Capítulo 9: Eletricidade.

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Cedric

Me lembro bem quando vi o príncipe pela primeira vez. Tínhamos acabado de encontrar Kayla e contar toda a verdade pra ela. Então ele chegou, junto com aquele Portador das Sombras. Naquele dia em questão ele não parecia nem um pouco feliz com nossa tentativa de estragar seus planos, como o mesmo disse. Mas agora ele tem um sorriso muito estúpido no rosto, como se não ligasse de eu ter invadido seu navio e o ameaçando com uma espada.

—Imagino que a conversa em questão tenha a ver com a Kayla. —Murmurou, se afastando de mim e se sentando atrás da grande mesa de madeira cheia de mapas.

—Preciso falar com ela. É muito, muito importante. —Afirmei, parando na frente da mesa, vendo ele me observar com os olhos cerrados e um meio sorriso.

—Sobre as safiras? —Ele balançou a cabeça negativamente e fez um barulho continuo com a língua. —Acho que já percebeu que a Kayla não quer falar sobre isso ou encontrar qualquer um de vocês. Aliás, onde estão os outros três? —Indagou, erguendo o queixo, parecendo confuso. —Ou você é o único corajoso do grupo?

—Eles não fazem parte da conversa. —Rebati, vendo ele soltar uma risada e olhar para o lado, mordendo o lábio. —Sim, é sobre as safiras. Mas também sobre sua mãe, que está destruindo o mundo aos poucos. Não vamos ficar só observando ela se sentar no trono e transformar tudo em ruína. —Me escorei na mesa, vendo ele observar meu movimento com atenção. —Se você não se importa com o mundo, muito bem. Mas eu me importo e preciso da Kayla e, preciso das safiras.

—Você não pode lutar contra minha mãe. —Afirmou, ficando de pé e se escorando as mãos na mesa, da mesma forma que eu estava fazendo, o que nos deixou próximos demais. —Acredite, Cedric, não vai querer entrar em uma luta direta com ela.

—Eu já entrei! —Sibilei, trincando os dentes ao ver ele abrir um sorriso divertido, enquanto parecia observar meu rosto com uma atenção desconcertante. —Você não está levando nossa conversa a sério. —Constatei o óbvio, me afastando da mesa, não suportando mais a forma que ele estava me olhando.

Kenji soltou uma risada, se afastando da mesa também, dando a volta por ela.

—Ah, eu estou levando muito a sério o que você está dizendo. Só... —Ele suspirou, dando de ombros e se voltando para mim. —Kayla não vai entrar em uma briga direta com a minha mãe para ajudá-lo. Ela é minha amiga e ela sabe o quanto isso me machucaria. E depois, ela e minha mãe tem seus próprios acordos sobre isso também.

—O mundo não gira ao seu redor. —Afirmei, me aproximado dele, um pouco irritado. —Sua felicidade não é mais importante que a merda do mundo todo!

—Não. Eu concordo. —Ergui o queixo quando ele deu alguns passos e parou na minha frente, com uma das sobrancelhas erguidas. —Mas você não entende, porque você não está no lugar da Kay. Então é muito fácil pra você ou qualquer um dos seus amigos julgar as ações dela.

—Quer que eu ignore as pessoas inocentes que ela matou quando destruiu metade da Cidade dos Ossos? —Indaguei, observando os lábios dele se curvarem em resignação, enquanto nossos olhos estavam grudados um no outro.

—Você não faz ideia, Cedric, do quanto ela se culpa por isso, cada maldito dia que se passa. —Murmurou, muito lentamente e muito baixo, enquanto parecia procurar algo dentro dos meus olhos. —Vou avisar a ela que você me procurou, okay? Mas agora preciso que saia do meu navio. Você pode não saber, mas a Kay ainda se importa com você e eu não quero ter que te machucar.

Não me movi um milímetro sequer. Continuei parado, olhando pra ele, vendo-o abrir um sorriso sarcástico ao perceber que eu não sairia dali sem conseguir algo.

—Ela ficaria chateada se você me machucasse? —Indaguei, e Kenji mordeu o lábio, tombando a cabeça de lado. —E você se importa com ela.

