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Nota: Esse capítulo possui referência da HQ The Lost Adventures

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Nota: Esse capítulo possui referência da HQ The Lost Adventures. Mas conforme já dito aqui, não é necessário nenhuma leitura prévia destes materiais para a compreensão da história.


ZUKO


Dias e noites eram representados no palco, enquanto uma pequena tripulação de amigos conhecidos usavam uniformes da marinha do Fogo e fugiam da recém conquistada Ba Sing Se, furando bloqueios furtivamente. Mas o ponto mais importante era ela.
Havia um foco de luz em Katara. Ela estava completamente concentrada e nada que acontecia ao seu arredor era capaz de desviar sua atenção. Ela curava Aang enquanto repetia frases a esmo, mais para si mesmo, que iam de “Tudo vai ficar bem! Você vai ficar bom logo!” até “Ele me enganou! Espero que esteja feliz agora! Mas o que estava esperando!? Como pude acreditar nele...!?”.
É... Como?
Então Zuko apareceu em cena, enquanto o núcleo de Katara foi escurecendo. Foi bem recebido em casa, tinha tudo o que precisava e também o que não precisava. Servos e guardas a sua completa disposição. Tudo o que era seu havia sido devolvido.
Mas... Será mesmo que se podia devolver a vida para uma pessoa que já não existia mais? Havia passado tanto tempo idealizando aquele momento, mas havia ignorado o óbvio. O próprio tempo que existiu até ter tudo de volta. Zuko simplesmente já não era mais a mesma pessoa e tudo parecia ter mudado... Alguma coisa ali ainda lhe faria sentido?
Agora em “casa” percebia que a definição da palavra não se aplicava mais aquele lugar e muito menos com aquelas pessoas... Sentia saudades do Tio e vergonha crescente por tê-lo traído, enquanto a ideia de ser recebido por Ozai o enchia de temor e não de alívio ou felicidade.
Talvez fosse tarde demais. Seus olhos já tinham se aberto, e só esperavam que o coração aceitasse a dura verdade. E ela começou a vir por meio de Azula.
Havia uma dúvida no ar. Um pequeno risco. Uma mera e obscura suposição não verbalizada. Apesar de tantas testemunhas, não havia o corpo do Avatar. E se não tinha corpo... Bom, podia não ter morte afinal. Além do mais... Era Katara que o tinha levado.
Então quando finalmente Zuko foi chamado pelo pai, quando finalmente foi receber as suas boas vindas, o perdão e talvez alguma estima dele, veio o golpe.
“Estou orgulhoso por você e sua irmã ter conquistado Ba Sing Se. Por você ter entregado meu irmão traiçoeiro e pela maior de suas conquistas. Matar o Avatar.
...Azula me contou como ficou pasma perante seu poder e sua ferocidade diante a hora da verdade.”
E então, de repente, estava preso novamente em um joguinho sujo da Irmã.
-Ela deu os “créditos” a você? Mas porquê? – Katara questionou curiosa ao seu lado.
- Você não pode imaginar? – A resposta saiu mais amarga do que previra enquanto o Zuko do palco começava a confrontar Azula.
“Você parecia tão para baixo... Eu não precisava dessa glória mas você por outro lado...  Porque está bravo comigo pela minha ação tão generosa, Zuko? A não ser que o Avatar esteja vivo e de repente essa gloria virasse vergonha e tolice...”
- Cara... Que cobra-aranha! Ela é mesmo muito esperta e manipuladora, não é?! – Toph comentou mais displicente do que verdadeiramente indignada abocanhando uma mãozada de flocos flamejantes de um saco que dividia com Sokka.
-E você só viu isso agora? – Zuko bufou.
- Não. Eu vi no segundo que a conheci. Mas me parece que você só viu agora. – Ela o rebateu na mesma acidez, de boca cheia.
Estava irritado. Ver a cena de fora o fazia se sentir um completo idiota. Bufou, outra vez, voltando a se concentrar na peça. Era muito mais complicado que isso, ela não percebia?!
