Capítulo 18: Vossa alteza.

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Abri lentamente a porta do quarto, tentando ter certeza que não havia ninguém lá dentro. Entrei no quarto e Lyra veio atrás de mim, fechando a porta nas nossas costas. Deixei a vela sobre uma mesinha no canto, podendo observar o quarto que um dia foi meu.

As paredes tinham um tom violeta claro. As roupas de cama eram azuis água, decorados com milhões de borboletas. Os armários estavam abertos e revirados, assim como meu closet.

—Era seu? —Lyra indagou, mordendo o lábio ao olhar ao redor. —É bem...

—Princesinha? —Ri, negando com a cabeça, enquanto me sentava na cama, ainda olhando ao redor. —Parece o quarto de um estranho agora. Na verdade, isso nunca combinou muito comigo mesmo.

Lyra observou o quarto, caminhado de um lado para o outro enquanto observava tudo. Fiquei apenas a olhando, como se existisse mais nada no mundo além dela. E quando estávamos sozinhas, realmente não existia.

Eu havia fugido porque estava cansada de ser obrigada a fazer as coisas obrigada, como se minha opinião não tivesse nenhuma importância. Meu pai me amava, eu sabia. Mas ele não se importava com o que eu queria. E aquele príncipe também não se importava.

Só que nunca passou pela minha cabeça que no momento que eu fugisse, todas aquelas coisas iriam acontecer. Lyra, Cedric e Trevis estavam lá, indo embora com a minha chance de ser livre e eu a agarrei. Mas então meu pai morreu. Todos os reis se foram. A rainha das rainha se tornou dona de todo o mundo.

As vezes me pergunto se tivesse ficado no reino, se tivesse aceitado me casar, eu estaria morta também, como todos os outros herdeiros. Mas nunca consigo ter certeza. Se eu tivesse me casado com o príncipe, talvez Kayla nunca tivesse surtado e matado todos eles, destruindo metade da Cidade dos Ossos no processo.

—Você está preocupada, não é? —Lyra veio para minha frente, se ajoelhando. —Conte-me o que a atormenta, vossa alteza.

—Ja deixei de ser uma princesa faz tempo. —Afirmei, observando as mãos dela que seguravam as minhas. —Sou uma rebelde agora. Fico pensando o que meu pai pensaria disso se estivesse vivo. Aposto que ele surtaria e iria acabar me deserdando.

—Não sei o que meu pai pensaria. Posso perguntar a ele se um dia nossos caminhos se cruzarem. —Lyra afirmou, dando de ombros. —Ou vai ver ele já morreu e eu não saiba.

—Sente vontade de reencontra-lo? —Indaguei, trazendo as mãos dela até meus lábios e beijando cada dedo macio da fada.

—Eu não sei. Por algum tempo eu queria, sabe? Queria encontrá-lo e perguntar qual era o problema dele. Porque, caramba, não tive culpa por minha mãe ter morrido. E sei que ela teria me amado incondicionalmente se não tivesse partido. —Murmurou, soltando uma risada amarga. —Nunca entendi porque ele preferiu ir embora a me criar. Eu queria encontrá-lo apenas para saber disso. Pra ganhar uma explicação decente. Mas hoje não mais. Não me importo com o que ele pensou quando minha mãe partiu. Estou muito bem sem ele. Tina me criou muito bem. Ela e todas aquelas fadas que viviam na biblioteca.

Olhei pra ela, abrindo um sorriso fraco. Lyra deu de ombros, encolhendo-os logo em seguida, quando pareceu ficar pensativa sobre o assunto.

—Se um dia encontramos ele, podemos chutar sua bunda por ter sido um pai de merda. —Afirmei, segurando o queixo dela, para que olhasse pra mim.

Lyra soltou uma risada alta, fazendo borboletas dançarem na boca do meu estômago. Tampei a boca dela com a mão, antes que sua risada chamasse atenção. Nos encaramos por alguns segundos, antes de eu afastar minha mão e puxar o rosto dela pra mim, deixando nossos lábios se encontrarem.

Lyra subiu para o meu colo, quando fiz menção de erguê-la, deixando cada perna de um lado do meu quadril. Segurei sua nuca, aproveitando a proximidade para sentir cada parte dela.

—Vamos contar aos outros? —Ela se afastou, com uma respiração abafada, deixando um selinho nos meus lábios, mas sem sair do meu colo. —Sobre o exército. Acha que devemos voltar a caverna e contar para os outros?

—Eu não sei. —Suspirei, esfregando minha testa. —Podemos simplesmente ir até lá, certo? Descobrir como é esse exército e então voltar e contar pra eles. De qualquer forma, se voltássemos pra caverna, não poderíamos sair todos juntos por causa do príncipe.

—Você não achou o Cedric estranho? —Indagou, enquanto se ajeitava no meu colo. —Depois que falou com o príncipe. Ele já estava estranho. Mas pareceu ficar mais ainda.

—Ele não quis contar o que o príncipe falou. Então pode não ter sido alguma coisa agradável. —Dei de ombros, fazendo uma careta. —Espero que ter prendido ele não tenha sido uma perda de tempo.

—Vamos descobrir ainda, eu acho. —Lyra se esfregou em mim, até deslizar para a cama, se deitando sobre todos aqueles desenhos de borboletas. Me juntei a ela, puxando-a para os meus braços, enquanto soltava uma respiração pesada. —Vamos sair ao amanhecer.

—Tudo bem. —Concordei, virando o rosto para encarar aqueles belos olhos que ela tinha, que pareciam estrelas iluminadas no meio da noite. —Obrigada por ter vindo comigo.

—Estamos juntas nessa. Sempre. —Afirmou, se aconchegando mais em mim.

—Sempre. —Concordei.



Continua...

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