Capítulo 53: Portadores.

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Kayla

Estávamos nos aproximando do território do Reino Lunar. Lyra e a princesa nos guiariam até o acampamento, onde segundo elas havia um exército pronto para lutar ao nosso lado. Eu e Axel não comentamos com elas que havíamos encontrado um acampamento como esse na Cidade dos Ossos. Talvez elas já soubessem disso.

Desviei dos marujos que fediam a álcool, querendo chegar até minha cabine. Já havia tirado todas as minhas coisas da cabine do capitão, deixando-a livre para Cedric. Agora dividia uma cabine normal com Axel, tendo que dormir em uma rede. Mas ainda é melhor do que dormir no chão.

—Kayla... —Vlad apareceu no meio do corredor, com sua garrafa de rum na mão.

—Você não se cansa de beber? —Indaguei, passando por ele e seguindo pelo corredor. —Vai morrer abraçado com uma garrafa de rum.

—É a minha fiel escudeira, fazer o que. —Deu de ombros, soltando uma risadinha, enquanto me seguia. —Ouvi falar do que aconteceu com seu portador das sombras. Achei que era impossível ele ser afetado pela magia das trevas tendo um poder vindo dela.

—Acho que estamos subestimando a magia das trevas nesse caso. —Comentei, parando de andar e olhando para Vlad. —Você foi um guardião, não chegou a enfrentar algo como isso antes de se afundar na bebida?

—Eu e meus companheiros enfrentamos muitas coisas, Kayla. Mas nada como isso. —Ele se encostou na parede, dando um longo gole, antes de voltar a olhar pra mim. —Miriam e Alex ainda ajudam os novos guardiões. Se eles soubessem de algo, essa guerra já teria chegado ao fim.

—Isso ainda não é uma guerra. —Afirmei, balançando a cabeça. —E nem vai ser, porque vamos terminar isso antes que uma guerra de fato aconteça.

—Admiro a sua coragem, Kayla. Acho que é a única aqui que não finge ser algo que não é. A única que está lutando para sobreviver e não por algo maior. —Vlad deu outro gole, mais longo que o outro. —Não lutaria ao lado deles. Mas se você me pedisse, lutaria ao seu lado. Você é forte e destemida, garota. Pode conseguir um exército de portadores se quiser.

Vlad me encarou e então virou as costas, se afastando a passos lentos e preguiçosos. Fiquei o observando até que ele desaparecesse, pensando em tudo que havia acabado de ouvir.

[...]

O navio atracou em uma praia deserta. Usamos barcos pequenos para chegar até a costa e então começamos o caminho para dentro do território congelado. Como aconteceu na ilha, o percurso foi todo em silêncio, até precisarmos montar um acampamento e fazer uma fogueira para suportar o frio. No dia seguinte, acordamos cedo e voltamos a caminhar, enquanto Lyra e a princesa olhavam um mapa a cada meia hora, tentando ter certeza que estávamos indo na direção certa.

—Ei, princesa, você está bem? —Kenji veio para o meu lado, me observando com atenção. —Está um pouco pálida.

—Estou bem. Só quero chegar logo nesse acampamento e sair dessa floresta congelada e fria. —Murmurei, umedecendo os lábios secos com a língua. —Você anda um pouco afastado de nós.

—Ah, bem... —Ele passou as mãos nos cabelos. —As coisas estão estranhas entre mim e o Axel depois daquele dia. Ele é meu irmão, só quero que as coisas fiquem bem entre nós. Mas também não posso força-lo a isso.

—Axel gosta muito de você, Kenji. Também é um irmão pra ele. —Afirmei, tocando o braço dele e abrindo um sorriso fraco. —Mas ele ainda está chateado pelo que aconteceu no quarto. Você sabe, sobre ele ter tentado me matar. Mesmo eu dizendo que está tudo bem, ele ainda está receoso.

—Por isso não está com você aqui agora? —Kenji olhou ao redor, procurando por Axel entre o grupo de pessoas que seguia pela floresta.

—Ele disse que as sombras estavam inquietas. —Falei, dando de ombros. —Acho que ele só quis ficar um pouco sozinho.

—Ta, tudo bem. —Kenji assentiu, se afastando um pouco cabisbaixo para perto de Cedric.

Deixei as pessoas passarem por mim, ficando para trás. Axel estava caminhando entre as árvores, sozinho e encarando o vazio. Me aproximei dele aos poucos, segurando sua mão e entrelaçando nossos dedos, enquanto caminhávamos juntos dessa vez. Ele ficou em silêncio no início, parecendo perdido nos próprios pensamentos e na sensação de me ter ali.

—Axel? —O chamei baixinho, me virando para olhá-lo. Ele se virou, olhando pra mim com carinho, enquanto aguardava que eu falasse o que queria. —Você gostaria de ser pai?

—Você está grávida? —Ele fez uma careta e eu acabei rindo.

—Não, só estou fazendo uma pergunta. —Dei de ombros, vendo-o absorver o que eu havia acabado de dizer. —Eu gostaria de ter filhos.

—Você quer... —Ele engoliu em seco. —Você quer ter filhos comigo?

—Quero. Sim, bom, estamos juntos, não é? Então claro que é com você. —Afirmei, soltando uma risada baixa. —Dois meninos. Já sei os nomes que quero dar a eles. Claro que se for menina eu vou gostar também. Mas... acho que você entende.

—Kay... —Ele suspirou, me puxando para perto e beijando minha testa. —Quantos filhos quiser, não me importo. Quero isso com você também. Quando tudo isso acabar, vamos ter uma vida juntos de verdade, sem medo de alguém vindo atrás de nós.

—Sim, eu gosto dessa ideia. —Afirmei, sentindo minha garganta se fechar. —Nunca tive uma família, Axel. Quero ter uma agora, com você.

—E você vai ter, amor. —Ele beijou minha testa de novo. —Você merece ter uma família de verdade, Kay.



Continua...

Um Mundo de Sombras / Vol. 2Donde viven las historias. Descúbrelo ahora