Capítulo 39: Olá, Trevis.

666 151 31
                                    

Trevis

Coloquei o binóculo na frente dos olhos, me ajeitando no telhado da casa para olhar todas as ruas e o horizonte, o mais longe que conseguia. Estava procurando qualquer sinal de Kayla, Cedric ou Kenji. Estava ali a horas. Já havia até perdido a conta. Mas até agora, nenhum sinal de um deles.

Depois que parei de sentir o poder incrível da safira, quando vi Cedric despencando do trem e caindo na água, não tive outra opção a não ser pular do trem assim que consegui escapar daqueles guardas. Peguei uma carona até a Cidade da Esperança e agora estou aqui, esperando qualquer oportunidade para encontrá-los. Mas já estou começando a achar que estou perdendo tempo.

Foquei meus olhos com os binóculos voltados para a área mais movimentada da cidade, com meus olhos se cerrando para ver melhor, quando uma mancha de cabelos ruivos surgiu na minha visão. Abri um sorriso muito grande. Cabelos ruivos eram muito comuns. Mas duas garotas andando juntas, uma morena e outra de cabelos vermelhos como os de Diana só existiam duas.

—Achei vocês! —Exclamei, enfiando o binóculos na mochila e correndo para descer daquele telhado e alcançá-las. Agora nós só precisávamos encontrar Cedric e eu esperava mais do que tudo que ele estivesse bem.

Corri para as ruas assim que desci, desviando das pessoas que estavam pelo caminho, tentando não chamar a atenção dos guardas. Mas por algum motivo estranho, não havia nenhum naquela área. Visualizei Lyra e Diana entrando em uma das ruas mais vazias e me esforcei a correr mais rápido, mesmo que minhas pernas estivessem cansadas das últimas horas.

Virei a rua, acelerando o passo e desviando das pessoas. As duas estavam quase virando uma rua quando agarrei o braço de Lyra. Ela se virou, assustada. Ergui as mãos pra cima quando ela colocou uma faca no meu pescoço.

—Puta merda, Trevis! —Ela puxou a touca da minha jaqueta, deixando meu rosto a mostra, antes de abaixar a faca e me puxar para um abraço. —Você me assustou. Não pode chegar assim. E se eu tivesse te acertado?

—Desculpe. Só não queria perder vocês de vista. —Afirmei, me sentindo feliz por vê-las ali, tão bem. Lyra se afastou, deixando que Diana também me abraçasse apertado. Faziam um bons dias que não as via. —Por onde vocês andaram? O que estavam fazendo?

—É uma história um pouco longa. —Diana se afastou de mim, bagunçando meu cabelo. —Estou feliz por ver você, Trevis. Onde está o Cedric?

—Alex e Miriam nos contaram o que aconteceu. —Lyra afirmou, enquanto nós três nos afastávamos para longe da multidão. —Como Kenji conseguiu uma safira para fugir?

—Eu não sei. Estávamos na floresta e de repente eu senti a magia da safira. Quando vi já estava criando uma flor com a mão. —Dei de ombros, vendo as duas me observando. —Pegamos um trem para vir até aqui, mas aconteceram algumas coisas malucas e eu acabei me perdendo do Cedric. Estava procurando ele aqui. Mas até agora nada. —Parei de andar, sentindo meu coração errar algumas batidas. —Ele está bem, certo? Estou tentando me convencer que sim. Mas estou com medo de não voltarmos a vê-lo.

—Ei, relaxa. —Lyra segurou meu rosto entre as mãos. —Vamos encontrá-lo. Só precisamos pensar.

—Acha que ele pode ter encontrado o Kenji? Ou talvez até a Kayla? —Diana olhou para Lyra, erguendo as sobrancelhas. Observei as duas se encarando por longos segundos, como se estivessem conversando mentalmente sobre o fato.

—Eu ainda estou aqui, tá legal? —Exclamei, puxando as duas para um canto da rua, silencioso e vazio o suficiente. —Olha só, eu sei que vocês não gostam dela e vocês tem todo o direito. Ela fez coisas muito, muito erradas. Mas, por favor, quando encontramos ela tentem não se mataram.

—Não iríamos atacá-la gratuitamente, Trevis. —Lyra retrucou, esfregando a mão no rosto. —Não acho que ela vá querer ajudar a gente depois de tudo que aconteceu. Mas você e Cedric confiam tanto nisso que podemos tentar um diálogo.