Azula era esperta e manipuladora sim, mas isso foi o que a fez sobreviver tão bem ao covil que era a corte real, diferente de Zuko. E, talvez a verdade fosse que ele ambicionasse ter estas mesmas habilidades da irmã. Mas as desejava tanto quanto as detestava.
Queria mais do que tudo a oportunidade de ter uma relação de confiança com ela. Com ela e, à época, também com o pai. Era isso que sempre o fazia escolher fechar os próprios olhos para todas as tramoias e mentiras. Desde sempre fora assim. Sempre. Até agora. Agora tudo tinha mudado.
Zuko só sentiu que mantinha os braços cerrados com força quando Katara puxou delicadamente sua manga. Relaxando um pouco ao toque gentil dela, deixou que ela o guiasse de volta para a confortável posição anterior, que incluía a enlaçar pela cintura.
No palco Aang finalmente acordava. Ver a cena emocionante dele sendo recebido com verdadeira felicidade e alívio por todos os amigos, e, principalmente por Katara, o fazia ter ainda mais vontade de ter largado toda a sua obsessão antes. Não desejava ter envolvimento algum com a queda do amigo, mas sim ter estado presente em sua recuperação.
Eles cruzaram a fronteira para a Nação do Fogo e sorrateiramente se misturaram esperando a data para executarem um plano de invasão à capital. Um dia que os dominadores de fogo estariam impotentes e suscetíveis. O dia do Sol Negro.
...Mal sabiam que Azula já tinha descoberto sobre a investida e tudo já estava sendo preparado para recebe-la.
A decisão em seguida de Sokka para o andamento da peça, em sua opinião, havia sido a mais assertiva de toda e qualquer uma tomada anteriormente.
Nos primeiros atos haviam sido abordados muito dos resultados negativos que a exploração e que a guerra promoveu pelo mundo a fora. Mas, apesar de chocante, toda a exposição ainda era muito fora da realidade e provavelmente fora da verdadeira compreensão de muitos dos presentes. Além do que, o persistente tom de crítica poderia estar começando a irritar mais do que envolver o público com o qual estavam lidando.
Mas agora o  direcionamento havia mudado... A Nação do Fogo era a terra foco da vez. E aquele cenário, a rotina, os arquétipos e os clichês que iam sendo apresentados faziam parte intrínseca de sua cultura e começava a despertar o sentimento de familiaridade e nostalgia do público.
- Por acaso o Aang realmente se matriculou em uma escola aqui na Nação do Fogo? – Questionou surpreso para Katara. - E... Deu uma festa escondida com dança para os colegas de classe!?
-Ahh sim. E foi uma senhora festa com dança! Hahaha...
O sorriso dela também o fez sorrir. Era claro que era sério, afinal era de Aang que estavam falando.
De forma descontraída começou-se a explorar as consequências de uma política rígida, de culto a imagem, cheia de opressão e censuras que seu pai promoveu para com seu próprio povo e em sua própria terra... Isso sim podia trazer certos questionamentos desejáveis...
- Mas depois o Sokka ficou com essa barba colada na cara por semanas... Foi nojento. Além de nos meter em muitas outras furadas... - Katara continuou enquanto o cenário do palco foi rearranjado para uma típica arena de treinos militares.
“Aang, você não aprendeu nada sobre a Nação do Fogo enquanto estava matriculado na escola a não ser que as crianças precisam repetir um juramento bobo todos os dias e que, por algum motivo estranho, são proibidas de dançar...! Acredita em mim, me infiltrar no exército da Nação do Fogo será a melhor maneira de realmente entender como funciona a cabeça desses idiotas!”
-Como é que é?! – Zuko se virou, agora realmente pasmo com o que via. -Você se passou por um soldado no nosso exército?!
-Éh éh... -Sokka confirmou displicente, remexendo o fundo do saquinho, catando as migalhas dos flocos quentes que, por ventura, haviam sobrevivido a Toph. - Foi só por um par de dias.
- É. Mas foi a pior das ideias enquanto estivemos escondidos aqui... – Katara levou a mão na testa em um profundo lamento. - E quando ele precisou escapar do campo de treinamento, fingiu que ia entregar a gente e orquestrou a própria morte em um deslizamento de terra causado pela Toph.
