Capítulo 43: Lágrima de sangue.

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Kayla estava sentada entre Axel e Kenji. Os três estavam de frente pra nós, com o livro das revelações pronto para ser usado. Observei Axel pegar o mesmo, fazendo uma careta ao folhear as páginas até para em uma.

—Tesouro ou a ilha? —Indagou, olhando para Kayla.

—Ilha primeiro, tesouro depois. —Afirmou.

Axel assentiu com a cabeça, soltando uma respiração pesada. Então começou a ler as palavras que haviam na página, fazendo a magia começar a tomar conta do livro, com as palavras saindo para fora da folha. Kenji puxou o mapa do nosso mundo, começando a fazer algumas marcações nele, enquanto oscilava o olhar entre a magia do livro e o mapa.

—Existe? —Cedric se inclinou para ver o que Kenji estava fazendo. Ainda estava agarrado ao diário do pai.

—Sim. Nunca que iriamos encontrá-la. —Kenji olhou para Kayla. —Estávamos sempre indo na direção oposta.

—Tudo bem. —Kayla indicou o livro com a cabeça e olhou para Axel. —Pode descobrir sobre o tesouro que está lá agora.

—Vamos torcer pra ser algo muito útil. —Comentei, engolindo em seco. —Não quero lutar contra guardas das trevas sem nada nas mãos.

—Guardas das trevas. —Kenji soltou uma risada baixa. —Gostei do nome. Minha mãe seria o que, rainha das trevas?

—Com toda certeza. —Afirmei, quase sorrindo quando ele riu de novo, um pouco mais alto dessa vez. Mas a tensão entre o grupo ainda estava forte o suficiente para me fazer hesitar em sorrir pra ele.

Axel voltou a ler o livro, com aquela magia surgindo de novo, mais forte e mais viva do que eu jamais tinha visto. Ele e Kenji trocaram olhares, enquanto observavam as palavras que saiam para fora das páginas, flutuando acima do livro. Mordi o lábio, desejando saber o que eles estavam vendo.

—Bem, não é algo tão ruim assim. —Kenji coçou a garganta, parecendo não saber o que dizer. —Mas não era bem o que eu estava esperando.

—É uma relíquia dimensional ou não? —Trevis indagou, enquanto Axel fechava o livro com força. estalando a língua.

—Sim, mas não é algo único. —Axel afirmou, empurrando o livro pro meio de nós. —Existem várias dessas coisas em todos os mundos, você precisa de sorte para encontrar uma. São raras demais.

—O que é? —Diana indagou, franzindo a testa.

—Uma lagrima de sangue. —Kenji respondeu, juntando o livro e ficando de pé, assim como todos nós. —Vamos fazer um pedido as estrelas e rezar pra que elas nos ouçam.

[...]

Me lembro de ouvir Miriam falar sobre as lágrimas de sangue. Flores mágicas que nascem em lugares inesperados. Relíquias dimensionais que permitem qualquer um que encontrar uma, fazer um pedido as estrelas. Não estrelas do céu, que brilham a noite. Mas estrelas de verdade, com seu próprio reino e mundo. Não sei ao certo o que podemos fazer com uma delas. Que tipo de pedido poderia ser feito. Mas espero que a flor nos ajude de alguma maneira.

Estava de mãos dadas com Diana, desviando das pessoas que andavam pelas docas da Cidade Marítima. Kayla e Axel estavam indo na nossa frente, olhamos todos os navios atracados ali. Um deles era o Rainha Vermelha. Não era o navio de Kayla. Era o navio do pai de Cedric e involuntariamente dele.

—Capitã! —Observei o homem que se aproximou dos dois, falando alguma coisa pra ela, antes de nos guiar até o imenso navio. Olhei por cima do ombro, vendo a expressão neutra de Cedric ao encarar o navio. Mais uma lembrança do pai dele.

—Bem-vindos ao Rainha Vermelha! —O homem murmurou, sorrindo enquanto subíamos a rampa para o navio.

—Pode arrumar um lugar pra elas, Kaiser. —Kayla pediu, indicando eu e Diana com a cabeça. —Cedric, nós podemos conversar?

Ele estava olhando para o navio com muito interesse. Mas se voltou para ela e assentiu com a cabeça. Ele seguiu Kayla para a cabine do capitão e eu me perguntei se ela deixaria ele a frente de tudo. Mas não tive tempo de pensar a respeito, já que Kaiser indicou que o seguíssemos.

—Você está bem, Trevis? —Diana indagou, enquanto Trevis acelerava o passo para ir a nossa frente.

—É claro. Por que não estaria? —Respondeu se forma brusca, fazendo eu e Diana nos olharmos confusas. Seguimos Kaiser até uma cabine cheia de caixas, com algumas redes. Não era o melhor lugar do mundo, mas também já havíamos dormido em lugares mil vezes pior que aquele.

—Acha que ela vai entregar o navio pra ele? —Diana indagou, esfregando a nuca enquanto soltava as bolsas no chão.

—Talvez. Eu não sei. —Dei de ombros. —Queria poder sentir as safiras. Só... estamos a tanto tempo pensando nelas que eu queria saber qual a sensação de ser um guardião de verdade.

—É só pedir pra ela. —Trevis passou por mim, indo até a rede do canto.

—Pra Kayla? Não vou pedir as safiras pra ela. —Afirmei, soltando uma risada. —Ela nunca me entregaria.

—Ah, tem certeza? —Ele me olhou por cima do ombro. —Ou sua inimizade com ela impede de pensar que ela entregaria?

—Por que ainda estamos falando sobre isso? Pensei que já tínhamos chegado a um consenso de que iríamos tentar. —Diana afirmou, olhando para Trevis com os braços cruzados. —O que está havendo com você? Passou a viagem toda até aqui em silêncio e agora parece pronto para uma guerra.

—Talvez eu esteja pronto para uma guerra. —Ele deu de ombros, bufando. —Ou eu só esteja cansado de tudo isso.

—Trevis... —Dei um passo na direção dele, mas o mesmo negou com a cabeça e se afastou em direção a porta.

—Relaxa, eu tô bem. Vou dar uma olhada pelo navio. —Afirmou, soando um pouco frustrado demais. —Depois a gente conversa... ou não.

A porta se fechou atrás dele quando ele saiu, deixando a sensação mais estranha do mundo naquele cômodo. Olhei para Diana, vendo que ela estava com a mesma expressão confusa e cansada que eu. O mundo estava um caos e até mais amigos estavam estranhos agora. E tenho a estranha sensação de que tudo pode piorar.



Continua...

Um Mundo de Sombras / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora