pra não sorrir.

—E acha que ele é tão influenciável assim? —Provoquei. —Que belo parceiro você é pro garoto.

—Eu confio no Trevis. —Rebateu, me fazendo erguer os olhos e encara-lo, vendo os olhos dele fixos em mim. —Não confio em você.

—Faz uma ótima escolha em não confiar em mim. —Murmurei, começando a comer. —Deveria inclusive ficar do lado de fora da cela.

Ele soltou uma risada e eu ergui os olhos, observando aquele som saindo dele. Era óbvio que ele não estava entendendo o significado daquilo. Pelo menos não do jeito certo.

—Não tenho medo de você também, Kenji. Eu o prendi nessa corrente com uma facilidade muito grande. —Afirmou, arrancando uma risada de mim dessa vez.

—Já passou pela sua cabeça que eu deixei você me prender nessa corrente? —Questionei, com os olhos fixos nos dele, abrindo um sorriso com o canto dos lábios ao ver a expressão dele ficar seria.

—E porque deixaria eu fazer isso? —Voltou uma pergunta, me fazendo passar a língua nos lábios enquanto pensava em uma boa resposta.

—Vai ser divertido ver vocês esperando a Kay aparecer, quando eu sei que ela não vai fazer isso. —Tombei a cabeça de lado e sorri abertamente pra ele, vendo que isso o deixou desconcertado. —Ou eu posso ter tido outro motivo mais interessante.

Cedric me encarou por longos segundos, com os braços cruzados na frente do peito e uma expressão indecifrável. Não desviei os olhos dele, esperando que ele perguntasse mais sobre aquilo. Mas ele desviou os olhos de mim, franzindo a testa no processo e então saiu da cela.


Continua...

Um Mundo de Sombras / Vol. 2Donde viven las historias. Descúbrelo ahora