-Ei! Foi uma excelente atuação! – Sokka reclamou. – E realmente foi mais útil e esclarecedor que o período do Aang na escola.
-Não, não foi não. - Katara rebateu.
- Hahaha! Será que eles mantém o memorial de morte ao bravo Soldado Fogo até hoje? – Toph riu alto
- Se por acaso mantinham, agora  com a peça, certamente vão transformar em um memorial de ódio ao bravo Soldado Fogo. – Katara retrucou ainda em tom repressor.
Bom, aquilo era verdade. Seria uma grande ofensa as forças militares saberem que foram enganados dentro de seu próprio domínio, e que o espião estava solto. Livre e fazendo piada com o assunto.
-Umph...! Com certeza isso vai deixar os generais furiosos... – Suspirou cansado. Era melhor Zuko começar a preparar o ouvido para o fim daquele ato...
-Ahh tanto faz. Não teve nada haver com o seu governo, isso foi no tempo de Ozai. E é bom para seu pessoal saber que seu pai não tinha tudo tão sob controle, como todos por aqui gostam de pensar. – Sokka rebateu dando de ombros. - E, além do mais, todo mundo sabe que infiltrados são uma estratégia básica de guerra...
Bom... Infiltrados. É, aquele argumento tinha sua validade. Zuko mesmo estava em uma posição antagônica, prestes a se utilizar da tática, enquanto também se preocupava em estar sofrendo por ela.
Mais um episódio que envolvia escolas era discorrido no palco. Sokka havia se disfarçado para comprar comida, mas infelizmente a fantasia escolhida se assemelhava muito há um suposto professor substituto de uma pré escola local.
“É, talvez agora eu esteja entendendo o porque dos adultos precisarem disciplinar tão bem vocês, seus pestinhas!”
O teatro ria em uníssono quando um moleque particularmente agitado arrancou o bigode falso de Sokka e saiu correndo.
- É, Sokka... Eu vou precisar concordar com sua irmã. Suas ideias para se misturar e infiltrar em uma nação inimiga, não foram das melhores. Hahaha...! – Suki também ria alto.
- Tudo bem, tudo bem... As minhas ideias e as do Aang podem não ter sido das melhores, mas isso é porque não viram a ideia da Katara de “se misturar e não chamar a atenção”... – Sokka fez um breve mistério, mas Toph se pôs a rir.
- Hahaha! Você fala sobre a parte de explodir uma fábrica de armas do exército da Nação do Fogo, fantasiada de espírito do rio? – A menina perguntou provocativa, arrancando uma carranca de Katara.
No palco, um pobre vilarejo ribeirinho foi apresentado. Com águas poluídas por uma grande e fumacenta construção em seu leito acima.
“Poxa...! Me diz Sokka, agora que fez parte do exército e conhece tão bem a cabeça do inimigo, eles são mesmo tão loucos pela guerra que estariam dispostos até a destruir a própria terra e o próprio povo por causa dela?” Uma Katara chocada questionou teatralmente ao irmão.
“Bom... Na verdade acho que estariam sim.” – O Sokka do palco a respondeu com simplicidade.
“Mas isso é terrível! Mesmo eles sendo da Nação do Fogo, não podemos deixar essas pessoas sofrerem assim! Precisamos fazer alguma coisa!”
- Porquê estão rindo?! Eu nunca disse que ajudar a vila era para tentar me misturar ou me infiltrar em alguma coisa. Eu fiz isso porque era o certo.  – Agora era Katara que cerrava os braços.
-Ahh sim. Claro. Mas se a gente não tivesse descoberto seu complexo de salvadora e te ajudado, a vila estaria completamente perdida e você também. – Toph replicou, enquanto no palco uma luta começava. Katara se passava pelo espírito guardião da vila, encoberta pelo resto do time Avatar. - Se não pelos soldados que irritou, estaria pelas forquilhas dos  aldeões que você salvou.
Demorou alguns segundos para Zuko entender completamente do que falavam. Mas assim que a batalha foi vencida os aldeões reconheceram Katara e se voltaram contra ela, agora entendendo que se tratava de uma dominadora de água fantasiada.
