27 - Luna Venturini

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Luna Venturini

Estava exausta depois de ir dormir no meio da madrugada. Percebi que meu marido tem um fogo que o consome de uma forma interessante, algo a se pensar a respeito em outro momento.

Mas o que me deixou feliz foi entender que António está realmente disposto a seguir em frente, sem deixar espaço para aquela meretriz em nosso casamento. Ele podia muito bem esconder que ela tentou entrar em contato. E ser surpreendida com a sua sinceridade foi o que me fez entender que estou no caminho certo com meu marido.

António acordou cedo, na verdade, ele mal descansou. Hoje ele iria aproveitar que o seu tio já havia retornado para a sua casa em Sevilha, para ir olhar as propriedades que o meu sogro nos deixou, por conta disso António decidiu que deviria passar o dia acompanhada da sua tia.

Conheci Cecilia uns dias antes de nossa festa de noivado, gostei muito dela. Ela é um pouco mais velha do que sou, vejo que ela tem uma postura um tanto mais refinado. Creio que seja de alguma família aristocrata da sociedade de Sevilha. Não que a minha postura não tenha uma certa elegância.

Mas olhar para a Cecilia se despedindo de seu marido é algo interessante. Observo enquanto ela se despede de Pedro que apenas sorri e diz que ela deve se divertir. Já o meu marido deve acreditar que sou uma criança, deixando várias recomendações.

Olho para António que ainda me abraça pelas costas, inalando o perfume de meus cabelos e me apertando com carinho, tenho certeza que ele está apenas preocupado de estarmos aqui e que algo aconteça, mas tenho certeza que nada de muito grave irá acontecer.

Afinal, sou a condessa Venturini quem teria coragem de me fazer mal enquanto passeio pela cidade acompanhada da tia de meu marido?

Cecilia se põe ao meu lado e observamos os nossos maridos indo em direção às propriedades que pertenciam ao meu sogro. Olho para a Cecilia e vejo que ela estava entendiada assim como estava, queria pelo menos passear por perto da casa e ver a movimentação que existe na cidade.

Entramos na sala da casa de Cecilia e Pedro, é a primeira vez que venho aqui. Sento ao seu lado e a vejo escolher alguns novelos de lã, via que ela estava tricotando algumas peças para u bebê. Olho para ela com cuidado tentando descobrir se ela já está esperando o seu primeiro herdeiro.

Não quero perguntar, talvez ela não esteja pronta para conversar sobre o assunto, deslizo minhas mãos em meu vestido tentando encontrar alguma chance de sair de casa por algumas horas. Cecilia percebe que não estava muito empolgada em ficar entre as paredes de sua casa, mesmo que ela seja uma excelente anfitriã estava entediada.

Infelizmente não posso ficar andando sozinha principalmente por não conhecer muitas pessoas aqui, sinto um certo receio de que acabe encontrando com aquela mulher e ela acabe fazendo um escândalo na rua. Não seria de bom-tom que o nome de meu marido esteja envolvido com um incidente desse tipo.

António já está preocupado o suficiente com a mensagem que o Rei no enviou, durante essa madrugada ele me disse suas preocupações e agora entendo meu marido ele está certo. Meu sogro tinha algum negócio com o rei e agora com o seu falecimento, ele deve estar querendo saber qual será a postura de António em relação a isso.

Ter negócios com o Rei é algo de muito prestígio, isso se for algo que possa ser comentado na sociedade, porque os negócios podem ser coisas muito obscuras e estou pedindo que não seja nada disso.

— Cecilia? — Digo

A vejo largado as agulhas de tricô e olhando em minha direção.

— O que acha de ir passear um pouco pela cidade, ou de pelo menos ficar um pouco lá fora vendo a movimentação? — Peço quase com um tom implorativo.

Observo enquanto ela começa a rir, acho que consegui a sua atenção.

— Está se sentindo confinada não é mesmo? — Concordo com a cabeça.

— Não é só isso, estou sentindo falta da minha amiga, sempre estivemos juntos e nunca me imaginei separada dela. — Suspiro ao lembrar de Henriqueta.

A vejo confirmar com a cabeça e esticando para poder pegar o copo onde está o seu refresco. Ainda é cedo e já estávamos sentindo um calor enorme.

