Memórias

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KANNA


Fazia o que? 60 ou 70 anos? Não podia mais dizer com certeza.... Em todo caso seria algo tão próximo disso que já não fazia mais diferença. Só que o seu coração... Ele ainda doía como se tudo tivesse se passado ainda ontem... Ah! O drama de uma jovem prometida contra a sua vontade, que resolveu fugir. E pior. Se escondendo em um navio "mercantil" de procedências, no mínimo, suspeitas... O que ela tinha na cabeça!? A juventude e suas insanidades...

- Nós vamos fazer uma fogueira hoje no acampamento. – Kanna informou a neta assim que deixaram Dao para trás e saíram do aposento. – Vou procurar seu pai e pedir para ele reunir todos, mas... – Ela voltou seu olhar para aquelas duas outras figuras. A situação ainda lhe era tão inusitada que parecia uma piada suja de Hotak e seus amigos. "O que o Senhor do Fogo e uma jovem Beifong faziam em um acampamento da Tribo da Água? ". Kanna ainda podia ouvir o fantasma de uma risada precipitada dele, antes de concluir a ideia com uma sordidez qualquer. "Ah, meu querido, sei que não acreditaria, mas hoje eles estão aqui para ouvir a nossa história. " – Vocês dois deveriam ir também. – Ela completou, apressando um pouco o passo.

Lembrava-se de que ao menos havia tomado o mínimo de cuidado. Mesmo depois de vê-los no jantar na casa do Chefe, tinha se dado ao trabalho de rondar o barco por dias, reunindo a coragem necessária enquanto continuava a estudar os marujos. O capitão era um jovem e parecia mais novo que a metade de sua tripulação. Katoh tinha um sorriso fácil, mas um olhar atento. Nenhum erro parecia lhe passar batido, mesmo que algum marujo tentasse o esconder com todo o afinco.

Kanna sabia que ele seria um desafio logo nas primeiras manhãs que passou próximo ao canal do atracadouro. Só que ela notou outra coisa também, seu interesse por ouro. Aquilo seria útil, ela ainda se despunha de todo o seu dote. Mas a maior vantagem veio quando escutou uma conversa acidentalmente. Ouvi-la lhe encheu de medo e lembrava-se de que quase desistiu de tudo. Mas o dia em que se casaria estava se aproximando, se não aproveitasse aquela oportunidade, jamais teria outra.

-Levar? Você? E porque uma jovem da mais tradicional e tediosa cultura do planeta, desejaria viajar com desconhecidos como nós? – Ele lhe perguntara sem parar de empilhar uma série de pesados barris.

-Não lhe diz respeito, senhor. – Tecnicamente falando ela ainda estava sob a tutela do Chefe. O jovem poderia se recusar a leva-la se soubesse disso. - Posso pagar bem, e isso bastaria para qualquer comerciante inteligente, não?

-Humm... – Ele parou e sorriu, a olhando de cima a baixo. - Não para mim, querida. Não transporto cargas suspeitas sem ter a certeza de que elas valham o risco. – Virou e continuou o trabalho.

- Se não me aceitar... – Ela respirou fundo. Não tinha como usar daquele recurso sem soar presunçosa. - Eu conto ao Chefe que vocês não são mercadores da Tribo do Sul.

Livro 4: O Novo MundoWhere stories live. Discover now