- Mas não foi assim. E eu faria tudo de novo se precisasse. Não foi atoa que a própria Dama Pintada apareceu para me agradecer! – Ela amarrou ainda mais forte os braços.
-Bom... Eu achei bem nobre de sua parte. - Zuko confidenciou baixinho.
-Obrigada! – O humor de Katara mudou subitamente. Ela deixou um meio sorriso nascer, corando para ele. Poderia existir sensação melhor?!
- Ahh Katara... Você e sua fixação em ver espíritos depois de passar 3 noites mal dormidas... – Sokka pareceu não perceber a intromissão, suspirou cansado para a irmã fazendo Toph voltar a gargalhar.
Mas no palco, foi Sokka quem interviu primeiro junto aos aldeões, seguido imediatamente por Toph. Protegeram Katara enquanto ela se desculpava por ter enganado os moradores. E, em seguida, lá estava ela. O espírito, que Sokka não acreditava existir, agradecendo Katara pelo trabalho realizado.
A cena fez Zuko sorrir para si mesmo. Não havia como sustentar a irritação. Apesar de toda a diferença entre eles e toda a constante implicância, se amavam e se protegiam sempre. Isso é o que deveria ser uma família, certo?! Isso era o que sempre havia lhe faltado... O que sempre esteve a procura. O que não tinha com Azula... Katara tinha com Sokka. E era tão precioso...
- “Ahhh Sokka...!” Digo eu! – Katara quase rosnou ao irmão. - E você não devia estar rindo Toph! A sua versão de “se infiltrar” foi se tornar “A fugitiva”, já se esqueceu? E atrair o Homem combustão até a gente!
Ao ouvir o “nome” do assassino que havia contratado para eliminar Aang, a aura de encanto  subitamente se rompeu e Zuko voltou a se aborrecer. Mas aparentemente essa atitude covarde de seu passado foi mais um dos itens eliminados pela ‘liberdade poética’ de Sokka.
Ao invés disso, assistiam apenas mais uma bem coreografada luta, agora com espadas. Uma homenagem digna ao Mestre Piandao e sua filosofia.
- O Sokka pode não ter mencionado, mas eu jamais esqueceria! Foi mesmo muito divertido! E não tenta se abster de culpa, Katara, o golpe em que o Homem combustão nos pegou foi sugestão sua! -Toph rebateu, acusadora.
-Ehh... Eu sei. – Zuko observou um rubor tomar Katara novamente, mas agora diferente do que ele havia causado. Ela se encolheu ligeiramente envergonhada. - Me desculpa.
- Mas, mesmo com o risco, assim como você, eu não me arrependo de nada. O dinheiro que ganhei dos trapaceiros foi suficiente para financiar mais da metade dos recursos necessários para a invasão no dia do Sol Negro. -Sokka assentiu em concordância ao lado. - Só que eu acho melhor a gente parar por aqui. O seu burburinho está fazendo o camarote chamar mais atenção do que o palco lá em baixo. - Toph completou enquanto espalmava as mãos na arquibancada, observando melhor.
-Bemm... – Zuko dirigiu rapidamente a atenção para frente. - Realmente devíamos nos acalmar. Mas acho que essa atenção não é por causa do burburinho...
No palco uma lua cheia tomava o céu e uma velha dominadora de água aparecia em uma floresta sombria. Katara se enrijeceu.
- Eu ouvi falar que a Hama voltou. – Sokka cochichou, lançando olhares desconfiados ao redor, como se a menção da mulher pudesse fazê-la se materializar ao lado deles.
Na peça ao menos, assim era retratado. Ela aparecia e desaparecia, como uma bruxa, sempre pegando todos de surpresa, até mesmo a Toph.
- Sim. Ela voltou. E todo mundo sabe. De tudo. – Zuko viu o longo olhar triste que Katara lançou ao público curioso, mas que foi morrer na avó, mais ao fundo do camarote.
Hama contou sua história, como foi capturada e os horrores que passou. Conquistou a confiança e a admiração de Katara, e, por fim, pediu para ser sua mestra.
