Capítulo 11

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Porchay

Conforme os dias passavam, a ânsia pela volta para casa aumentava dentro de Chay.
Mesmo que ficar na mesma que com Khun, Arm e Pol fosse divertido e eles fizessem seus dias ali dentro serem únicos, ele só queria estar em casa. Queria poder ficar sozinho e sentir as coisas que não poderia sentir estando ali.

Por vezes Porchay queria poder voltar no tempo. Voltar para aquele tempo em que ficar esperando Porsche chegar em casa depois do longo dia de trabalho e passar seu pouco tempo com ele era sua única preocupação. Voltar para quando era só ele e Porsche.

Chay sentia falta da única coisa que lhe restava, seu irmão. Ele queria mais do que nunca um abraço dele. Queria que ele estivesse ali e dissesse que tudo ficaria bem enquanto ele chorava com a cabeça encostada em seu ombro, mas para Porchay, Porsche andava ocupado demais ultimamente.
A mesma rotina todos os dias estava sugando suas energias.
Ficar no quarto dia após dia vendo o mundo passar janela à fora era solitário. Vê as pessoas vivendo suas próprias vidas enquanto ele estava preso em um quarto que não era o seu.
Ver desde os jardineiros emoldurando as árvores durante as manhãs frias e intermináveis, até os postes serem acesos durante as noites silenciosas e desertas.
Porchay queria sair e sentir a brisa noturna que o vento trazia para os jardins da mansão.
Ele andava de um lado para outro vendo os dias passarem devagar quando estava sozinho e o via acelerado quando estava na companhia de Tankhun e dos meninos.

Porsche acompanhava seu irmão todos os dias, mas logo tinha que voltar para ajudar Kinn com os negócios, negócios que Chay não estava interessado em saber.

Aqueles livros trazidos por Porsche alguns dias antes permaneciam intocados em cima do criado-mudo. Algumas vezes ele folheava as páginas buscando algo que conseguisse prendê-lo na leitura, mas nunca chegou ao final delas.

Mesmo com toda confusão acontecendo ali dentro ele queria dizer que estava feliz pelo Porsche estar bem.
Todas as coisas que ele podia fazer dentro do quarto ele já havia feito, estava entediado. Passava horas do dia encarando a tela bloqueada do celular enquanto milhares de pensamentos enchiam sua cabeça e surgiam a mil por hora, ela doía sem parar.

Incontáveis vezes durante os últimos dia Porchay desejou Kim. Ele o via onde quer que olhasse, a saudade parecia ser maior ali.

"Queria poder deitar em seu peito e ouvir seu coração bater suavemente e desacelerado enquanto estaríamos deitados no sofá como naquela manhã... Queria te pedir para ficar mais um pouco, você não precisaria ir, lá fora estaria gelado. Queria que ele estivesse aqui..."

Porchay sentia falta de Kim, mas ele não podia saber que o garoto também sentia sua falta, todos os dias.

— Porchay?

A voz do Tankhun soou atrás do garoto que o encarou quando o ouviu. Já estava escuro lá fora e era isso que Porchay observava de forma desligada atráves da janela quando Tankhun entrou no quarto. Khun estava ali para checar se o garoto estava bem, pois não havia retornado suas ligações e nem havia respondido suas mensagens. Chay não saía do quarto desde que havia chegado na Casa Principal, a tristeza estava nítida naqueles olhos castanho-escuros.
Encarou seu celular e viu a tela acesa ele estava silencioso e tinha chamadas e mensagens na tela de bloqueio. Ele se desculpou com Tankhun com uma voz baixa e falha, era quase inaudível.

Os olhos de Chay entregaram tudo ali, Tankhun havia notado a difereça em seu tom de voz e viu os olhos de seu menino brilharem, mas com muito esforço Chay conseguiu segurar o choro mesmo com seus olhos ardendo muito. Khun insistiu mais uma vez achando que alguém ou até o próprio Kim havia feito algo para Porchay, mas o menino o tranquilizou voltando a afirmar que estava bem, com um sorriso fraco em seus lábios ele disse que se juntaria a eles para o jantar.

É claro que Tankhun não acreditou nas palavras vazias de Porchay, mas respeitou seu espaço. Naquela tarde Porchay havia retirado a sua bota de gesso e aquela ideia louca de jantar junto aos outros era furada, era apenas uma desculpa para sair do quarto e por dentro dessa desculpa esfarrapada havia uma outra.

Porchay queria apenas respirar um ar diferente, além daquele em seu quarto e também queria se sentar sozinho na grama do jardim enquanto observava tudo ao seu redor. Mas para isso ele preferiu avisar a Khun onde queria ir.

— E você ainda pergunta?! Bom, pelo menos você pergunta, Porsche só ia. É claro que você pode ir até o jardim. Nós não te obrigamos a ficar só no quarto, Porchay. Se é medo de ver Kim, não se preocupe, ele não vai aparecer hoje.

— Na verdade, hoje eu só quero ficar um pouco sozinho, se não se importa.

— Porchay! — Khun gritou e bateu o pé no chão — Você fala como se tivéssemos comprado você para ficar aqui e viver sobre nossas regras. Você pode fazer o que quiser. Vamos descer e jantar e você pode ir para onde quiser!

Eles desceram até a sala de jantar onde estava Porsche e Kinn e eles o olharam e Porsche recebeu seu irmão com um belo e largo sorriso. Porsche tentava incluir Porchay nos assuntos para que o mesmo não se sentisse sozinho. Enquanto Khun sentava na cadeira a frente de Porsche, Porchay perguntou sobre Arm e Pol que jantavam na cozinha aquela noite e Kinn o respondeu.

— Se me dão licença, eu vou me juntar a eles.

Kinn e Porsche o olharam sem entender, mas Khun concordou pois sabia o que o garoto realmente queria.

A noite do lado de fora da casa estava fria e o céu estava coberto por uma neblina densa.
Porchay caminhou até uma parte afastada e mal iluminada do jardim e sentou na grama abraçando os joelhos enquanto olhava as árvores balançarem com os ventos.

KimChay: Por Que Você Não Fica? Onde histórias criam vida. Descubra agora