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A N N A

Pego meu mix de frutas vermelhas da mão da mulher atrás do balcão e sorrio me viro voltando a andar com o terro até a saída.

Terro: ret mandou te levar logo - reviro os olhos levando o canudo até a boca. Estamos aqui quase o dia todo, olhando lá pra fora eu vejo já caindo a noite de hoje. Era pra ser só um tecido e fazer a unha, mas acabei comprando vários tecidos e fiz a unha e cabelo. Talvez eu fui inconveniente, meu dinheiro não é infinito e já está acabando, então agora eu tenho que arrumar um trabalho e economizar - vai em mais algum lugar? - balanço a cabeça negando.

Fiquei o dia todo com ele e não trocamos mais que dez palavras. Já tinha visto ele lá pelo alemão e nunca tinha falado, agora eu entendi, ele falou só o básico comigo. Nas primeiras horas eu tentava puxar assunto, mas fui cortada várias vezes e me senti idiota, agora nem respondo mais ele, só movimento a cabeça.

Piso o degrau da escada rolante trocando o copo de mão, com a outra eu ajeito minha bolsa no ombro. Passo a mão na minha bunda pegando meu celular no bolso da calça enquanto olho pros meus pés dentro da slide cinza escura e na pontinha minhas unhas pintadas com francisinha.

Ligo o aparelho vendo a notificação de um número desconhecido. Estreio os olhos pras mensagens, desbloqueio e entro no contato.

Vou te passar uma conta onde tem um dinheiro
Se quiser vim pra Turquia, pode usar ele
Eu mandaria um Jatin pra você, mas se sentir mais confortável vindo em de avião pode usar esse dinheiro
Quero muito te conhecer, não vou fazer nada e nem te obrigar a nada. Só quero conhecer minha filha

Desligo sem responder e respiro fundo vendo mais uma mensagem chegar, mas eu não respondo.

Levanto a cabeça levando o canudo até a boca fazendo o gosto das frutas geladas descer pela minha garganta. Bato o olho em uma mulher lá em baixo, ela tá de costas e o cabelo grande e preto denúncia quem eu não queria. A baixinha se vira com o telefone no ouvido com uma cara nada boa, ela gesticula começando a andar.

Olho pro terro na minha frente e abaixo um pouco tocando na arma das costas dela, vi que ele estava armado quando chegamos aqui, ele tampou mas eu sei que está ali.

Terro: ta maluca? - segura meu pulso olhando pra mim por cima do ombro - tira a mão - pisa pra fora da escada se virando de frente pra mim, saio também seguindo a mulher com o olhar - Anna?

Anna: vamos embora - olho pros olhos verdes dele e desço pra ele colocando a mão pra trás - não quero mais ficar aqui

Terro: o que aconteceu? - nego começando a andar rápido pro estacionamento. Jogo minha bebida no lixo, nem consigo mais descer nada pela minha garganta porque está fechada em um nó misturado de nojo e choro - tá tranquilo patroa?

Não respondo. A porta se abre e eu quase corro pro carro, paro em frente do veículo branco de quatro portas, o barulho e a luz que piscou me faz abrir a porta e entrar. Solto o ar que nem sabia que estava prendendo e respiro fundo juntando meu cabelo nas mãos.

Eu juro que fiquei cega, meu ódio me fez pensar apenas em matar ela. Minha cabeça ainda rodeia o que eu poderia ter feito lá dentro. Fecho os olhos forte prendendo meu choro, não quero chorar de raiva, na verdade eu nem sei se esse choro é de raiva, tristeza ou decepção, eu só sei que segurei ele até o carro parar em frente o portão e eu me virar pegando as três bolsas grandes no banco de trás saindo sem nem responder o terro.

Fecho o portão atrás de mim, me encosto dele fechando os olhos mais um vez pra respirar ficando alguns longos minutos ali. Só de saber que ela respira faz meu sangue ferver. Eu sentindo isso em relação a pessoa da Bruna? Nunca imaginei, esse desgosto que tomei por ela desaba mais uma vez a dor sobre meu peito.

Tomo um susto com a sequência de tiro alto e me abaixo correndo lá pra dentro, outra sequência me faz encolher os ombros correndo mais pra parte de trás da casa. Na sala eu olho pro portão todo perfurado e os tiros pararam.

Foi rápido e não escuto nenhum barulho do lado de fora. Abro mais os olhos assim que escuto alguém gritar e outra sequência de tiro soar sobre meus ouvidos.

Jogo as bolsas no sofá correndo, abro o portão e vejo um dos meninos em pé apontando o fuzil pro carro preto virando lá no final da rua e no chão os outros três que fazem a segurança, todos em poças de sangue.

Levo as mãos até a boca sentindo o arrepio na espinha, arrasto as mãos pro cabelo segurando firme, ele me olha e corre pra minha frente tocando no meu braço.

- volta pra dentro, patroa - um zumbido se mistura com a voz dele, nada me faz olhar pro menino na minha frente. A primeira lágrima desce pelo meu rosto e as outras aproveitar pra descer em uma sequência descontroladora - o patrão tá chegando, Anna! - ele me balança - eles não morram - toca meu rosto desviando meu olhar dos meninos no chão pra ele - entra

Nenhuma palavra é formulada na minha cabeça, eu apenas viro passando pelo portão perfurado, no chão tem as balas, subo os degraus até a sala começando a chorar mais ainda.

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Amante Do Perigo ²- Filipe Ret Where stories live. Discover now