As técnicas eram criativas e impressionantes, mas Katara as dominava rápido, assim como havia sido quando estudava com Pakku. E então por fim veio a proposta. Uma técnica de dominação que ela própria havia criado e que  ninguém mais conhecia... Uma técnica muito avançada performada apenas durante a lua cheia.
“Entrar em alguém e controla-lo ?! Eu acho que não quero esse tipo de poder...” Katara hesitou perante a mestra.
“Não é uma questão de escolha Katara. O poder existe e é o seu dever usar seus dons para ganhar essa Guerra. Precisa combater essas pessoas, onde elas estiverem do modo que for necessário. Olha o que eles fizeram conosco... O que fizeram com a sua mãe! ...Você tem que continuar com o meu trabalho...”
“É você que está atacando as pessoas dessa vila!” Katara finalmente deduziu.
“Sim. Eles tiraram tudo de mim e agora estão pagando...! Eles merecem o mesmo!”
“Eu não vou seguir seus passos! E não vou permitir que continue atacando inocentes!”
“Realmente está disposta a lutar comigo por causa deles?”
A resposta de Katara não podia ser mais direta. Com um ataque direto a batalha começou feroz.
Katara contra sua mestra foi diferente de Katara contra Pakku. O publico não explodia em uma torcida barulhenta, mas eram uma massa tensa, olhos vidrados que subitamente eram tampados a cada ataque que a velha disferia em Katara. Unhas foram roídas quando o corpo de Katara foi tomado. E brados abafados e ofegantes quando ela superou a dominação e se libertou, atacando e vencendo Hama.
Então Aang e Sokka apareceram e tudo se perdeu. Hama entrou nos dois e fizeram eles atacarem Katara. Ela quase brincava com a pupila, Katara não podia revidar sem machuca-los, apenas se mantinha desviando, o melhor que podia. Ainda assim a velha não estava satisfeita.
Ela pôs os dois meninos para se atacarem e faria eles se matarem, bem na frente de Katara... Lágrimas rolavam do rosto da atriz quando ela gritou “Não!” e uma completa quietude pairou não só no palco como também na plateia. Hama foi tomada, perdeu o controle que exercia em Aang e Sokka, e lentamente foi caindo de joelhos obedecendo agora a Katara.
A população foi salva, Hama, presa e o público pôde respirar novamente.
- Eu não consigo entender o seu medo, sabe?! – Zuko procurou os olhos dela. Assim como os da atriz, os de Katara também estavam marejados. - Tudo o que você fez até agora foi ajudar as pessoas... Mesmo que não as conhecessem, e até mesmo elas sendo de um povo que foi tão cruel com você e com os seus ... Você não poderia ser mais diferente da Hama. – Completou com sinceridade.
Ela abriu um sorriso frouxo, suspirou infeliz, mas pousou a cabeça em seu ombro.
A floresta escura havia sido substituída pela sala do trono. Zuko participava de uma reunião de Guerra, da mesma forma que havia feito há tanto tempo atrás. Ele havia mudado, agora ficou apenas escutando, falou apenas quando seu pai se dirigiu a ele, e disse apenas o que Ozai gostaria de ouvir.
Bom, ele havia mudado, mas o Senhor do fogo e seus subordinados, certamente não. E muito menos havia mudado a ambição que ambos compartilhavam. O plano horrendo foi traçado: Usar o cometa Sozin para queimar o tanto quanto pudessem do Reino da Terra. Campos, florestas, homens e animais seriam reduzidos a pó e quem restasse ao final seria quebrado e finalmente se renderia perante a ferocidade da Nação do Fogo.
Mas as vítimas seriam pessoas que Zuko agora conhecia. Viveu entre eles. Comeu e dormiu abrigado por eles... Conheceu as dores deles. Sua posição de Príncipe naquela horda de terror e o reconhecimento de um tirano, valeria mesmo seu silêncio?! Valia virar as costas para aquela atrocidade?! Mais um golpe da verdade lhe era dado com força.
Zuko não conseguia mais não ver e ficou difícil também não falar. Azula, Mai, Ty Lee, as pessoas mais próximas dele na corte começaram a perceber.
“Estou com raiva de mim mesmo! Não sei mais se sei diferenciar o certo do errado!” Ele explodiu.
