Capítulo 16: Cidade da Esperança.

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Desci da carruagem, olhando para as ruas da Cidade da Esperança. Não havia mais aquele brilho de antes. Com agricultores ricos e lojas chiques por todo lado. Como na Cidade do Porto, o ar sombrio tomava conta de tudo, enquanto os guardas andavam pelas ruas, procurando por qualquer coisa errada.

Axel desceu atrás de mim, enfiando as mãos no bolso da calça enquanto fazia uma careta pra tudo aquilo. Comecei a andar, enfiando as mãos no bolso da jaqueta, sentindo as gotas de chuva baterem contra mim. Axel me seguiu em silêncio.

Caminhei pelas ruas que eu conhecia bem, sentindo a chuva aumentar, molhando meus cabelos e minhas roupas. O primeiro trovão cortou o céu, me fazendo lembrar de Kenji automaticamente, como se de alguma forma fosse ele ali. Mas eu sabia que não era.

Entrei na pequena rua estreita, que dava para um beco, onde um grupo de elfos estavam jogados na lama, bêbados demais pra fazer qualquer coisa certa. Empurrei as portas do bar, com Axel entrando atrás de mim, olhando ao redor com uma expressão séria.

—Quer que eu peguei um quarto pra gente? —Indagou, quando desviei de uma fada do sexo, que estava pronta pra por as mãos em mim. Olhei pra ela com uma careta, vendo ela rir e erguer as mãos pra cima, já se afastando.

—Da última vez não deu muito certo. —Afirmei, lembrando de quando estávamos na Cidade do Sol e Axel foi atingido por uma flecha, quando tentou proteger Kenji. Esse, assim como o outro bar que estivemos, era da maga Astrid. Pelo que Axel me contou, ela tinha um em casa cidade.

—Ninguém está tentando nos matar dessa vez. —Axel rebateu, me fazendo olhar pra ele com as sobrancelhas erguidas.

—Não tenho tanta certeza disso. —Afirmei, vendo ele rir.

—Prefere dormir na rua mendiga? —Provocou, começando a se afastar em direção ao bar.

—Prefiro te dar uma facada. —Murmurei, desviando das pessoas pra segui-lo. Axel parou no balcão do bar, fazendo o sinal para o rapaz do outro lado servi-lo. Revirei meus olhos, sabendo que Axel não podia ver nada com álcool que já estava indo beber.

—Astrid está onde? —Axel indagou ao rapaz, enquanto ele deslizava o copo cheio até ele.

—Estão procurando por ela? —Questionou, olhando de Axel pra mim. —Deram sorte se a resposta for sim. Ela está aqui hoje.

Eu e Axel trocamos olhares, antes de ele virar o líquido todo na boca e tocar meu braço com cuidado, fazendo sinal para que eu fosse até as escadas. Subi atrás dele, percorrendo o longo corredor de portas, até a que dois elfos mau humorados estavam de guarda.

—Astrid? —Axel indagou, vendo eles olharem pra nós dois.

—Ela não está. —Um deles respondeu, me fazendo revirar os olhos, enquanto Axel estava a língua.

As sombras saíram dele, empurrando os dois de frente da porta, os deixando prensados contra a parede do corredor. Axel caminhou até a porta e bateu nela, enquanto eu negava com a cabeça. Ouvi a voz feminina do outro lado e Axel abriu a porta, entrando no escritório e abrindo espaço para eu passar. As sombras soltaram os dois no mesmo instante, fazendo-os desabar no chão com um banque, ao mesmo tempo que Axel fechada a porta na cara deles.

—Deveria dizer aos seus homens pra não ficarem impedindo os outros de vê-la. —Afirmei, vendo Astrid erguer os olhos de onde estava, sentada atrás da grande mesa de madeira cheia de papéis. —O que faz fora da Cidade do Sol?

—Bom ver vocês dois também. —Zombou, se curvando sobre a mesa. —A que devo a honra da visita?

—Só estamos esperando o Kenji. —Axel afirmou, girando pela sala, olhando cada coisa estranha e maluca que Astrid tinha ali. —Ele anda... ocupado.

—Sei. —Ela suspirou pesado, voltando a olhar pra mim. —As coisas estão ficando difíceis. Tive que sair da Cidade do Sol depois de arranjar alguns problemas com os guardas da rainha suprema. E pra piorar, alguém esteve lá e roubou o livro das revelações de mim.

—Como? —Axel parou de caminhar, se voltando pra ela com as sobrancelhas erguidas em confusão. Astrid bufou, antes de dar de ombros e responder.

—Alguém entrou no meu escritório e roubou o livro das revelações. Os rebeldes que todos estão falando foram vistos na cidade naquele dia. Não tenho dúvidas que foram eles. —Afirmou, enquanto eu engolia muito lentamente, ouvindo aquelas palavras dela. —Não sei porque a rainha suprema já não deu um jeito neles.

—Mas... —Axel parou, parecendo pensar nas palavras, enquanto olhava pra mim de relance. —Não é qualquer um que entende as palavras transcritas nele, não é?

—Oh, não. É uma língua muito antiga. —Afirmou. —Os feiticeiros que o criaram fizeram de tudo pra que ele não se tornasse fácil de se usar. Poucas pessoas sabem lê-lo. A maioria dos magos. Os feiticeiros atuais. E talvez algumas pessoas que se empenhem em aprender a língua.

—Você sabe. —Falei para Axel, soando como uma afirmação e não pergunta.

—Sei. Kenji também sabe. Quando estávamos no Mundo Inferior procurando por algo forte o bastante para quebrar a barreira, aprendemos muitas coisas. —Axel afirmou, mordendo o lábio, parecendo pensativo. —A língua dos feiticeiros foi uma.

—Deveriam ter aprendido a das bruxas. Ninguém nunca consegue ler os malditos livros que elas escrevem. —Astrid resmungou. —Sempre preciso recorrer a uma, quando quero uma magia específica.

Ela continuou reclamando sobre bruxas e línguas antigas, enquanto Axel olhava pra mim, com uma das sobrancelhas erguidas, parecendo estar pensando o mesmo que eu. E eu sabia que estava.

Cedric, Lyra, Trevis e a princesa estavam com o livro das revelações. A descoberta me fez engolir em seco. Não sabia se Alex ou Miriam sabiam ler a língua antiga dos feiticeiros. Eles tem séculos de vida. Muito mais que Axel e Kenji. Podem muito bem ter aprendido em algum momento.

Mas o que eu não conseguia imaginar, era o que eles queria com o livro. O livro das revelações, assim como as safiras, é uma das relíquias dimensionais. Sendo assim, pode ser tão perigoso quanto elas, se usadas de forma errada.



Continua...

Um Mundo de Sombras / Vol. 2Where stories live. Discover now