Capítulo 01

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— Chay, a Segunda Família vai se reunir em casa hoje à noite, vamos comemorar a junção das duas, você quer vir? — Perguntou Porsche para seu irmão mais novo enquanto limpava um dos espelhos da moto.

— Obrigado, Porsche, mas eu tenho que ajudar a Yok no bar. Aproveite por mim, quem sabe na próxima.

— Você me lembra muito o irmão do Kinn.

— Tankhun?

— Não, o Kim. Ele também não se junta com o restante da família em ocasiões como essa.

Fazia algum tempo desde que o mais novo ouviu aquele nome e nem mesmo havia pensado no dono dele. Aos poucos ele o via desaparecer. Porchay o via sumir e tudo que lhe restava eram alguns pequenos fragmentos de memórias passadas e distantes.

Mas, quando alguém citava seu nome ou ele mesmo se permitia lembrar, era como um soco tomado no meio do estômago que por minutos nos faz perder o ar.
Ele sentia tanto por não dizer a verdade a Porsche. Sentia muito por não dizer o motivo real pelo qual evitava tanto a Casa Principal. O motivo de todas as desculpas esfarrapadas e mal dadas.

— Eu tenho que ir, fecha tudo quando sair?

— Eu posso te levar até o bar, você vem?

Porchay subiu na garupa da moto e agarrou forte a cintura do irmão. Seus pensamentos estavam longe agora, estavam perdidos nas lembranças de outra pessoa.

Porsche tinha uma nova moto, uma Ducati azul dada pelo Kinn como presente de noivado e Porchay havia herdado a antiga "red", assim nomeada pelo Porsche. Foi um presente por finalmente morar sozinho.

Chay ainda não sabia pilotar e ela permanecia intocada na garagem de casa esperando o momento em que uma onda de coragem o invadisse e Porsche o ensinasse.

O bar já estava aberto quando os dois chegaram e logo entraram naquele lugar completamente escuro e que passava a estranha sensação de que sempre era noite.

— Porsche! Que bom te ver de novo!

Disse Yok ao ver Porsche passar pela porta do bar sendo seguido pelo menino Chay.

— Yok! Te trouxe algumas coisas, presentes do Kinn.

— Oh, ele está tentando me comprar de alguma forma com essas... oh...

O tom de surpresa na voz de Yok era nítida depois que retirou uma garrafa de Uísque importado de uma sacola bege com o brasão da Família Principal marcado nela.

— E então, Yok, o que estava dizendo?

Se tinha uma coisa que Porchay fazia muito bem era brincar e mexer com Yok. Seu pavio era curto, mas ela o aguentava como também aguentou Porsche por muito tempo. Então ele perguntou segurando o riso enquanto ela analisava a garrafa.

— Nada, nada. Diga a ele que estou agradecida!

— Chay, se precisar de alguma coisa, qualquer coisa, por favor, me liga, tá bom? Se algo estiver errado, pode me ligar. Tem certeza que não quer que eu contrate um guarda-costas pra cuidar de você e te ajudar no bar?

— Porsche, eu tô bem, e eu tenho a Yok.

— Yok? — perguntou sorrindo — Yok vai te ajudar?

Bem lá no fundo Porsche sabia que Yok morreria pelos dois ali presentes, ele confiaria a sua vida e a de Porchay à ela.

— Os meninos vão! E Porchay está quase tão popular quanto você, você acha que deixarão fazer algo com o Barmen querido?

— Quanto eu? Em que sentido?

— Em todos. As meninas sempre chamam ele, virou uma mini versão do irmão.

Os olhos de Porsche brilhavam ao ver Yok falar de seu irmão. Porsche era protetor e estava distante nos últimos meses, mas quando se tratava de Chay, seu coração era bobo e cheio de alegria.

— Porchay!

— Não precisa se preocupar, ele não é você.

— Melhor assim. Cuida dele, em?

— Eu sei me cuidar, Porsche.

Com um beijo na bochecha, Porsche se despediu de Yok e ela se retirou indo guardar sua bebida importada que ela nunca beberia, na última prateleira do bar.

— Porsche, espera.

Quando Porsche saiu do bar Porchay o seguiu. Ele sentia que precisava falar com Tankhun sobre a última conversa que eles tiveram da última vez que ele estive na Casa Principal.

— Tudo bem, Chay?

— O Tankhun está em casa? Preciso muito falar com ele.

— Creio que esteja, mas ele disse que viria aqui essa noite, você pode ir comigo ou falar com ele à noite.

— Eu saio às 19hs hoje, tem como pedir pra ele vir um pouco mais cedo? Tenho algo a perguntar.

— Tudo bem, eu peço. Se cuida, me liga qualquer coisa.

Porsche o abraçou forte e saiu com sua moto que fazia um barulho enorme conforme se afastava do bar.

Mesmo depois de tanto tempo que Porchay tentou se enganar não sentir mais nada pelo Kim, ele ainda sentia, é claro que sentia...
Não havia um dia sequer que ele não pensasse no que o Tankhun falou, no que Kim havia feito, não havia se quer um dia!

Ele se lembrava nitidamente do que havia acontecido dias antes daquilo.
Aquela manhã pareceu apenas destravar todas as coisas ruins que vieram em seguida.

Naquela manhã, uma única palavra de Kim seria suficiente para mudar o rumo de um história.

A campainha tocou no momento em que Porchay acabará de servir o café da manhã para Kim e ao atender foi surpreendido por homens encapuzados.

O que teria acontecido naquela manhã se Porchay tivesse conseguido alcançar Kim que estava sentado na cadeira em sua cozinha?
Seu tutor teria se afastado naquele dia ou ele não teria coragem? Porchay não sabia os motivos de Kim, e isso foi o que tornou tudo mais doloroso...

Quando estava na Casa Principal, Tankhun havia mencionado o fato de Kim ter tentado ajudá-lo no armazém, foi ali que ele descobriu toda a verdade. Ele teria descoberto de outro jeito?

— Chay? Tudo bem?

— O que?

Porchay estava totalmente perdido nos pensamentos do Kim quando Yok o chamou. Ele tinha tanto a pensar agora que se permitiu de vez lembrar. Seu peito estava voltando a ficar apertado de novo. Suas mãos estavam trêmulas e ele estava pálido.

KimChay: Por Que Você Não Fica? Where stories live. Discover now