Capítulo 17: Exército.

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Diana

Prendi meus cabelos, escondendo-os dentro da touca da capa, enquanto observava Lyra fazer o mesmo com seus cabelos volumosos e encaracolados. Em seguida seguimos o caminho até a igreja do reino, onde eu sabia haver uma passagem até o castelo do meu pai. Eu já havia usado aquela passagem várias vezes, quando queria fugir um pouco.

Entramos na igreja, percebido que estava tudo silencioso e vazio. As velas acessas no altar era o único sinal de que o padre ainda estava por ali, provavelmente rezando por dias melhores no futuro. Levei Lyra até uma sala nos fundos da igreja. Era uma pequena biblioteca, com livros sagrados. Atrás de uma das estantes, a passagem se escondia, se estendendo pelo chão até a biblioteca dentro do castelo.

Puxei a estante com a ajuda de Lyra, pegando uma das velas que estavam ali e a acendendo, antes de nós duas adentrarmos naquela escuridão completa. Eu sabia que haviam guardas trabalhando para a rainha. Mas talvez, apenas talvez, se eles soubessem que a sua princesa ainda está viva, eles pensassem em ajudar a nós.

Empurrei a porta, levando junto o quadro que escondia a passagem secreta para a biblioteca do castelo. Saltei para o chão, trazendo Lyra junto comigo. Ela empurrou o quadro de volta para o lugar, fechando a passagem.

—Onde acha que ele está? —Lyra indagou baixinho, enquanto eu soltava a vela sobre uma pequena mesinha de canto. —Ou melhor, acha que ele ainda está por aqui?

—Ele não deixaria o castelo. Tenho certeza disso. —Murmurei, sabendo que nada tiraria aquele homem do castelo. Ele era muito ligado a realeza e, principalmente, ao meu pai. —Ele provavelmente está aqui apenas para manter o castelo de pé, já que são os homens da rainha que administram tudo agora. —Caminhei até a porta, segurando a mão dela e a puxando para me seguir. —Vamos até a ala dos empregados.

Abri a porta e olhei por todo corredor, vendo tudo também silencioso. Estava noite, então a maioria das pessoa já deveria ter se recolhido. Mas eu não tinha dúvidas que alguns guardas da rainha ficam perambulando pelos corredores atrás de intrusos.

Passamos pelos corredores, desviando das sombras de luz, provavelmente de alguma tochas ou velas, chegando até as escadarias que levavam até a ala dos empregados. Apressei meu passo junto com Lyra, ouvindo o som de passos atrás de nós.

Chegamos até o final da escadaria. Na primeira sala que encontrei, puxei Lyra para dentro. Apertei a mão dela, enquanto ouvíamos os passos passando pelo corredor onde estávamos antes, ficando mais baixos até desaparecerem.

—Limpo? —Engoli com dificuldade, abrindo a porta de novo e olhando para o corredor vazio. Balancei a cabeça afirmativamente para Lyra e nós duas saímos, voltando a caminhar até a ala dos cozinheiros. Entrei na cozinha, que parecia ter sido revirada por um furacão. Bem diferente da cozinha que antes era cheia de pessoas e vida.

Entrei no corredor dos quartos, sentindo o ar tenso ao nosso redor. Parei em frente a porta de um dos quartos, levando a mão a espada, ao mesmo tempo que Lyra segurava o arco. Com um suspiro pesado, bati na porta com delicadeza, tentando deixar o mais claro possível que não era um guarda da rainha. Isso se ela ainda estivesse ali.

Bati de novo quando ninguém atendeu, segurando na maçaneta, com a mão suada pelo nervosismo. Abri a porta, empurrando-a com tudo. Parei o movimento, observando o brilho metálico da lâmina contra o meu pescoço. Tirei os olhos da faca para a pessoa que a segurava.

—Susan? —Murmurei, vendo a mulher soltar a faca e arregalar os olhos.

—Ah, meu Deus, princesa? —Ela me agarrou, se atrapalhando entre fazer uma reverência e me abraçar. —Mil perdões, vossa alteza. Mil perdões.... Eu achava que era os homens da rainha.

—Está tudo bem. Se acalme. —Pedi, querendo que ela fizesse silêncio. Lyra entrou no quarto, fechando a porta. Deixando apenas a luz de uma única vela que havia ali sobre nós. —Está tudo bem, Susan.

—Achei que estivesse morta. Todos nós achamos. —Susan afirmou, erguendo os olhos até meu rosto, enquanto abria um sorriso com os olhos ficando cheio de lágrimas. —Ah, alteza, estou tão feliz por vê-la viva. Uma última esperança a todos nós.

—Estou lutando por todos vocês. E vou continuar lutando até derrubar a rainha suprema. —Declarei, segurando o rosto dela entre as mãos. —Vocês não abandonaram o castelo.

—Jamais faríamos isso. Alguns de nós... alguns de nós tiveram que partir, quando as coisas ficaram feias. Mas não todos. A maioria ainda está aqui, cuidando para que o castelo não caia em ruína. —Ela abriu um sorriso fraco. —Tínhamos esperança de que um dia tudo voltasse a ser como antes. E agora você está aqui, viva. Você está viva, alteza. —Os olhos dela ficaram vermelhos e seus lábios tremeram. —Sinto muito pelo seu pai, alteza. Ele era... era um bom rei, apesar dos pesares. Só deixou o poder falar mais alto.

—Você viu? —Indaguei, com a boca seca. —Você viu quando aconteceu?

—Oh, não. —Ela se encolheu. —A maioria de nós foi tirada do castelo quando a garota chegou.

—Ela atacou vocês? —Lyra questionou, fazendo Susan se virar assustada, parecendo notar que ela também estava ali.

—Não, não, não. —Susan balançou a cabeça negativamente várias vezes. —A garota entrou pela porta da frente, depois de dizer aos guardas que desejava falar com o rei. —Ela voltou a olhar pra mim. —Alteza, não sou a melhor pessoa para contar esse dia pra senhorita. Eu não estava lá. Apenas ouvi o que aconteceu. Talvez... talvez devesse falar com outra pessoa que estava lá.

—Ronny ainda está vivo? —Questionei, observando ela balançar a cabeça afirmativamente. —E onde ele está agora? Ainda está aqui no castelo?

—Não, alteza. Como eu disse, alguns de nós tiveram que partir quando as coisas ficaram feias. O senhor Ronny foi um deles. —Susan segurou minhas mãos entre as suas e sussurrou. —Ele está no litoral. Ele, um grupo de guardas e todos os que conseguiram fugir das forças da rainha quando ela chegou. Estão montando um exército, alteza.

—Um exército? —Lyra olhou pra mim, parecendo surpresa.

—Um exército para lutar contra a rainha suprema, é claro. —Ela soltou uma respiração pesada. —Deve ir até eles, alteza. Precisam saber que está viva.



Continua...

Um Mundo de Sombras / Vol. 2Where stories live. Discover now