Um Mundo de Sombras / Vol. 2

Capítulo 10: Princesa Diana.

Trevis

Encarei o navio no horizonte, vendo as tochas acesas e a movimentação deles, prontos para nós atacar se fizéssemos algo. Olhei para o capitão Henry, vendo ele com uma luneta, olhando naquela direção, tentando ver Cedric.

—Você deu a ideia. —Murmurou, me pegando de surpresa, como se soubesse que eu o estava observando. Ele abaixou a luneta e olhou pra mim, erguendo uma das sobrancelhas.

—Foi. Acho que pode funcionar. —Dei de ombros, vendo ele curvar os lábios em um sorriso contido. —Eu tentei ver pelo meu lado. Acho que se eu estivesse no lugar dela, viria atrás dele para ajudar.

—Mas você não sabe o que se passa na cabeça dela. —Rebateu, olhando pra mim com atenção. Encolhi meus ombros, um pouco sem graça.

—Não sei. Mas eu vivi com ela nas ruas. Éramos... éramos amigos e ela me ajudou várias vezes quando precisei. —Afirmei, sentindo meu coração apertar. Sentia saudades da antiga Kayla. —Então acho que ela viria ajudá-lo também.

Olhei para o navio de novo, me segurando no parapeito do navio, querendo que Cedric voltasse logo. Não queria que nada acontece com ele também, assim como aconteceu com a Kayla.

—Capitão, aqui! —Beron gritou, fazendo minha atenção se voltar para o outro lado, onde Cedric escalava a escada na lateral do navio e subia, completamente encharcado e ofegante. Corri até ele, vendo Lyra o puxar para cima, assim como o Portador dos Raios, que estava com o braço acorrentado a ele, terminando de subir as escadas.

—Olha só quem voltou. —O capitão Henry parou na frente dele, que se sentava no chão, passando a mão nos cabelos molhados e abrindo um sorriso.

—E aí, capitão, sentiu saudades? —Murmurou, lançando um sorriso preguiçoso a ele e voltando os olhos para nós. Ele encarou Cedric, que estava no chão ao seu lado, depois a mim, Diana e então Lyra, soltando uma risada. —Nos encontramos de novo.

—Infelizmente. —Diana resmungou, olhando para Cedric. —Por que você está acorrentado com ele?

—Se eu acorrentasse ele sozinho, não tinha tanta certeza que ele não iria fugir até chegarmos aqui. —Cedric deu de ombros. —Me pareceu uma boa ideia me acorrentar a ele.

—Ah, sim, foi uma excelente ideia. —O príncipe riu, negando com a cabeça. Cedric olhou pra ele fazendo uma careta, vendo ele se deitar no chão do navio e soltar um suspiro pesado. —Você nem imagina.

[...]

Diana pegou a chave, abrindo a corrente presa ao pulso de Cedric e então se voltou para o príncipe, que erguia a mão livre, abrindo um sorriso divertido, oferecendo o pulso para ela prender a outra corrente.

—Princesa Diana, não é? —Murmurou, olhando pra ela com os olhos cerrados. Diana o ignorou, abrindo a cela para que ele entrasse. —A última princesa viva.

—Entra! —Diana acenou com a cabeça para dentro da cela. Ele riu, erguendo as mãos e entrando na cela. —Por que ela não veio atrás de mim?

—A rainha ou a Kayla? —Ele se escorou nas grades quando elas foram fechadas, olhando para Diana com interesse.

—As duas.

—Hm, excelente pergunta, alteza. —Ele mordeu o lábio, curvando a cabeça de lado. —Minha mãe acha que você é uma ninguém. E Kayla está ocupada demais com outras coisas pra se preocupar com a sua existência.

—Ela matou meu pai! —Diana afirmou, soltando o ar com força.

—Diana! —Cedric segurou o braço dela, enquanto o príncipe abria um sorriso muito grande.

—A vida é uma merda, não é, princesa? Tentamos sempre concertar as coisas, mas elas sempre parecem ficar piores do que já estão. —Ele se afastou das grades. —Deveria parar de caçar demônios para conseguir o que quer que isso seja. Vingança, justiça. —Ele deu de ombros e então se sentou no fundo da cela. —Não vai gostar do que vai encontrar se for até o final.

—Talvez eu queira saber o que tem no final. —Diana retrucou, e ele soltou uma risada.

—Agora que estou aqui, gostaria de dizer que não vão conseguir nada com isso. —Afirmou, soando um pouco tranquilo demais. —Kayla não virá.

—Como tem certeza? —Indaguei, vendo ele girar a cabeça no chão e olhar pra mim. —Kayla se preocupa com você, não é?

Ele me encarou com certa curiosidade, enquanto eu me aproximava da cela, para vê-lo melhor.

—Você deve ser o Trevis, certo? —Indagou, e eu balancei a cabeça afirmativamente, sentindo a mão de Cedric no meu ombro. —Sou o Kenji. É um prazer conhecê-lo. Kayla me falou muito de você.

—Jura? —Soltei o ar, um pouco chocado demais, coisa que o fez rir.

—É claro. Ela me contou sobre as vezes que vocês dois se juntavam para roubar. Das vezes que dividiu a própria comida com você. —Afirmou, fazendo uma careta enquanto sorria. —Você escalou alguns andarem para entrar no quarto dela na biblioteca, só pra saber se ela estava bem.

—Sim, eu e o Cedric. —Concordei, me aproximando mais das grades, vendo ele subir os olhos até Cedric ao meu lado, erguendo uma das sobrancelhas.

—Ela me contou também que você faria 13 anos semana passada. —Continuou, voltando os olhos até mim e então sorriu. —Não acha que é novo demais para já andar aprontando pro aí?

—Está falando isso por que já tem mais de 100 anos, né? —Indaguei, e ele soltou uma risada, balançando a cabeça. —Bem, eu também vou envelhecer e continuar jovem, então acho que a idade também não faz mais diferença pra mim.

—O que? —Ele parou de sorrir, parecendo chocado. —Como assim?

—Não soube ainda? Somos os novos guardiões. —Diana murmurou, soltando uma risada ao ver ele arregalar os olhos. —Surpresa!

—Puta merda! —Ele soltou, começando a rir. —Vocês são completamente malucos, não são? —Ele voltou a olhar para Cedric, ainda rindo. —Muito bem. Acho que todos subestimamos vocês.

—Assim como nós subestimamos a sua amiga. —Diana afirmou, soando um pouco sarcástica. Olhei pra ela, desejando que ela não falasse de Kayla como se ela fosse um mostro. Eu a entendia. Mas ainda sim, não gostava de ver como Kayla era tratada.

—Ah, não. Acho que não é ela que vocês estão subestimando. —Kenji balançou a cabeça negativamente, escorando a cabeça na parede atrás de si e então olhou para Cedric de novo. —Sou eu.

Continua...