Explodiu e foi na calada da noite buscar pelo tio. Precisava desesperadamente se abrir e ele seria o único que realmente o ouviria e o ajudaria a entender...
Foi doloroso o ver naquela situação. Doloroso e vergonhoso ver Iroh acorrentado e negligenciado em uma cela escura por conta de sua traição em Ba Sing Se. Mas o tio não deu atenção a isso.
“Existe uma luta dentro de você sobrinho. Você é bisneto de Sozin, sim... Quem deu início a essa era de terror. Mas o que não te contaram é que o avô de sua mãe foi ninguém menos que o Avatar Roku. O bem e o mau disputam o seu coração, mas cabe a você escolher e decidir o futuro do mundo. O poder de resolver essa Guerra reside em você assim como no Avatar.”
Sim. O poder residia nele. O futuro residia nele. Mas até então não tinha os tomado nas próprias mãos. Permitia que o pai lhe controlasse, que o contivesse e ofuscasse seus desejos e a sua própria visão de grandeza.
Era mais do que tempo disso acabar.
Acordou cedo no dia seguinte. Juntou suas coisas e fez seus preparativos. Depois seguiu para o bunker, como era a ordem geral para a data. Era o dia do Sol negro, e seu pai seria obrigado a olha-lo como um igual, mesmo que por alguns minutos.
A ilustração bem trabalhada de uma lua estava evidenciada, pendurada muito próxima ao Sol, e se encaminhava lentamente para sobrepô-lo. Zuko parou e voltou sua atenção brevemente para o evento.
“Hoje você encontrará com o sol. Hoje o dia também será seu e não só apenas dele. Hoje o destino está os unindo nos céus, mas também começará nos unir em terra... Espero que você possa me guiar nesse novo caminho, assim como a guia desde sempre.”
Com essas palavras seguiu em frente. A invasão começou, um dos generais entrou por último no local trazendo a informação, antes de que as portas fossem seladas. Ao lado de fora o batalhão de aliados e Aang avançava em direção ao palácio. Lá dentro Zuko entrou na sala privativa do Pai.
“Eu vim te contar a verdade.” Começou a explicar quando foi questionado. “Não fui eu a derrotar o Avatar. Foi Azula. Ela mentiu porque ele não morreu. E enquanto você se esconde aqui e deixa homens melhores morrer por você, ele está liderando essa invasão agora mesmo.”
A raiva cresceu nos olhos do Senhor do fogo, Zuko se lembrava bem. Ele não esperava que um dia pudesse ser enganado por Azula, afinal.
“Saia já da minha frente se sabe o que é bom para você!” Bradou forte e Zuko percebeu que mesmo sendo uma mera peça de teatro, todo o público se contraiu temerosos frente a ira de Ozai.
Zuko sacou suas espadas e o público exclamou estupefatos. “Você vai me ouvir”. Ozai contraiu os lábios com força, mas tornou a se sentar. “ Eu perdi tantos anos apenas tentando te agradar... E quase perdi a mim mesmo no processo, Senhor do Fogo Ozai... Honra foi apenas um nome para a promessa de amor que um filho uma vez desejou receber do pai. Mas hoje, como um homem, consigo admitir a realidade e aceitar que você é incapaz de tal sentimento. Você só conhece a sede por poder, e nessa mesquinhez traiu e perdeu todos que um dia poderia ter te amado. Seu pai, seu irmão, a minha mãe, eu e, talvez até Azula à seu tempo.
“...Eu tinha 13 anos! Você consegue perceber o quão ridículo e cruel é para o Senhor do Fogo desafiar uma criança para um Agni Kai?! E por qual motivo foi isso?! Falar fora da vez?! Por defender nossos homens de um plano suicida?!”
“ Zuko... Nada poderia me dar mais vergonha do que você e esse seu sentimentalismo barato...! Você não aprendeu nada mesmo não é?”
Ozai colocou uma máscara de gélido desinteresse. Pegou uma xicara que tinha ao lado e bebericou.