— Sabe Luna, não nasci em berço de ouro como você, então desde muito pequena me virava sozinha e às vezes minha mãe me ajudava, mas não era sempre. — Fico surpresa em saber que ela não era o que estava imaginando

— E por uma sorte do destino o meu marido ficou viúvo muito cedo e ele achou em mim uma beleza que até hoje não entendo... — A vejo rir e começando a ganhar um rubor nas maçãs de seu rosto.

— Pedro foi até a minha casa e pediu minha mão em casamento, sabia que meu pai jamais se negaria em aceitar o pedido do irmão do conde. — Concordo com a cabeça.

Afinal ela entraria para a Corte de Fernando VII, assim com o meu finando sogro é conde, seu irmão também faz parte da corte do rei, apenas não sei bem em qual posição.

— Pelo menos teria um bom casamento. — Ela termina de dizer.

— Entendo você, imagino como deve ter sido difícil a sua infância. — Digo com carinho.

Estamos vivendo anos conturbados na sociedade espanhola, enfrentamos a abolição da escravatura e uma parte da população pede pelo fim da monarquia. Sempre ouvi de meus pais que se com o rei já existem roubos, com um duzia de homens no poder de tomar decisões para o povo será bem pior.

Com os pensamentos nos conflitos que existem em nossa sociedade tento focar no que Cecilia estava me contando.

— Imagina o escândalo, Pedro tem quarenta e sete anos e eu tenho apenas vinte anos. — Realmente uma diferença bem grande.

Mas já homens bem mais velhos se casando com moças da minha idade, o rei é um que desposou uma plebeia de dezessete anos enquanto ele te se não me engano cinquenta.

— Durante os primeiros meses do nosso casamento todos ficaram ansiosos para que eu tivesse o nosso primeiro filho, com o conselho da minha mãe esperei para poder engravidar e agora decidimos que está na hora de aumentar a nossa família. — Um sorriso surge em seu rosto e a vejo erguer o pequeno casaquinho de tricô branco.

— Então talvez logo teremos crianças correndo pela casa. — Fico feliz em saber que eles já planejam em aumentar a família.

— Minha mãe também me deu o mesmo conselho e o chá de poejo é feito todo santo dia em nossa casa, Izabel tem obedecido à risca o pedido da dona Marilia Marcondes. — Digo e caio na gargalhada.

Cecilia começa a rir, percebendo que nossas mães estão com os sentidos aguçados, diferente de nos duas que não nos importamos tanto assim em constituir logo uma família. Posso realmente ser muito nova, mas estou começando a acreditar que António logo precisará mostrar que tem um herdeiro.

— Adorei conhecer a sua família e desejo um dia chegar na mesma sabedoria que sua mãe tem. — Sinto orgulho em ouvir isso sobre a minha mãe. — Ela tem uma força interior impressionante.

Realmente a minha mãe é uma mulher invejável, tem bons filhos e um bom casamento. Cecilia me olha com carinho e a vejo guardando sua cesta de tricô.

— Vem, vamos à casa de moda, tem uns tecidos que vi na última semana e o Pedro me disse para ir até lá pegá-los para mim. — Ela parece ter se entusiasmado.

Mas agora fico um tanto receosa de ir até a casa de moda, sem que nossos maridos saibam que estamos saindo de sua casa para ir até o outro lado da cidade. Sei qual é a casa de moda que ela frequenta, é a mesma que a minha mãe gosta de ir por não ser tão requisitada.

Porém, ir até o outro lado da cidade pode ser bom, assim verei um pouco do que a cidade pode oferecer caso seja necessário que nos mudemos de Córdoba para Sevilha. Nosso vinhedo e a vinícola rendem um bom dinheiro, mas apenas pelo período do ano quando estamos na colheita.

Depois da colheita, meu pai sempre nos trazia para a cidade, assim como o conde meu pai tem algumas casas de aluguel e é com esse dinheiro que ele nos mantinha até que a colheita recomeçasse no ano seguinte.

A PROMETIDA DO CONDE - EM ATUALIZAÇÂO -Onde histórias criam vida. Descubra agora