Eva

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A serpente surgiu lasciva do meio dos frutos, retorcida entre os galhos emaranhados, disfarçada de rosas e com tal eloquência me disse: — Toma o pomo que Adão, tomei. Coma-o e então completa serás, não somente dele uma parte, da história dele um resquício, do corpo dele um pedaço.

Seus olhos recheados de volúpia, adornados de malícia e perspicácia. Lentamente, mordeu um pedaço e provou, mostrando-me que não havia nenhum problema.

— Vês? Nada a mim aconteceu, — falou de maneira demasiadamente convincente.

— E tem gosto de quê? — Transbordando curiosidade perguntei.

— De liberdade, — lambendo os lábios que não tinha respondeu-me, — uma vez que se prova, não quer nunca mais deixar de comer. Dar-te-ei a chance. Que achas?

E com uma bocada só o pomo engoli. Maça, pêssego e a banana, descendo, cheia de libido pela garganta, profunda. Libertação, liberação, libertinagem. Mas tão breve foi-se e meu seio tornou-se marcado, culpado pela existência do pecado. Acorrentaram-me em Andrômeda, à deriva. Tornaram meus desejos malícias, minha injúria histeria e meu corpo mercado. Venderam minha suposta liberdade como como um convite à a submissão para todas as outras e fizeram da minha maior dádiva um castigo. Tornei-me cativa da minha própria imagem.

Os Versos de OutonoWhere stories live. Discover now