“Ahh eu aprendi. E tive que aprender tudo sozinho...! E sua opinião não me afeta mais. Não depois de entender o que você é de verdade. Mas, você gostando ou não, eu sou seu filho, e como herdeiro, eu sou o futuro da nossa Nação.  E hoje eu estou aqui para assumir uma responsabilidade e te prometer, pai, não vou permitir que o mundo se destrua e que continue se afundando em guerras sem propósito, sangue e sofrimento.”
“Hahaha! Você jamais conhecerá a grandeza de se sentar no meu trono, Zuko. É fraco de mais! Sempre foi. E o meu mundo não precisa de alguém assim.”
“Seu mundo... É inacreditável! Eu ví como é lá fora! Você me fez ver! E talvez por isso eu precise te agradecer afinal. Não dividimos grandeza alguma. Com ninguém. O mundo nos odeia e eles tem toda a razão para isso! Plantamos uma era de terror, mas eu vou trabalhar até o fim dos meus dias para construir uma era de paz, equilíbrio e prosperidade.”
“Ahh é mesmo?! E como pretende fazer isso?”
“Vou pedir perdão ao meu tio na prisão e em seguida vou me unir ao Avatar.”
“Ótimo. Aprenda a fazer chá e a fracassar. Hahaha! Mas como agora é um traidor declarado porque não me ataca? Estamos afinal em um eclipse e você tem as espadas.”
“Porque eu conheço meu destino e derrota-lo é destino do Avatar.” Zuko embainhou as espadas e deu as costas ao pai.
Mas Ozai não parou de falar e se Zuko do palco tivesse sido um pouco mais atencioso teria visto que seus minutos de igualdade perante o pai haviam acabado. A lua começou a dar espaço ao Sol novamente.
“Hoje eu vejo que o banimento foi misericordioso de mais para você. Seu castigo por me desafiar deveria ter sido muito mais severo...”
“Até mais, Pai.”
Faltava poucos passos para Zuko deixar de vez sua antiga vida quando sentiu o que as últimas palavras de Ozai realmente significavam. A luz mudou. Estalos altos tomou conta do aposento. A súbita estática fez os cabelos de Zuko se arrepiarem.
Foi o tempo exato de se virar. Um segundo a mais que precisasse para entender, não teria dado mais tempo. O pai o atacara novamente. Um raio. Pelas costas. Isso não dava mais margens a interpretações. O queria morto. E a partir de agora o mataria com as próprias mãos, sem nenhuma hesitação.
Zuko absorveu. O raio e a constatação. Eles desceram amargos para seu estômago, mas então, respirou fundo os liberando de dentro de si.
Ozai foi atirado para traz com toda a força que havia posto em seu próprio golpe e Zuko finalmente pode partir.
-Isso realmente aconteceu, não foi? Ele realmente tentou...? – Katara estava com os olhos marejados mais uma vez e era audível a dor que sentia através de sua voz.
-Sim. Tentou.
-Oh, Zuko... Fico feliz que ele não tenha conseguido. – Ela se apertou mais nele, escorregando a cabeça por seu ombro até que tivesse o rosto escondido em seu peito.
- Eu também. – Tinha valido a pena, não tinha? Romper com Ozai e se aliar a Aang. Se aliar a Katara...
- Você merecia coisa muito, muito melhor do que Ozai, ou Azula na sua vida...- Ela murmurou abafada, contra seu peito. Zuko sorriu fechando seu braço mais forte nela.
-Mas eu encontrei algo melhor, minha Lady. Muito, muito melhor. – Ela desencostou dele brevemente o encarando nos olhos.
Zuko viu um meio sorriso, agora verdadeiro, iluminar o rosto dela. É assim era melhor. Muito, muito melhor...!
Fora do Bunker, o plano covarde da coroa se esconder durante o eclipse, tinha dado certo. O grupo invasor não havia completado seu objetivo e com a dominação de volta agora estavam cercados. Uma escolha foi feita. Adultos se entregaram e foram presos e os mais jovens escaparam com Aang em Appa.
Zuko, mais uma vez, poe-se atrás do Bisão, mas agora seu objetivo não era perseguir o Avatar e sim segui-lo.


KATARA

Livro 4: O Novo MundoWhere stories live. Discover now