—Mesmo? Diana? —Olhei pra ela, vendo-a observando a rua com atenção. Sei que ela era a que mais tinha motivos para não gostar de Kayla. Mas sabia que Diana também era só uma vítima, como todos nós.

—Confio em vocês, Trevis. Vou tentar, tá legal? Prometo que vou tentar. —Ela respirou fundo, fechando os olhos por alguns segundos. —Só queria que vocês me entendessem também.

—Nos entendemos. —Afirmei, vendo ela negar com a cabeça. —Qual é, a gente te entende. Você tem motivos para odiá-la. Mas Kay não é nossa inimiga. A rainha é. Não quero perder todos vocês em uma briga contra nós mesmos, Diana. —Declarei, segurando as mãos dela. —Vocês são as única família que eu tenho. Não quero perder isso quando a rainha for derrotada.

—Ninguém aqui vai perder nada. —Ela me apertou, bufando. —Vamos continuar todos juntos quando isso acabar.

—Promete? —Indaguei, escutando sua risada.

—Prometo, Trevis. Prometo mesmo. —Ela se afastou, segurando a mão de Lyra, antes de sorrir pra mim. —Agora vamos encontrar o Cedric e ver em que confusões ele se meteram.

Saímos andando na rua, decidindo o que deveríamos fazer. Estávamos tão distraídos, que nenhum de nós três percebeu o grupo de guardas que nos aguardavam, misturados com as pessoas, como se fossem apenas moradores dali.

Estavam lá o tempo todo, nos observando e esperando o momento certo. Eles puxaram as espadas ao mesmo tempo que nós três fazíamos o mesmo, ficando cercados por eles em segundos, quando mais e mais apareciam. O medo tomou conta de mim, apesar de eu estar com a espada firme nas mãos.

—Não se mexam! —Um deles gritou, enquanto eu engolia em seco ao lembrar do que havia acontecido no trem. Aquilo não era bom. Não era nada bom.

—Garotas... —Engoli em seco uma segunda vez, sentindo a espada pesar na minha mão, enquanto aqueles caras se aproximavam cada vez mais de nós. —Eles não morrem.

—O que? —Diana exclamou, guardando a espada para puxar o arco. Ela atirou uma flecha ao mesmo tempo que eles atacavam, não me dando a chance de explicar que não tínhamos chance alguma contra todos eles.

Por sorte, eu acho, eu era menor e tinha um pouco mais agilidade que eles para correr. Desviei dos golpes, erguendo a espada e atacando. Se eu não ia conseguir matá-los, pelo menos tentaria atrasa-los. Aceitei alguns nas pernas, antes de sentir uma das espadas acertando meu braço. Soltei um grito, cambaleando para trás ao mesmo tempo que via Lyra e Diana tentando lutar.

Fechei os olhos quando uma espada veio na direção da minha cabeça. O ar ficou preso nos meus pulmões e o suor escorreu pela minha testa, enquanto eu aguardava. Mas quando nada aconteceu, abri os olhos e me deparei com a espada a centímetros do meu rosto, completamente congelada, assim como o homem que a empunhava.

Dei um passo para trás, arregalando com olhos, sentindo meu coração acelerar ao ver Kayla lutando contra eles, congelando cada homem e mulher que usava uma espada. O gelo estava se espalhando pelo chão, atingindo cada um deles com uma velocidade impressionante, enquanto ela controlava a safira. Uma espada se formou na mão dela, antes da mesma começar a atacar aqueles que não eram atingidos pela magia da pedra.

Ela parou apenas quando o último homem estava congelado. Olhei ao redor, vendo tudo que ela havia feito ali em segundos, antes de encontrar Diana e Lyra olhando na direção dela, com as respirações ofegantes e as espadas manchadas de sangue. Nenhum de nós se moveu, até que Kayla olhasse na direção delas e depois pra mim, muito lentamente.

—Olá, Trevis. —Ela sorriu, de uma maneira que me fez ter certeza que a Kayla que eu conhecia ainda estava lá dentro, em algum lugar.



Continua...

Um Mundo de Sombras / Vol. 2حيث تعيش القصص. اكتشف الآن