—Mais do que você pode imaginar. —Concordou, com a respiração tocando meu rosto pela nossa proximidade.

Engoli em seco, sentindo meu coração errar algumas batidas. Minhas mãos foram lentamente para dentro da minha jaqueta, puxando a corrente que estava escondida ali. Soltei uma respiração pesada ao prender um lado no meu pulso, ouvindo um click. Kenji cerrou os olhos e eu observei as faíscas que pareciam brilhar nos olhos castanhos. O ar ficou quente ao nosso redor e meu coração começou a bater mais rápido que o normal.

—O que você pensa que está fazendo? —Ele indagou, soltando o ar com força.

—Tentando salvar o mundo. —Dei de ombros, irrompendo meu corpo contra o dele. Kenji se chocou contra a parede, enquanto eu agarrava seu pulso e prendia a corrente nele.

Por alguns segundos, ainda pude sentir meu corpo tremer com a onda de eletricidade que saiu dele e varreu minha coluna, me deixando subitamente zonzo e me fazendo trincar os dentes com força.

—Puta merda! —Xinguei, um pouco sem ar. Não achei que ele ainda fosse conseguir usar os poderes. Mesmo que por segundos.

—O que? —Ele me empurrou, puxando a corrente e erguendo o braço dele e o meu. —Você nos acorrentou juntos?

Olhei pra ele, fazendo uma careta, ainda tentando me recuperar depois da sensação de eletricidade dentro de mim. Para minha surpresa, ele explodiu em uma gargalhada, enquanto balançava a cabeça negativamente e ficava com as bochechas subitamente vermelhas.

Ele agarrou minha camisa e me empurrou, me deixando preso contra a mesa. Virei o rosto quando ele se aproximou, ficando contra mim e com a respiração batendo contra minha bochecha.

—O que pensa que vai conseguir com isso? Acha que pode me obrigar a levá-lo comigo até ela? —Indagou, puxando meu queixo e me obrigando a encara-lo.

—Pode ser. Não sei. Podemos ir até a Kayla. —Dei de ombros, vendo ele abrir um sorriso divertido. —Ou você pode vir comigo.

—Ou eu posso te matar. —Afirmou, tombando a cabeça de lado, apertando o corpo contra o meu. —E não preciso do meu poder pra fazer isso.

—Você não vai me matar. —Abri o mesmo sorriso estúpido que tinha no rosto dele. —Porque você se importa com a Kayla e não vai querer decepciona-la, me matando, não é?

Ele puxou o ar com força, movendo o polegar em círculos no meu rosto. Fiz uma careta e o empurrei para longe, sentindo meu braço ser puxado no processo, pela corrente que nos prendia.

—Temos poucas opções, vossa alteza. —Afirmei, em tom sarcástico. —Você pode me matar agora, o que deixaria Kayla decepcionada. Você poderia me entregar para os homens lá fora, que me levariam direto para a rainha, que provavelmente me mataria, o que consequentemente também deixaria a Kayla decepcionada. Ou você poderia vir comigo. Ninguém morre e a Kayla não fica decepcionada com você.

Ele soltou uma risada, mordendo o lábio em seguida e negando com a cabeça.

—E aí ela vai procurar você, pra tentar me salvar, não é?

—Exatamente isso. —Afirmei, vendo ele soltar outra risada e me encarar como se eu fosse a criatura mais inocente do mundo.

Ele tentou se aproximar de mim de novo. Mas eu ergui a mão livre e toquei o peito dele, o deixando afastado. Kenji desceu os olhos e encarou minha mão que estava contra si, antes de erguer a cabeça e fitar meu rosto, parecendo fascinado com alguma coisa.

—E então, alteza, qual vai ser? —Indaguei, observando seus lábios se curvarem em um sorriso.

—Eu vou com você, já que insiste tanto. —Murmurou, me fazendo ficar um pouco desconfiado com o tom de voz suave e tranquilo demais.



Continua...

Um Mundo de Sombras / Vol. 2Where stories live. Discover now