Amante Do Perigo ²- Filipe Ret

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Olho pra trás pela última vez antes de seguir o velho na minha frente. Eu juro que se não fosse a dor filha da puta na minha cabeça, já teria matado ele aqui mesmo. Não consigo pensar....pela primeira vez me vejo sendo fraco, vejo que quando mais preciso de mim mesmo, falho. Agora eu sinto na pele que em momentos como esse, eu não teria capacidade de proteger minha família.

Pai: já falei que ela tá bem - ele chega do meu lado e se senta na escada também. Encaro fixamente uma parede aleatória que está na minha frente enquanto escuto ele falar - vamos sair dessa

Ret: me deixa pensar, velho desgraçado - ele me olha indignado - vaza, mete o pé

Pai: tio tá subindo com eles, falamos que pegamos você. Quando eles aparecem, os nossos vão abrir fogo contra os deles, Colombiano e Santana fica por sua conta - ele fala tudo rápido saindo de perto de mim.

Participei de muito conflito, guerra, papo de dias em troca de tiro. Tenho bala alojada pelo meu corpo por conta disso.....e vou falar, não bato no peito pra ninguém que chega em mim e fala que quer entrar nessa merda, não bato no peito pra me orgulhar não, ta ligado. Pra tá aqui dentro, tem que ter foco, nada de família. Por que tua mente te consome a cada segundo dentro de uma troca de tiro. Tua mente te sabota sem tu nem perceber.

Quando eu estava dentro daquela casa escutando a correia do lado de fora, só conseguia imaginar que aquele seria meu fim, não tinha saída, eles iam me achar. Quando bati de frente com todos eles naquela rua, pude sentir todas aquelas balas perfurando meu corpo. Eu sabia que aquele seria o meu fim, e pra falar a verdade, já tinha aceitado que a vida tinha me forçado a deixar a mulher que eu mais amo no mundo, aqui, sozinha.

Por isso que eu prefiro morrer sozinho do que continuar nessa vida com alguém me esperando voltar. Não é papo de covarde não, não é papo de muleque, pra mim ficou claro que esse é o papo mais verdade que já senti na vida.

Alguns meses atrás eu não tinha ninguém me esperando em casa, não sentia que a qualquer momento minha família estaria em risco, não tinha ninguém ocupando o sentimento mais puro e verdadeiro que existe dentro de mim. Hoje eu tenho, e só continuo aqui por causa dela. Continuo tentando por eles, Theo e Anna são minha família e eu vou acabar com isso, acabar com quem quer me tirar deles.

- patrão! - saio dos meus pensamentos ouvindo a voz soar do radinho que estava na minha cintura - então....- nem pego o aparelho, só escuto ele falando. Respiro fundo soltando o ar no minuto que ele da uma pausa e suspira trazendo a pior notícia que tive nessas últimas 24h - o médico falo que ele não aguentou, chegou sem vida

No segundo que escuto as palavras passar pelos meus ouvidos em câmera lenta, sinto o aperto que ele deu na minha mão antes de parar de respirar.

Abaixo a cabeça deixando a lágrima rolar. Porra, ele morreu. Foi a única coisa que passou na minha cabeça, a essa altura ele estaria aqui do meu lado falando várias maneiras de acabar com isso, eu queria meu irmão aqui do meu lado, juro por tudo que eu só queria está escutando ele falando como se não tivesse fim.

Sinto um buraco roubar todo meu ar, meu pulmão parece não sustenta por muito tempo sem a entrada de ar no meu corpo. E como se tivessem arrancando meu peito, porque dói, dói muito. Uma dor que me faz não sentir nada, não consigo sentir nada.

Nenhuma lágrima é suficiente pra aliviar a dor que eu tô sentindo.
Lembro do último suspiro que ele deu ainda nos meus braços. Daniel estava olhando pra mim, suas mãos apertam a minha me trazendo um pouco de esperança, mas após meu nome sair de sua boca, foi o fim.....eu chorei porque sabia que aquela seria a última do meu irmão em meus braços.